Por que a literatura é necessária para o crescimento da fé?

A partir da Carta do Papa Francisco sobre a literatura, uma monja revê sua experiência com os livros.

Reprodução da obra “Inácio se recupera em Loyola”, por Albert Chevallier-Tayler

O Papa Francisco escreve toda a sua Carta sobre o papel da Literatura na Educação para responder à pergunta que dá título a este artigo.

Ao citar o grande teólogo Karl Rahner, o Papa sublinha que a literatura fala sobre a verdade da vida humana e pode servir para compreender melhor a própria experiência e a vida cotidiana. Diz que a literatura se inspira, na verdade, na rotina diária da vida, nas suas paixões e seus acontecimentos reais como a ação, o trabalho, o amor, a morte e todas as pobres coisas que preenchem a vida (n. 8).

Diz o Papa que a literatura nos prepara para compreender e, portanto, enfrentar as diversas situações que podem surgir na vida. Na leitura mergulhamos nos personagens, nas preocupações, nos dramas, nos perigos, nos medos das pessoas que finalmente superaram os desafios da vida, ou talvez durante a leitura damos conselhos aos personagens que mais tarde serão úteis para nós (n. 17).

Nós vivemos em uma cultura do individualismo e precisamos nos abrir ao mundo dos outros, à forma de perceber e sentir dos outros. Em sua carta, o Papa define a literatura como a experiência de ouvir a voz de alguém (n. 20)!

O Papa dedica uma série de suas audiências ao discernimento de espírito, tal como proposto por Santo Inácio. “É isso que devemos aprender: ouvir o nosso coração, para saber o que acontece, que decisão tomar, para julgar uma situação, é preciso ouvir o nosso coração. Ouvimos a televisão, o rádio, o celular, somos mestres em ouvir, mas eu lhe pergunto: você sabe ouvir o seu coração? Você se aquieta para dizer: Mas como está meu coração? Ele está satisfeito, está triste, está procurando alguma coisa? Para tomar boas decisões você precisa ouvir seu coração” (Audiência Geral de 7 de setembro de 2022).

Nesta perspectiva, cada texto que lemos desperta em nós sensações e sentimentos (n. 28). Santo Inácio de Loyola percebe isso quando, durante sua convalescença, se dedica à leitura de livros que sua cunhada lhe propunha. E descobre assim, um método de discernimento do espírito, quando se dá conta da diferença que causava em seus pensamentos a leitura de livros sobre os santos, em relação aos livros de cavalaria que antes gostava muito de ler. Na verdade, a literatura, a leitura, o encontro misterioso com uma multidão infinita de personagens nos ajuda a nos encontrarmos. É muito interessante que o Papa nos lembra que a dor ou o tédio que se sente ao ler certos textos não são necessariamente sensações ruins ou inúteis. 

Para mim pessoalmente, ajudou muito cada encontro com os livros, principalmente a vida dos santos que sempre li desde a infância. E notava, como experimentou Santo Inácio, um consolo em encontrar as situações da vida simples e cotidiana, mesmo na vida dos grandes santos. Suas lutas, dúvidas, alegrias e abandono à Providência de Deus. Era também muito bonito para mim, ver como os santos liam outros santos que os precederam e que grande proveito tiravam de suas obras, autobiografias, diários e cartas. Mesmo os poemas que refletem os sentimentos mais profundos com muita delicadeza e discrição foram sempre para mim uma grande escola. Em cada livro precioso encontrava o poder imponente da palavra! Quem escreve é sempre uma pessoa inspirada, cheia da experiência que quer transmitir por escrito com as nossas palavras humanas, que são sempre um reflexo da realidade divina. Jesus é a Palavra!

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