G.K. Chesterton, o mais famoso apologista do cristianismo no século XX era um homem cheio de ideias divertidas e paradoxais. Um homem marcado pela alegria de viver, maravilhado pelo amor de Deus que se manifesta nas coisas grandes e pequenas do cotidiano.
Gilberth Keith Chesterton nasceu em Kensington, Londres, em 29 de maio do ano de 1874. Foi educado em casa na primeira fase de sua formação. Geralmente antes de irem para uma escola, as crianças aprendiam a ler e escrever, (em mais de uma língua inclusive) e os principais elementos das matemáticas, assim como cultura literária e religiosa.
Seu pai, Edward Chesterton, tinha uma invejável cultura literária e transmitiu isso ao filho. Dessa forma, a infância de Chesterton foi preenchida com as grandes narrativas dos mais diversos gêneros, concedendo-lhe um imaginário poderoso, alimentado de poesias e trechos celebres da literatura, aprendidos de cor. Essa foi a base para uma visão de mundo singular que o acompanharia durante toda a vida.
No arco de tempo em que esteve na fase final da escola e no início da faculdade de artes, nosso autor entra em contato com as diversas tendências ideológicas e filosóficas, muitas delas sofrendo da falta de sentido. O que Chesterton encontra é um vazio existencial profundo, muito distante daquilo que tinha sido sua vida na infância o que quase extingui a chama da imaginação e da verdade.
Como Chesterton saiu desse dilema existencial? Em grande parte, a lucidez do homem está relacionada ao grande número de respostas que ele havia armazenado. Chesterton dizia que os contos de fadas e as grandes histórias nos dão uma série de respostas para perguntas que ainda não surgiram para nós. A saída do dilema existencialista, para Chesterton, se deu por meio de um duplo movimento que iria marcar todo o seu pensamento: a gratidão e a risada.
Para quem já leu o capítulo “Ética do País das Fadas” do livro Ortodoxia (São Paulo: Principis, 2020), fica patente como para o autor londrino a fonte de todo o sentimento de monotonia é se acostumar a tudo. Os contos de fadas têm o papel de renovar em nós o espírito de deslumbramento em relação ao mundo. Assim falamos em nossos contos de maçãs douradas, pois nos esquecemos de quando ficávamos encantados por elas serem vermelhas.
Esse não é nenhum processo escapista para fazer a vida suportável, mas Chesterton, de fato, crê que o mundo é deslumbrante justamente por não ser necessário. Deus é o único necessário, e o mundo é fruto da sua liberdade que quis criar sem precisar criar. Assim, todas as coisas que Deus faz existir com sua vontade criadora, são, na verdade, maravilhas salvas do mar do nada pelo amor de Deus.
Para falar de Chesterton e a risada, vale a pena falar dele como “príncipe dos paradoxos”. Gilbert sempre os fazia e muitas vezes arrancava risadas de quem lia ou ouvia, pois tinham o efeito de uma verdadeira peripécia de malabarista, porém feita com as ideias. A simpatia e camaradagem de Chesterton, com grandes opositores em debate era celebre. Um homem que não se levava a sério, mas levava a sério as coisas sérias como amizade, lealdade, cavalheirismo e, para além disso tudo, a verdade.
Em 28 de junho de 1901, Chesterton se casa com Frances Blogg. Frances não era apenas a mente que organizava a agenda de nosso autor, mas era sua confidente, companheira e amiga de maneira que podemos pensar que Chesterton não seria a mesma coisa sem Frances, especialmente do ponto de vista da fé, uma vez que ele, superando o ateísmo, não havia, contudo, decidido por uma religião institucional. Frances, que era ativa em sua comunidade anglicana, atrai Chesterton para uma definição religiosa como cristão.
Em 1902, Chesterton estreia no mundo jornalístico e suas posições são instigantes e provocativas. Assinando como G.K.C, em pouco tempo haverá alvoroço para saber quem é o dono de tal sigla.
A vida de Chesterton foi marcada por grandes amizades, feitas entre correligionários e opositores. Dois grandes exemplos são Hillaire Belloc e Bernard Shawn. O primeiro será o parceiro de toda uma vida de empreitadas. Já o segundo, talvez seja uma das pessoas que mais discordava de Chesterton.
Algumas de suas obras mais conhecidas são, provavelmente, Ortodoxia e O homem que era quinta-feira (Gaeiras, Portugal: Alêtheia Editores, 2013) ambas escritas em 1908. Nessa obra, ele apresenta o que seria sua filosofia mediante uma provocação.
Em 1911 é publicada a coletânea de contos policiais A inocência do Padre Brown (Porto Alegre: L&PM Editores, 2010), livremente inspirado no grande amigo de Chesterton, o Padre John O´Connel. O Padre Brown, detetive do livro, utiliza seu vasto conhecimento da natureza humana obtido no confessionário, para desvendar crimes e mistérios.
Em 1922 ele irá publicar, no mesmo ano em que se batiza e entra formalmente para a Igreja Católica, sua celebre biografia de São Francisco de Assis (Campinas: Ecclesiae, 2014).
Em 1925, publica O homem eterno (São Paulo: Principis, 2021), considerado por C.S Lewis o melhor livro de defesa do Cristianismo que já havia lido.
Chesterton morreu de insuficiência cardíaca no dia 14 de junho de 1936. Sua morte causou uma grande comoção e o Papa Pio XI em um telegrama o chamará “Defensor da fé”.