Nesta passagem da Deus caritas est (DCE 28-29), Bento XVI nos lembra que o ser humano, mesmo na sociedade mais justa que imaginarmos, sempre terá necessidade do amor.
O amor — caritas — será sempre necessário, mesmo na sociedade mais justa. Não há qualquer ordenamento estatal justo que possa tornar supérfluo o serviço do amor. Quem quer desfazer-se do amor, prepara-se para se desfazer do homem como homem. Sempre haverá sofrimento que necessita de consolação e ajuda. Haverá sempre solidão. Existirão sempre também situações de necessidade material, para as quais é indispensável uma ajuda na linha de um amor concreto ao próximo. Um Estado que queira prover a tudo e tudo açambarque torna-se, no fim de contas, uma instância burocrática, que não pode assegurar o essencial de que o homem sofredor — todo homem — tem necessidade: a amorosa dedicação pessoal. Não precisamos de um Estado que regule e domine tudo, mas de um Estado que generosamente reconheça e apoie, segundo o princípio de subsidiariedade, as iniciativas que nascem das diversas forças sociais e conjugam espontaneidade e proximidade aos homens carecidos de ajuda. […] Embora as manifestações específicas da caridade eclesial nunca possam confundir-se com a atividade do Estado, no entanto a verdade é que a caridade deve animar a existência inteira dos fiéis leigos e, consequentemente, também a sua atividade política vivida como “caridade social” […] A Igreja nunca poderá ser dispensada da prática da caridade como atividade organizada dos crentes, como aliás nunca haverá uma situação em que não seja preciso a caridade de cada um dos indivíduos cristãos, porque o homem, além da justiça, tem e terá sempre necessidade do amor.