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O que é a contemplação?

A experiência contemplativa nos faz “entrar” na dimensão espiritual da realidade e ESCUTAR, com os ouvidos do coração, Deus, os anjos, nosso anjo da guarda ou nossos amigos santos que nos falam.

Abadia de Heiligenkreuz, Áustria. Fonte: Wikimedia

Deus nos fala de muitas maneiras por meio de algo que vemos ou ouvimos e que nos toca profundamente, e chega até o centro interior da nossa pessoa – que a Bíblia chama de coração: o olhar de uma pessoa, um acontecimento peculiar, um pôr do sol, uma aurora, o mar, uma flor, uma música, uma pintura ou poesia, um livro. Todas essas realidades “terrenas” podem atingir o centro do nosso ser (se estivermos abertos) e nos co-mover. Têm o poder de nos fazer mudar de posição, nos iluminar, nos ensinar, nos converter, ou seja, nos mover junto consigo para uma direção nova, um novo conhecimento, de si e da realidade. Estas são mensagens de Deus. Como sabemos? Pelo resultado que provocam em nós: um bem maior, uma verdade, uma paz, uma alegria.

Deus nos fala também por meio da liturgia, da Confissão, e de algo que Ele permite que aconteça em nossa vida. Podemos dizer que para aqueles que se familiarizaram em escutá-Lo, como os monges e as monjas, Deus nos fala o tempo todo. 

Para se comunicar melhor conosco, Deus veio até nós e tomou a nossa carne em Jesus. Deus, então, é o Verbo, Aquele que está sempre agindo. O contemplativo é aquele que aprendeu a vê-Lo e ouvi-Lo.

Todas as culturas humanas, desde sempre, descobriram que a realidade tem duas dimensões: a realidade material e aparente, perceptível pelos cinco sentidos, e a realidade espiritual, que é perceptível quando, partindo dos cinco sentidos, esse “conhecimento” chega ao coração, que é o lugar onde Deus habita em nós. Por isso, um lugar privilegiado para encontrar Deus é dentro do nosso coração.

Deus nos joga dentro da realidade concreta e não nos afasta dela. Ele nos ensina a entrarmos mais profundamente em relação, de forma saudável e construtiva, com as coisas e as pessoas, com tudo e todos que estão próximos de nós. O contemplativo vive dentro da realidade concreta e dela não foge. É característica da vida contemplativa a atenção, o cuidado com todas as coisas e pessoas, até nos mínimos detalhes. O verdadeiro contemplativo age mais e melhor sob inspiração de Deus e a partir do relacionamento com Ele.

A contemplação não é êxtase nem fuga da realidade. Santa Teresa de Lisieux, a maior santa contemplativa dos tempos modernos, não teve êxtases nem viveu experiências extraordinárias. Ela se entregava ao relacionamento com seu amado Jesus, vivendo cada pequeno detalhe do dia a dia e cada relacionamento com as irmãs, os belos e fáceis, mas principalmente os mais difíceis, com a força e a coragem que Jesus lhe dava. Santa Teresa nos ensina que a contemplação é um modo de viver a realidade que nasce e cresce a partir do relacionamento com Jesus e que se traduz no amor cada vez maior e mais profundo que se experimenta por cada coisa e cada pessoa. Foi lendo e meditando as Sagradas Escrituras que Santa Teresa descobriu a pequena via para a santidade.

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