Protagonista do bem comum

Empreendedora social premiada e com experiência internacional, Gisela Solymos é cofundadora e foi gerente geral do Centro de Recuperação e Educação Nutricional (CREN), uma organização sem fins lucrativos, referência internacional no combate à má nutrição infanto-juvenil. A ONG já atendeu mais de 160 mil pacientes e capacitou mais de 42 mil profissionais, beneficiando 7,9 milhões de pessoas indiretamente. Neste texto, ela relata como a percepção da “experiência elementar”, formulada por Luigi Giussani, impactou seu trabalho.

Crianças no Cren. Fonte: divulgação.

Sara [nome fictício] tinha 19 anos e um filho desnutrido de três anos, que estava sendo tratado no Centro de Recuperação e Educação Nutricional (CREN). Quando a conheci, a equipe de atendimento estava prestes a pedir a intervenção do Conselho Tutelar, pois ela não levava a criança às consultas agendadas e chegava atrasada às atividades previstas, levando ao insucesso do tratamento. Ela morava com seu companheiro e o filho, em um barraco de madeira com chão de terra batida. Dormiam em colchões umedecidos, por ficarem diretamente no chão.

Ao encontrá-la, perguntei-lhe: “você ama seu filho?”. Seus olhos encheram-se de lágrimas e ela respondeu: “sim”. A partir daí, quebraram-se as barreiras, e retomou-se uma relação entre ela e o CREN, permitindo não só a recuperação do filho, mas também a reordenação da vida familiar e a reforma da casa após uma enchente. Sara, sentindo-se olhada em seu desejo mais profundo, renovou as esperanças, fortaleceu-se e passou a seguir todas as indicações dadas.

Esta forma de olhar para a pessoa não foi aprendida em meu curso de Psicologia, mas com Padre Luigi Giussani, que me introduziu à experiência elementar, essa exigência de felicidade, verdade, justiça, beleza, que é o motor de todas as ações humanas. Ao longo dos anos, trabalhamos a partir dessa hipótese, de que tudo o que fazemos busca esses objetivos e foi isso que fiz naquele dia com Sara.

Esse mesmo desejo de beleza, verdade, justiça, amor é o que move a todos os empreendedores sociais que conheci nas redes nacionais e internacionais das quais comecei a participar após receber o prêmio de Empreendedor Social do Ano pela Folha de São Paulo e Fundação Schwab, em 2011. É por causa deste motor que todos trabalham. A experiência elementar é também fonte de verdadeira criatividade, pois permite que o empreendedor permaneça conectado ao seu propósito, e, ao mesmo tempo, seja muito livre quanto à forma de realizá-lo. Por exemplo: se trabalho para que o mundo seja mais justo, e reconheço esse critério de justiça em meu coração, dentro de mim, e não fora de mim como em um conjunto de regras ou em uma carta de intenções escrita por outrem. Se ele está presente dentro de mim, tenho a liberdade de criar e buscar novas maneiras de realizá-lo.

Deixe um comentário