(Uma meditação a partir da Bula Spes non confundit)
Na Bula Spes non confundit (SNC), de convocação do Jubileu 2025, somos convidados a relacionar a mensagem jubilar com a presença de Maria na vida da Igreja e de cada fiel cristão. Ao final do documento, o Papa Francisco apresenta Nossa Senhora como a testemunha mais elevada da virtude da esperança. Ela é, por excelência, “Peregrina de Esperança” e caminha à nossa frente, nos indicando o caminho seguro para Jesus, a esperança que não decepciona nem engana (cf. Rm 5,5).

“A esperança encontra, na Mãe de Deus, a sua testemunha mais elevada”, nos ensina o Papa Francisco. “Nela vemos como a esperança não seja um efêmero otimismo, mas dom de graça no realismo da vida” (SNC 24). Francisco supera, assim, uma visão ingênua ou idealista da esperança. Também o povo de Israel, em meio a todas as dificuldades, esperava a salvação, que se realiza com a vinda do Messias, e se confirma com a Páscoa de Jesus. Maria encarna a esperança de Israel, é o elo entre o Antigo e o Novo Testamento; é uma mulher simples, concreta e realista, como as mulheres do seu povo, mas espera a salvação com a mesma fé de Abraão. Para expressá-lo, o Papa indica duas passagens bíblicas que descrevem a esperança de Maria: ela teve que manter viva em seu coração a promessa de Simeão e alimentá-la até o final da vida de Jesus, quando, ao pé da cruz, confiou e esperou o cumprimento da promessa de Ressurreição.
“Como todas as mães, cada vez que olhava para o Filho, pensava no seu futuro, e certamente no coração trazia gravadas aquelas palavras que Simeão Lhe dirigira no templo: ‘Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; uma espada trespassará a tua alma’ (Lc 2,34-35). E aos pés da cruz, enquanto via Jesus inocente sofrer e morrer, embora atravessada por terrível angústia, repetia o seu ‘sim’, sem perder a esperança e a confiança no Senhor” (SNC 24).
Ao longo de Sua vida pública, Jesus anunciou sua Morte e Ressurreição. Porém, os Apóstolos não foram capazes de compreender o que Jesus lhes dizia (cf. Mc 9,30-32). Maria foi provavelmente a primeira a entender este anúncio e esperar com confiança a Ressurreição do seu Filho. Conheço uma canção que diz, referindo-se a Maria: “Porque não foi necessário que visses o túmulo vazio para saber que teu Filho irrompia em um canto novo”.
A única lâmpada acesa no sepulcro. Para Maria, não foi fácil manter esta confiança, “esperando contra toda esperança”, como descreve São Paulo, referindo-se a Abraão (cf. Rm 4,18). Mesmo quando todas as circunstâncias pareciam desfavoráveis, Maria foi capaz de sofrer e manter a esperança que vai além de toda lógica ou probabilidade humanas, colaborando, assim, com a redenção. É o que explica o Papa Francisco:
“Desta forma, (Maria) cooperava em nosso favor no cumprimento do que dissera seu Filho ao anunciar que Ele teria de ‘sofrer muito e ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos doutores da Lei, e ser morto e ressuscitar depois de três dias’ (Mc 8,31), e no parto daquela dor oferecida por amor tornava-Se nossa Mãe, Mãe da esperança” (SNC 24).
De fato, ao longo de todo o seu pontificado, Francisco apresentou Maria como mulher de esperança e Mãe dos que esperam. O primeiro Papa latino-americano provém do “Continente da Esperança e do Amor”, como expressava o Documento de Aparecida (cf. DAp 127-128). Daí que a esperança não seja um assunto estranho à sua pregação.
“A única lâmpada acesa no sepulcro de Jesus é a esperança da mãe”, disse o Papa Francisco em uma visita às Monjas Beneditinas Camaldulenses. Em muitos momentos do seu pontificado, ele apresentou Maria como Mãe da Esperança. A palavra “faça-se” – usada por Maria na frase “Faça-se em mim segundo a Tua palavra” (Lc 1,38) – “não é apenas uma aceitação, mas também uma abertura confiante ao futuro. Este ‘faça-se’ é esperança!” (Idem).

Depois de recordar que “Maria é a Mãe da esperança, o ícone mais expressivo da esperança cristã”, o Papa Francisco percorre brevemente alguns momentos decisivos da vida da Mãe do Senhor, observando que “diante de todas estas dificuldades e surpresas do projeto de Deus, a esperança da Virgem nunca vacilou! Mulher de esperança. Isto diz-nos que a esperança se nutre de escuta, de contemplação, de paciência, para que os tempos do Senhor amadureçam” (Idem).
Nas suas meditações sobre Maria, muitas vezes o Papa volta à cena do Calvário. Ali, Maria “é a mulher da dor e, ao mesmo tempo, da vigilante espera de um mistério, maior que a dor, que está para se cumprir. Tudo parece realmente acabado; poderíamos dizer que toda a esperança se apagou” (Idem). Maria poderia ter se rebelado: “Naquele momento, poderia ter exclamado, recordando as promessas da Anunciação: não se cumpriram, fui enganada” (Idem). Mas a “bem-aventurada porque acreditou, desta sua fé vê brotar um futuro novo e aguarda com esperança o amanhã de Deus”, que para ela é “o amanhecer da Páscoa, daquele dia que é o primeiro da semana” (Idem).
Mesmo com a morte de Jesus, Maria foi a única a manter a esperança. Portanto, durante este Ano Santo, e em cada dia da nossa vida, nos fará “bem pensar, na contemplação, no abraço do filho com a mãe. A única lâmpada acesa no sepulcro de Jesus é a esperança da mãe, que naquele momento é a esperança de toda a humanidade” (Idem). De fato, “devemos muito a esta Mãe! Nela, presente em cada momento da história da salvação, vemos um testemunho sólido de esperança. Ela, Mãe da esperança, nos sustenta nos momentos de escuridão, de dificuldade, de desconforto, de aparente derrota ou de verdadeiras derrotas humanas” (Idem).
Esperar como Maria. Francisco, em várias ocasiões, apontou Maria como modelo da virtude teologal da esperança. Bem no início do seu Pontificado, durante o ano de 2013, afirmou: “O modelo desta atitude espiritual, deste modo de ser e de caminhar na vida, é a Virgem Maria. Uma simples jovem de aldeia, que tem no coração toda a esperança de Deus”. No seio de Maria, a Esperança de Deus “assumiu a carne, fez-se homem, fez-se história”, pois Maria “é mãe e sabe guiar-nos… neste tempo de espera e de vigilância laboriosa” (Idem).
Na sua primeira véspera de Natal como Papa, Francisco recordou que, como Maria, devemos esperar, com a alma aberta, para que Jesus possa vir ao mundo. No Natal, toda a Igreja e cada um de nós está, como Maria, esperando para dar à luz, para experimentar um parto. Por isso, “o Espírito Santo move o coração de cada um para fazer esta oração: Vem, vem!”. Todos os dias do Advento, dizemos, “no prefácio, que nós, a Igreja, como Maria, estamos vigilantes, à espera”. E a vigilância “é a virtude” dos peregrinos que somos todos nós (Idem). Por isso, Maria, peregrina na fé, ajuda a cultivar a esperança. E o Magnificat “é o cântico do povo de Deus a caminho, e de todos os homens e mulheres que esperam em Deus, no poder da sua misericórdia” (Angelus do Primeiro Domingo do Advento).

Esta mensagem é especialmente relevante neste Ano Santo: somos todos Peregrinos de Esperança, como Maria. E, por isso, na Bula de convocação do jubileu, o Papa Francisco conclui sua reflexão mariana fazendo uma alusão aos santuários marianos, lugares aos quais somos todos convidados a peregrinar e a cultivar a rica piedade popular, que “continua a invocar a Virgem Santa como Stella Maris, um título expressivo da esperança segura de que, nas tempestuosas vicissitudes da vida, a Mãe de Deus vem em nosso auxílio, apoia-nos e convida-nos a ter fé e a continuar a esperar” (SNC 24).
Francisco recorda o Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, no México, que em 2031 vai celebrar os 500 anos da aparição da Mãe de Deus ao índio Juan Diego, deixando-nos “uma revolucionária mensagem de esperança que Maria, ainda hoje, repete a todos os peregrinos e fiéis: ‘Porventura, não estou aqui Eu, que sou tua Mãe?’” (Idem). Esta é a mensagem que Nossa Senhora deixa impressa nos corações dos fiéis “em tantos santuários marianos espalhados pelo mundo, metas de inúmeros peregrinos que confiam à Mãe de Deus preocupações, sofrimentos e anseios” (Idem).
Desta forma, o Papa deseja que neste Ano Jubilar “os Santuários sejam lugares sagrados de acolhimento e espaços privilegiados para gerar esperança” (Idem). Fica assim o convite aos peregrinos a fazer “uma paragem orante nos santuários marianos da cidade a fim de venerar a Virgem Maria e invocar a sua proteção”, pois o Papa está “confiante de que todos, especialmente aqueles que sofrem e estão atribulados, poderão experimentar a proximidade da mais afetuosa das mães, que nunca abandona os seus filhos; Ela que é, para o santo povo de Deus, sinal de esperança segura e de consolação” (Idem).