Todas as experiências da minha humanidade e da minha personalidade passam pelo crivo de uma “experiência original”, primordial, que constitui o meu rosto ao confrontar-me com tudo. Aquilo que cada homem tem o direito e o dever de aprender é a possibilidade e o hábito de comparar cada proposta com essa sua “experiência elementar”. Em que consiste essa experiência original, elementar? Trata-se de um conjunto de exigências e evidências com as quais o homem é lançado no confronto com tudo o que existe. A natureza lança o homem na comparação universal consigo mesmo, com os outros e com as coisas, dotando-o – como instrumento de tal confronto universal – de um conjunto de evidências e exigências originais, tão originais que tudo o que o homem diz ou faz depende delas. A elas podem ser dados muitos nomes, por meio de diversas expressões, como: exigência de felicidade, exigência de verdade, exigência de justiça e outras. Seja como for, são como uma centelha que põe em ação o motor humano; antes delas não ocorre nenhum movimento, nenhuma dinâmica humana. Qualquer afirmação de uma pessoa, desde a mais banal e quotidiana até a mais ponderada e plena de consequências, só pode ser feita tendo por base esse núcleo de evidências e exigências originais. (GIUSSANI, L. O senso religioso. Jundiai: Paco Editorial, 2018).
As perguntas que dão título a esse artigo permeiam toda a filosofia desde os seus primórdios, muitos séculos antes de Cristo. O ser humano é um vir-a-ser, um ser incompleto que precisará sempre de algo ou de alguém além dele mesmo. Diferentemente dos animais, se modifica, se reinventa, se transforma e transforma a realidade em torno de si, criando a história e a cultura. Da mesma forma que a natureza humana, estas duas perguntas estarão sempre abertas e as respostas a elas se modificarão, na medida em que as pessoas, suas vidas e culturas, se modificarem, até o fim dos tempos.
Contudo, a mais original, profunda e elementar experiência humana, que está na origem de todo e qualquer mover humano, chama-se desejo. O desejo humano não é só o de comer, dormir, procriar. É muito mais: desejo de que tudo tenha sentido, de que a vida seja sensata, de criar e construir coisas, de ser feliz. O ser humano se move porque deseja e na medida em que deseja. O que é a depressão, se não um sofrimento que afeta, exatamente, o nosso desejo? Quem não experimenta uma repulsa ao caos e ao mal? Mesmo que um ser humano possa estar mergulhado em uma realidade caótica e destrutiva, não conseguirá dizer “ah! que bom!” – inevitavelmente sofrerá com ela e nela.
O ser humano, desde o nascimento, é capaz de reconhecer o belo, o bom e o verdadeiro; de rechaçar o feio, o mal e o falso. A educação, a cultura e a história modificarão esse reconhecimento primordial, mas ele, de qualquer forma, estará sempre lá, na ontologia humana. Há, no ser humano, um imprinting divino que o faz reconhecer o bem e desejar a relação com Deus
Luigi Giussani percebeu que não seria possível falar de Deus às pessoas do nosso tempo sem resgatar esse anseio por Deus. Para tanto, buscou – no conceito de “experiência elementar” – as bases antropológicas do senso religioso, que deixa de ser visto de modo estritamente “religioso”, para ganhar sua verdadeira dimensão de elemento integrador de todas as experiências e de todos os anseios humanos.
Mto bom!!!
Que tenha continuidade!!!