Maria para hoje

Um pequeno livro de um dos grandes teólogos católicos do século XX foi lançado pela Paulus Editora no ano de 2016, e já chegou à sua terceira reimpressão no final do ano passado. Contrariando as expectativas de que o eruditismo do autor, Hans Urs von Balthasar, impediria a divulgação de sua obra em terras brasileiras, o livro Maria para hoje vem sendo muito bem recebido pelos interessados em se aprofundar no mistério excepcional da vida de Maria, a Mãe do Senhor, e em suas implicações para um cristão no mundo atual. Vem, também, abrindo o caminho para que outras obras desse grande nome da teologia católica – muito caro a São João Paulo II e Joseph Ratzinger, futuro Bento XVI, com quem colaborou em várias empreitadas teológicas – também pudessem ser acessadas pelo público brasileiro, como: Vida a partir da morte, A Verdade é sinfônica, A Oração Contemplativa, e Católico (lançado no final de 2023), reunidas pela Paulus na coleção Fides Quaerens, que contém também textos de Balthasar selecionados pelo professor Rudy Assunção e algumas obras de Joseph Ratzinger.

Balthasar faz pequenas reflexões, divididas em seis seções, sobre o papel fundamental de Maria na história da salvação e sua relação com os tempos atuais. Ele inicia, por assim dizer, pelo fim, isto é, com uma pequena análise do capítulo 12 do livro do Apocalipse, o último da Bíblia que, segundo Balthasar, “lança um olhar sobre o drama da história do mundo”. Na segunda seção, “Dando à luz na dor”, o autor nos lembra que, apesar de Maria ter sido preservada do pecado original, não foi, por isso, poupada das dores humanas, como forma de expiação em favor da mãe da raça humana, Eva, e seus descendentes, e em particular solidariedade com seu povo, Israel. Nesta seção, o autor também nos lembra, entre várias outras coisas, que Maria é, muito mais que Pedro, a verdadeira “porta do céu”, aquela que deu à luz o Paraíso – per Mariam ad Jesum.

Partindo dos trechos em São Lucas onde lemos que Maria “conservava e meditava no coração” tudo o que acontecia em relação ao seu Filho, Balthasar constrói a terceira seção com o intuito de nos mostrar Maria também como “Memória da Igreja”. Ninguém mais possui uma memória tão completa de todos os momentos de Cristo, desde a encarnação até a cruz e ressurreição. Maria, mestra da Igreja. A maior, porque a mais humilde.

Na quarta e quinta seções, Balthasar nos leva à reflexão sobre a discreta e primordial importância de Maria no que diz respeito ao casamento e à virgindade, e à relação com os pobres. São comentários riquíssimos, que merecem ser lidos com um espírito contemplativo e abertura de coração.

“A ferida abre espaço”. Esse é o título da última e breve seção desta pérola de reflexões marianas de Hans Urs von Balthasar. Aqui somos lembrados, entre outras coisas, que “a humildade é inconsciente”, e que “Maria permanece aquilo que foi e será eternamente: a Mãe. E que filho (ainda que seja Deus) esqueceria o papel de sua mãe?”

É, portanto, duplamente recomendável a leitura deste pequeno livro mariano. Ele pode servir tanto como fonte de aprofundamento do mistério mariano no plano da salvação, quanto como um primeiro contato com a obra importantíssima deste grande teólogo suíço, Hans Urs von Balthasar.

UM TEÓLOGO DA BELEZA

Hans Urs von Balthasar (1905-1988), considerado um dos mais importantes teólogos do século XX, em uma vasta obra, explorou a relação entre a beleza e o mistério de Deus por meio da teologia, literatura e arte. Influenciado por místicos e poetas, defendia um diálogo entre fé e cultura, tendo sido um dos fundadores da revista Communio. Entre seus trabalhos, destaca-se “Glória: Uma Estética Teológica”.

BALTHASAR, Hans Urs von. Maria para hoje. São Paulo: Paulus, 2018.

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