Neste mês de outubro, no qual nossos olhos de fé naturalmente se voltam para Nossa Senhora, graças à colaboração do Pe. Valdivino Guimarães, C.Ss.R., o Caderno Fé e Cultura nos apresenta a história dos milagres a ela atribuídos e ilustrados por Cláudio Pastro nos painéis da Basílica de Aparecida. É um encontro com a riqueza da piedade popular, uma ocasião para nos darmos conta de toda a ternura com a qual Deus nos envolveu, encarnando-se para estar mais perto de nós, nos dando uma Mãe em cujo regaço nossas almas cansadas podem repousar.
Num encontro com reitores de santuários, o Papa Francisco disse que as pessoas, quando tocam as imagens, “tocam Deus” – ele fala, metaforicamente, de um “sentido religioso do tato”. Evidentemente, não se trata de nenhum incentivo à idolatria, mas sim um comovente mergulho na materialidade da vida de cada fiel, de cada um de nós. O Cristianismo é a religião da encarnação. A materialidade da carne não é objeção aos dons do Espírito, mas um caminho que o próprio Deus escolheu para comunicar o Seu amor por nós. Cláudio Pastro, o artista sacro responsável pelo interior da Basílica de Aparecida, sempre desejou que suas obras servissem para que o fiel, ao entrar no templo e participar da missa, se sentisse realmente mais perto de Deus, vislumbrasse, por assim dizer, uma antecipação do paraíso. A arte sacra, segundo ele, não servia para a contemplação estética dos méritos do artista, mas sim para facilitar o encontro com o Senhor, que passa não apenas pelo intelecto, mas por todas as faculdades do ser humano. Quem adentra a Basília de Nossa Senhora da Conceição Aparecida entende o que esses dois homens de fé entendem com essas palavras.
Pequenos que somos diante da grandeza infinita do Criador, precisamos dos pequenos sinais materiais com os quais Ele nos brinda, para nos descobrirmos amados e acolhidos. Os santuários, como a Basílica de Aparecida, são lugares privilegiados nos quais esses sinais chegam até nós – a cada um de nós, que lá acorremos com nossos sofrimentos, dores, esperanças e agradecimentos, e a todos nós, como povo que se reconhece irmanado em sua filiação ao Deus de amor e à Mãe que, na cruz, entregou a todos nós.
No diálogo sempre misterioso entre o coração de Deus e o coração de cada um de nós, os “milagres”, as graças concedidas, ocupam um lugar especial. O magistério católico, historicamente, tem buscado corrigir a distorção que imagina uma espécie de comércio religioso, no qual o fiel faz uma promessa como pagamento para receber uma graça. O dom recebido é “gratuito”, dado por amor. A reciprocidade pedida por Deus é a conversão, que é para um bem maior do fiel, não para um certo ganho divino. Contudo, poucos sentimentos humanos são tão condizentes com nossa relação com Deus quanto a gratidão. Assim, nesse diálogo entre Deus e o ser humano, o “pagamento” da promessa ganha seu justo posto, que não é o da troca comercial, mas da gratidão cheia de afeto.
O Papa Francisco observa: “Irmãos e irmãs, a nossa vida, se pensarmos bem, está cheia de milagres: está cheia de gestos de amor, de sinais da bondade de Deus. Perante eles, contudo, também o nosso coração pode ficar habituado e indiferente, curioso mas incapaz de se deixar ‘impressionar’. Um coração fechado, um coração blindado, não tem capacidade para se admirar. Impressionar é um bonito verbo que faz lembrar a película de um fotógrafo. Esta é a atitude correta perante as obras de Deus: fotografar as suas obras na mente, para que fiquem impressas no coração, e depois revelá-las na vida, através de muitos gestos de bem, para que a ‘fotografia’ de Deus-amor se torne cada vez mais luminosa em nós e através de nós” (Angelus, 9/jul/2023).
Para perceber estes milagres que nos cercam, que pululam como sinais de amor a mostrar que a realidade – apesar de todos os seus sofrimentos – é maravilhosa, é necessário ser humilde. Na mesma ocasião, o Papa diz: “Os pequeninos sabem acolhê-los e Jesus louva o Pai por eles: ‘bendigo-te – diz – porque revelaste o Reino dos Céus aos pequeninos’. Louva-o pelos simples, que têm o coração livre da presunção e do amor-próprio. Os pequeninos são aqueles que, como as crianças, se sentem necessitados e não autossuficientes, estão abertos a Deus e ficam maravilhados com as suas obras. Sabem ler os seus sinais, maravilham-se com os milagres do seu amor! Pergunto a cada um de vós, a mim também: sabemos maravilhar-nos com as coisas de Deus, ou tomamo-las como coisas passageiras?”.
Essa humildade cheia de gratidão e esperança é a marca santa da piedade popular. Por causa dela, Francisco dirá, citando um bispo italiano, que a piedade popular é o “sistema imunitário” da Igreja, que nos protege das patologias oriundas da arrogância e da ânsia por poder, males que podem atacar a qualquer um de nós. Que Nossa Senhora nos acompanhe em nossa caminhada rumo ao maravilhamento revelado aos pequeninos.
Agradecemos a colaboração do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, por meio de sua Assessoria de Imprensa.
Muito bonito o texto, pra compreendermos a fé e o olhar a Nossa Senhora. Parabéns Borba!
Mto bom. Ajuda a entender e vivenciar a experiência que fazemos!