A experiência contemplativa nos faz “entrar” na dimensão espiritual da realidade e ESCUTAR, com os ouvidos do coração, Deus, os anjos, nosso anjo da guarda ou nossos amigos santos que nos falam.

Deus nos fala de muitas maneiras por meio de algo que vemos ou ouvimos e que nos toca profundamente, e chega até o centro interior da nossa pessoa – que a Bíblia chama de coração: o olhar de uma pessoa, um acontecimento peculiar, um pôr do sol, uma aurora, o mar, uma flor, uma música, uma pintura ou poesia, um livro. Todas essas realidades “terrenas” podem atingir o centro do nosso ser (se estivermos abertos) e nos co-mover. Têm o poder de nos fazer mudar de posição, nos iluminar, nos ensinar, nos converter, ou seja, nos mover junto consigo para uma direção nova, um novo conhecimento, de si e da realidade. Estas são mensagens de Deus. Como sabemos? Pelo resultado que provocam em nós: um bem maior, uma verdade, uma paz, uma alegria.
Deus nos fala também por meio da liturgia, da Confissão, e de algo que Ele permite que aconteça em nossa vida. Podemos dizer que para aqueles que se familiarizaram em escutá-Lo, como os monges e as monjas, Deus nos fala o tempo todo.
Para se comunicar melhor conosco, Deus veio até nós e tomou a nossa carne em Jesus. Deus, então, é o Verbo, Aquele que está sempre agindo. O contemplativo é aquele que aprendeu a vê-Lo e ouvi-Lo.
Todas as culturas humanas, desde sempre, descobriram que a realidade tem duas dimensões: a realidade material e aparente, perceptível pelos cinco sentidos, e a realidade espiritual, que é perceptível quando, partindo dos cinco sentidos, esse “conhecimento” chega ao coração, que é o lugar onde Deus habita em nós. Por isso, um lugar privilegiado para encontrar Deus é dentro do nosso coração.
Deus nos joga dentro da realidade concreta e não nos afasta dela. Ele nos ensina a entrarmos mais profundamente em relação, de forma saudável e construtiva, com as coisas e as pessoas, com tudo e todos que estão próximos de nós. O contemplativo vive dentro da realidade concreta e dela não foge. É característica da vida contemplativa a atenção, o cuidado com todas as coisas e pessoas, até nos mínimos detalhes. O verdadeiro contemplativo age mais e melhor sob inspiração de Deus e a partir do relacionamento com Ele.
A contemplação não é êxtase nem fuga da realidade. Santa Teresa de Lisieux, a maior santa contemplativa dos tempos modernos, não teve êxtases nem viveu experiências extraordinárias. Ela se entregava ao relacionamento com seu amado Jesus, vivendo cada pequeno detalhe do dia a dia e cada relacionamento com as irmãs, os belos e fáceis, mas principalmente os mais difíceis, com a força e a coragem que Jesus lhe dava. Santa Teresa nos ensina que a contemplação é um modo de viver a realidade que nasce e cresce a partir do relacionamento com Jesus e que se traduz no amor cada vez maior e mais profundo que se experimenta por cada coisa e cada pessoa. Foi lendo e meditando as Sagradas Escrituras que Santa Teresa descobriu a pequena via para a santidade.



