O testemunho de um enamorado por Cristo

“A boca fala do que o coração está cheio” (Mt 12,34). O Papa Francisco, dirigindo-se aos jovens, na exortação Christus Vivit (CV), deu um claro testemunho do que preenchia seu coração

Ele está presente HOJE. “Se a Ressurreição fosse para nós um conceito, uma ideia, um pensamento; se o Ressuscitado fosse para nós a recordação da recordação de outros, ainda que com autoridade, como os Apóstolos, se não nos fosse dada também a nós a possibilidade de um verdadeiro encontro com Ele, seria como declarar esgotada a novidade do Verbo feito carne. Pelo contrário, a encarnação para além de ser o único acontecimento novo que a história conhece, é também o método que a Santíssima Trindade escolheu para nos abrir a via da comunhão. A fé cristã ou é encontro com Ele vivo, ou não é. A Liturgia garante-nos a possibilidade desse encontro. Não nos basta ter uma vaga recordação da Última Ceia: nós precisamos estar presentes nesta Ceia, de poder ouvir a Sua voz, de comer o Seu Corpo e beber o Seu Sangue: precisamos Dele. Na Eucaristia e em todos os sacramentos nos é garantida a possibilidade de encontrarmos o Senhor Jesus e de sermos alcançados pela potência da sua Páscoa […] O Senhor Jesus, que ‘foi imolado sobre a cruz, mas não morrerá jamais; foi morto, mas agora vive para sempre’ (Prefácio Pascal III), continua a perdoar-nos, a curar-nos, a salvar-nos com a potência dos seus sacramentos” (Desiderio Desideravi, DD 10-11).

“CRISTO VIVE: é Ele a nossa esperança e a mais bela juventude deste mundo! Tudo o que toca torna-se jovem, fica novo, enche-se de vida. Por isso, as primeiras palavras que quero dirigir a cada jovem cristão são estas: Ele vive e quer-te vivo! […] A todos os jovens, independentemente das circunstâncias em que se encontrem, quero agora anunciar o mais importante, as coisas primeiras, aquilo que nunca se deveria silenciar […] três grandes verdades que precisamos escutar sempre de novo” (CV 1,111):

Deus ama você. “Nunca duvide disto na sua vida, aconteça o que acontecer. Em toda e qualquer circunstância, Ele é infinitamente amado […] Algumas vezes [Ele] apresenta-Se como aqueles pais carinhosos que brincam com seus filhos: ‘Segurava-os com laços humanos, com laços de amor, fui para eles como os que levantam uma criancinha contra o seu rosto’ (Os 11, 4). [… Em outras] com um amor entranhado que é incapaz de esquecer ou abandonar: ‘Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebê, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, Eu nunca o esqueceria’ (Is 49,15). Mostra-Se até como um enamorado que chega a tatuar na palma da sua mão a pessoa amada, para poder ter o seu rosto sempre perto: ‘Eis que Eu gravei a sua imagem na palma das minhas mãos’ (Is 49,16). Outras vezes destaca a força e a firmeza do seu amor, que não se deixa derrotar: ‘Ainda que os montes sejam abalados e tremam as colinas, o meu amor por ele nunca mais será abalado, e a minha aliança de paz nunca mais vacilará’ (Is 54,10) […] Faz-nos notar que Ele sabe ver a nossa beleza, aquela que ninguém mais pode individuar: ‘És precioso aos meus olhos, te estimo e te amo’ (Is 43,4). Ou leva-nos a descobrir que o Seu amor não é triste, mas pura alegria que se renova quando ele se deixa amar por Ele: ‘O Senhor, teu Deus, está no meio de ti como poderoso salvador! Ele exulta de alegria por tua causa, pelo Seu amor te renovará. Ele dança e grita de alegria por causa de você’ (Sf 3, 17)” (CV 112-114).

Cristo salva você. “Por amor, Cristo entregou-Se até ao fim para salvar a você. Os seus braços abertos na cruz são o sinal mais precioso de um amigo capaz de levar até ao extremo o seu amor: ‘Ele, que amava os seus que estavam no mundo, levou o Seu amor por eles até ao extremo’ (Jo13, 1) […] ‘Quantos se deixam salvar por Ele, são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento’ (Evangelii gaudium, EG 1). E, se você pecar e se afastar, Ele volta a levantar você com o poder da sua Cruz. Nunca esqueça que Ele perdoa setenta vezes sete. Volta uma vez e outra a carregar-nos nos seus ombros. Ninguém nos pode tirar a dignidade que este amor infinito e inabalável nos confere. Ele permite-nos levantar a cabeça e recomeçar, com uma ternura que nunca nos trai e sempre nos pode restituir a alegria.

Nós fomos salvos por Jesus […] Só o que se ama pode ser salvo. Só o que se abraça, pode ser transformado. O amor do Senhor é maior do que todas as nossas contradições, que todas as nossas fragilidades e todas as nossas mesquinhices, mas é precisamente por meio das nossas contradições, fragilidades e mesquinhices que Ele quer escrever esta história de amor […] Jesus perdoa-nos e liberta-nos gratuitamente. A Sua doação na Cruz é algo tão grande que não podemos nem devemos pagá-lo; devemos apenas recebê-lo com imensa gratidão e com a alegria de ser tão amados, ainda antes que o pudéssemos imaginar: ‘Ele nos amou primeiro’ (1 Jo 4,19)” (CV 119-120).

Ele vive! “É preciso recordá-lo com frequência, porque corremos o risco de tomar Jesus Cristo apenas como um bom exemplo do passado, como uma recordação, como Alguém que nos salvou há dois mil anos. De nada nos aproveitaria isso: deixava-nos como antes, não nos libertaria. Aquele que nos enche com a Sua graça, Aquele que nos liberta, Aquele que nos transforma, Aquele que nos cura e consola é Alguém que vive. É Cristo ressuscitado, cheio de vitalidade sobrenatural, revestido de luz infinita. Por isso, dizia São Paulo: ‘Se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé’ (1 Cor 15,17).

Mas, se Ele vive, então poderá estar presente em cada momento da sua vida, para a encher de luz. Assim, nunca mais haverá solidão nem abandono. Ainda que todos nos abandonem, Jesus permanecerá, como prometeu: ‘Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos’ (Mt 28,20). Ele tudo preenche com a Sua presença invisível e, para onde quer que você vá, lá estará Ele à sua espera. É que Ele não só veio, mas vem e continuará a vir todos os dias” (CV 124-125).

O Espírito dá vida Todos os dias, invoque o Espírito Santo, para que renove em você constantemente a experiência do grande anúncio […] Deixe-se enamorar por Ele, porque – como se lê no estupendo poema Enamora-te!, de Pedro Arrupe – ‘nada pode ser mais importante do que encontrar Deus, ou seja, enamorar-se d’Ele de maneira definitiva e absoluta. Aquilo de que te enamoras, prende a tua imaginação e acaba por ir deixando a sua marca em tudo. Será isso a decidir o que te arranca da cama pela manhã, o que fazes no final da tarde, como transcorres os teus fins de semana, aquilo que lês, o que conheces, aquilo que te destroça o coração e o que te faz transbordar de alegria e gratidão. Enamora-te! Permanece no amor! Tudo será diferente’. Este amor de Deus, que se apodera apaixonadamente de toda a vida, é possível pelo Espírito Santo, porque ‘o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado’ (Rm 5,5)” (CV 131-132).

Para concluir, um desejo. “Queridos jovens, ficarei feliz vendo-os correr mais rápido do que os lentos e medrosos. Correi atraídos por aquele Rosto tão amado, que adoramos na sagrada Eucaristia e reconhecemos na carne do irmão que sofre. O Espírito Santo os impulsione nesta corrida para a frente. A Igreja precisa do ímpeto de vocês, das suas intuições, da sua fé. Nós temos necessidade disto! E quando chegarem aonde nós ainda não chegamos, tenham a paciência de esperar por nós” (CV 299).

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