Genialidade de uma alma humilde e apaixonada

Iniciando a exortação apostólica C’est la confiance (CC 1-11), o Papa Francisco nos propõe a confiança – característica de Santa Teresinha – no amor misericordioso de Deus, que se desdobra em sua alma missionária.

C’EST LA CONFIANCE et rien que la confiance qui doit nous conduire à l’Amour – só a confiança e nada mais do que a confiança tem de conduzir-nos ao Amor” (Carta 197à Irmã Maria do Sagrado Coração, 17/set/1896)*.

Essas palavras tão incisivas de Santa Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face dizem tudo, sintetizam a genialidade da sua espiritualidade e seriam suficientes para justificar o fato de ter sido declarada Doutora da Igreja. Só a confiança e “nada mais” … Não há outra via que devamos percorrer para ser conduzidos ao Amor que tudo dá. Com a confiança, a fonte da graça transborda na nossa vida, o Evangelho faz-se carne em nós e transforma-nos em canais de misericórdia para os irmãos.

É a confiança que nos sustenta cada dia e nos manterá de pé diante do olhar do Senhor, quando nos chamar para junto de Si: “Na noite desta vida, aparecerei diante de Vós com as mãos vazias, pois não Vos peço, Senhor, que conteis as minhas obras. Todas as nossas justiças têm manchas aos vossos olhos. Quero, portanto, revestir-me com a vossa própria Justiça, e receber do vosso Amor a posse eterna de Vós mesmo” (Oração 6, Oferecimento de mim mesma como vítima de holocausto ao amor misericordioso de Deus, 09/jun/1895).

O Nome de Jesus cadenciou continuamente a “respiração” de Teresa como ato de amor, até o último respiro. Na sua cela, gravara estas palavras: “Jesus é o meu único amor”. Foi a sua interpretação da afirmação culminante do Novo Testamento: “Deus é amor” (Jo 4, 8.16).

Como sucede em todo o encontro autêntico com Cristo, esta experiência de fé chamava-a para a missão. Teresa pôde definir a sua missão com as seguintes palavras. “Eu desejarei no Céu o mesmo que na terra: amar Jesus e fazê-Lo amar” (Carta 220, ao Padre M. Bellière, 24/fev/1897). Escreveu que entrara no Carmelo “para salvar as almas” (Manuscrito A, 69frt). Por outras palavras, não concebia a sua consagração a Deus sem a busca do bem dos irmãos. Partilhava o amor misericordioso do Pai pelo filho pecador e o do Bom Pastor pelas ovelhas perdidas, distantes, feridas. Por isso, é padroeira das missões, mestra de evangelização.

As últimas páginas da História de uma alma são um testamento missionário, exprimem a sua maneira de entender a evangelização por atração (Evangelii gaudium, EG 14, 264) e não por pressão ou proselitismo. Vale a pena ler como ela própria a sintetiza: “Atraí-me, correremos ao odor dos vossos perfumes (cf. Ct 1, 3-4). Ó Jesus, nem sequer é necessário dizer: ‘Atraindo-me, atraí as almas que amo!’ Esta simples palavra: ‘Atraí-me’, basta. Senhor, eu compreendo. Quando uma alma se deixou cativar pelo odor inebriante dos vossos perfumes, não seria capaz de correr sozinha: todas as almas que ama são arrastadas atrás dela. Isto faz-se sem constrangimento, sem esforço; é uma consequência natural da sua atração para Vós. Assim como uma torrente, lançando-se impetuosamente no oceano, arrasta consigo tudo o que encontrou no seu percurso, do mesmo modo, ó meu Jesus, a alma que mergulha no oceano sem limites do vosso amor, leva com ela todos os tesouros que possui… Senhor, bem o sabeis, não tenho mais nenhum tesouro a não ser as almas que Vos aprouve unir à minha” (Manuscrito C, 34vo).

O que impressiona é ver como Teresinha, ciente de estar próxima da morte, não vive esse mistério fechada em si mesma, procurando apenas um sentido consolador, mas vive-o com um ardente espírito apostólico. No coração de Teresinha, a graça do Batismo tornou-se uma torrente impetuosa que deságua no oceano do amor de Cristo, arrastando consigo uma multidão de irmãs e irmãos, o que se verificou especialmente depois da sua morte. Foi a sua prometida “chuva de rosas” (Últimos colóquios. Caderno Amarelo, 09/jun/1897).

*Todas as citações a partir de SANTA TERESA DO MENINO JESUS E DA SAGRADA FACE. Obras Completas. Textos e últimas palavras.

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