Guido Schäffer: o jovem médico e surfista que espalhou o amor de Deus

Nascido em Volta Redonda (RJ) e morto em 2009, ele foi seminarista, exerceu a Medicina em favor dos mais pobres e ajudou a evangelizar os jovens. Em maio deste ano, tornou-se Venerável, último estágio antes de ser beatificado

Arquivo Pessoal

No mês de Nossa Senhora, maio, em 1974, nasceu Guido Schäffer. Ele passou a maior parte dos seus 34 anos de vida em Copacabana, o mais mariano dos bairros cariocas. Amava o mar apaixonadamente, e foi Maria, a Estrela do Mar, quem o conduziu a Cristo.

Seu pai, um médico patologista, também se chamava Guido Schäffer. Sua mãe, Maria Nazareth Schäffer, uma professora de francês, dedicou-se ao marido e à educação dos três filhos do casal: Ângela, Guido e Maurício.

Nazareth participa desde 1979 da Comunidade Bom Pastor, que nasceu de um grupo de oração da Renovação Carismática Católica na Paróquia Nossa Senhora de Copacabana. Ela tinha o hábito de levar as crianças à praia para tomar sol. O pequeno Guido se afeiçoou tanto ao mar que queria ser salva-vidas. Na companhia do irmão, Maurício, acordava cedo para surfar.

O Venerável Guido Schäffer foi educado no Colégio Sagrado Coração de Maria, entre 1979 e 1991. Ele e o irmão eram alunos dedicados. Guido recebeu a primeira Comunhão em 1983, e a Crisma, em 1990.

O despertar para a fé. Ângela conta que seus irmãos nunca foram da “turma da pesada” de Copacabana, ainda que o bairro oferecesse muitas tentações. Nazareth ficava preocupada vendo os filhos jogando conversa fora com os amigos no início da noite, na porta de seu prédio: “Senhor, estou muito preocupada com os meus filhos, com tanta perdição que existe no mundo. Senhor, eu tenho que colocá-los no caminho de Deus”, rezava com frequência.

Certo dia, Nazareth abriu as Escrituras, e seus olhos recaíram sobre as palavras de um salmo: “Eu para Ele vivo, e os meus filhos irão servi-lo” (Sl 21,31). Decidiu, então, fazer um cenáculo em sua casa. Guido convidou seus amigos, que com ele passaram a rezar o Terço. Tinham todos por volta de 15 e 16 anos. Nazareth aproveitou para lhes falar sobre a Comunidade Bom Pastor, e eles também começaram a frequentá-la.

Em 1992, Guido, então com 17 anos, conheceu o Padre Jorge Luiz Neves Pereira da Silva (Padre Jorjão). Desde então, a Confissão tornou-se para o jovem um encontro com Deus.

Tempos depois, Padre Jorjão tornou-se Vigário Paroquial da Igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema. Os dois passavam horas conversando sobre as coisas de Deus.

Entre a Medicina, a fé e as obras de misericórdia. Guido passou a cursar Medicina na Faculdade Souza Marques. Nesta época de sua vida, viajava com frequência até Cachoeira Paulista (SP) para participar dos retiros da Comunidade Canção Nova. As pregações do Monsenhor Jonas Abib (1936-2022) alimentavam sua alma, assim como o livro A Bíblia no meu dia a dia, escrito pelo Monsenhor. Tornou-se, cada vez mais, um jovem apaixonado pelas Sagradas Escrituras. Os versículos brotavam naturalmente em sua pregação, com belíssimas associações.

Aplicando-se aos estudos, Guido formou-se em Medicina em 1998. No ano seguinte, começou sua residência em clínica médica, mas continuava a coordenar o grupo de oração Fogo do Espírito Santo. Também levava os jovens para retiros da Comunidade Canção Nova. Em um deles, escutou uma pregação que mudaria sua vida: “Não desvies teu olhar do pobre, e Deus tampouco se desviará de ti” (Tobias 4,7). Os exercícios espirituais de Santo Inácio de Loyola também lhe faziam meditar sobre a passagem do jovem rico. Guido, então, decidiu doar sua Medicina aos pobres, com as irmãs da caridade de Madre Teresa de Calcutá, no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro.

O chamado ao sacerdócio. Guido namorava uma jovem dentista, chegaram a ficar noivos, até ele ter uma experiência muito forte com Cristo. Ao ler o livro O Irmão de Assis, do Frei Inácio Larrañaga, Guido desejou ser totalmente livre como São Francisco, para pregar o Evangelho. A noiva ficou triste, mas era católica e aceitou sua decisão.

Nessa época, além do trabalho voluntário na Lapa, Guido atuava como médico na Santa Casa de Misericórdia, no centro do Rio de Janeiro. Ele mobilizava os jovens, e muitos colaboravam com remédios e material de higiene em prol dos pobres da Lapa e dos do- entes da Santa Casa.

Certa ocasião, Guido falava de Deus a um doente coberto de chagas na pele: “Você precisa se confessar”, disse Guido. “Confessar o quê?”, questionou o doente. “Eu me confesso toda semana”, explicou Guido, que se pôs a contar os próprios pecados. O doente ficou tão impressionado que pediu: “Doutor, eu posso me confessar, então?”. E Guido prontamente respondeu: “Claro. No domingo, eu trago o padre aqui”.

O Frei Anselmo Fracasso, sacerdote franciscano, ouviu a confissão do homem, deu-lhe a Unção dos Enfermos e a Comunhão. Poucos dias depois, o corpo do homem, que era pura chaga, ficou quase totalmente curado. Ele recebeu alta e foi para casa.

Quando Guido sentiu o chamado ao sacerdócio, Dom Karl Josef Romer, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro e responsável pelas vocações, discerniu que o trabalho do jovem na Santa Casa deveria continuar. Ele, então, cursou Filosofia como aluno externo no Mosteiro de São Bento, e durante o curso de Teologia entrou no Seminário São José.

Testemunho de fé até o fim da vida. Até seus últimos dias, Guido fez muitas pessoas se encontrarem com Cristo, a partir do forte testemunho de fé de alguém que era jovem, médico, surfista, pregador e seminarista. O porteiro de seu prédio, envolto no alcoolismo, mudou de vida. Jovens que usavam drogas as deixavam. Pessoas de outras religiões se convertiam ao catolicismo. Ele sempre dizia que “todas as nossas ações devem visar ao amor de Deus”. E fazia tudo isso sem deixar de ser jovem, continuava a ‘pegar suas ondas’ e a falar gírias.

Assim como São Padre Pio, Guido desejava fundar um hospital, para aliviar o sofrimento dos pobres. E tinha pressa para se tornar sacerdote. Em 1º de maio de 2009, porém, sofreu um acidente de surfe e faleceu. Estava com 34 anos. Sua mãe perguntava a Deus o sentido de tudo isso, afinal “a Igreja não precisa tanto de bons padres?” O Padre Javier Enciso, experiente jesuíta, a ela explicou: “Nazareth, você não deu um padre para a Igreja. Você lhe deu um santo”.

Em 17 de janeiro de 2015, foi iniciado o processo de beatificação e canonização de Guido Schäffer. Em novembro de 2017, houve a abertura do processo de beatificação pelo Dicastério das Causas dos Santos no Vaticano. Em 20 de maio de 2023, o então Servo Deus Guido Schäffer tornou-se Venerável, após a Santa Sé reconhecer a prática de virtudes heroicas, sendo esta a última etapa antes da beatificação.

O Cardeal Orani Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro, observou que Guido viveu a juventude com muita intensidade, sendo um sinal de vida cristã para todos, e que serve de inspiração para quem se prepara para a JMJ Lisboa 2023: “Os marcos do discernimento vocacional do jovem Guido foram justamente as peregrinações que fez na Europa e sua participação em várias edições das JMJs. Nós agradecemos justamente a Deus pela sua vida e pedimos cada vez mais que ele interceda pela juventude de hoje, para que os jovens possam viver também, com alegria a sua fé, a sua caminhada”.

5 comentários em “Guido Schäffer: o jovem médico e surfista que espalhou o amor de Deus”

  1. queria muito ter conhecido o Guido . Estou sempre com ele em oração. Eles todos na verdade são encantadores . Dna Nazaré , Mauricio e Angela. Que deus os abençoe sempre . Padres Jorjão foi muito importante na vida do Guido. Sigo o terço todos os dias as 20:00 hs e sinto falta quando não há . Na verdade o Guido quem me ensinou a rezar o terço. amem

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  2. Que lindo testemunho de vida! Guido fez a vontade de Deus e deixou marcas do céu para a humanidade. Muitas almas serão alcançadas por este jovem que doou sua vida para os necessitados e foi feliz.

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