Quem busca a verdade, busca Deus, quer o saiba ou não (Edith STEIN, em carta a uma monja beneditina).
Conciliar a ideia de Deus com o paradigma da razão foi a contribuição marcante do pensamento de Edith Stein (1891-1942), delineado pela originalidade e pela vanguarda dentro de um período histórico marcado pelo desenvolvimento e aprimoramento das ciências modernas, mas conturbado por duas guerras mundiais.
Nascida em Breslávia, no Império Alemão, Edith Stein era a caçula entre 11 filhos de uma família judaica de origem polonesa. Seu pai faleceu quando tinha 2 anos de idade e sua mãe, uma pessoa fortemente religiosa, foi marcante em sua vida. Contudo, aos 13 anos, por decisão própria perdeu o hábito de rezar e até aos 20 anos se declarava ateia.
Podemos nos perguntar como uma estudante de Filosofia, de origem judaica, declaradamente ateia, pôde converter-se e devotar-se totalmente ao catolicismo? Ora, sem sombra de dúvida, a conversão de Edith Stein é a conclusão do desenvolvimento de todo um pensamento e de uma Filosofia engendrada a partir da vivência relacional e do entendimento da natureza humana, tornado vivência prática na doação de si e na consagração religiosa.
Ao longo de seus estudos e pesquisas, Stein fez algumas amizades que marcariam decisivamente sua vida. Uma delas foi com a filósofa Hedwige Conrad-Martius (1888-1966). Foi por meio dela que conheceu a obra de Teresa D’Ávila, especificamente O Livro da Vida (São Paulo: Paulus, 2022). Atribui-se à leitura desse livro, em uma noite, como sendo o marco decisivo de sua conversão para o catolicismo. Ora, sem dúvida alguma, esse foi um marco importante, porém, sua fé e espiritualidade são construídas ao longo de sua formação intelectual, e a Filosofia, especialmente a Fenomenologia, de certo contribui de forma significativa para sua adesão e conversão ao Cristianismo.
Stein foi cristalizando sua espiritualidade também por meio de outras pessoas próximas, como seu orientador Edmund Husserl (1859-1938), considerado o criador da Fenomenologia, escola de Filosofia que busca o retorno aos fenômenos, como possibilidade de conhecimento do real em si mesmo. Um detalhe interessante é que tanto Husserl quanto Conrad-Martius eram protestantes, enquanto Edith se aproximou do Cristianismo via Igreja Católica Apostólica Romana. Provavelmente a influência da leitura do livro de Teresa D´Ávila, com toda a espiritualidade, reflexão e simplicidade preconizada pela Santa em sua obra e biografia, trouxe Stein para comungar da religião romana.
Ela encontrou no catolicismo, em seu universo e nos elementos que o compõe, como a Eucaristia, uma fonte para seu desenvolvimento espiritual. Assumiu de forma integral o catolicismo em sua vida, sentindo-se inclinada por sua espiritualidade a desenvolver a fé de forma conventual.
Decidiu seguir os passos de Teresa D´Ávila, mãe do Carmelo Reformado e se tornar “noiva de Cristo”. Ingressa no Carmelo Descalço da Alemanha, vive em convento e tem a autorização para prosseguir com seus estudos de Filosofia, porém, praticando e exercendo toda sua fé no âmbito da disciplina seguida pelas carmelitas. Seu nome passou a ser Irmã Teresa Benedita da Cruz, em referência a Santa Teresa D’Ávila. Benedita indicava sua relação especial com São Bento; já Cruz, referia-se ao pai do Carmelo reformado, João da Cruz. Presa pelos nazistas por ser de origem judaica, morreu na câmara de gás no dia 9 de agosto de 1942.
Em 1987, foi beatificada por São João Paulo II em Colônia. No dia 11 de outubro de 1998, foi canonizada por ele, sob o nome de Santa Teresa Benedita da Cruz. Em 1999, na Carta Apostólica em forma de “Motu Proprio” Spes aedificandi, foi proclamada, juntamente com Santa Brígida da Suécia e Santa Catarina de Siena, copadroeira da Europa. A sua celebração litúrgica na Igreja Católica é dia 9 de agosto.