Um filme com imagens marcantes, lento e contemplativo, Solaris, do russo Andrei Tarkovsky, baseado no romance de Stanisław Lem, narra a missão do psicólogo Kris Kelvin, enviado à estação espacial que orbita o planeta Solaris, para avaliar o estado mental da tripulação, após uma série de eventos estranhos e mortes.
Ao chegar lá, ele se depara com um ambiente perturbador. Os cientistas restantes, cada um à sua maneira, foram impactados pelo reaparecimento de pessoas queridas já falecidas, como se criadas pelas suas memórias e desejos. O próprio Kelvin passa a experimentar esse fenômeno quando sua falecida esposa reaparece diante dele, levando-o a questionar sua própria sanidade e a natureza da realidade, debatendo-se entre a felicidade de tê-la de volta e a estranheza de sua existência após a morte.
Uma estranha atmosfera fluida, que cerca o planeta, parece ter algo a ver com essa ambígua e trágica realização dos desejos humanos. Tema recorrente na obra de Tarkovsky, o desejo humano está intimamente vinculado à experiência da transcendência, ao encontro com algo que nos aproxima da divindade. Mas a satisfação dos desejos, ainda que possa ser nossa principal meta, nos enche de um certo pavor: quem poderá realizar aquilo que a nós mesmos parece impossível? qual o preço a pagar para realizar o impossível?
Memória, perda, amor, identidade e a natureza do real ganham um novo contorno diante da presença magnifica e avassaladora de Solaris, com sua atmosfera misteriosa. Tarkovsky não se propõe a uma discussão teológica sobre Deus, mas a um mergulho na natureza humana que só é possível diante do totalmente Outro, que nos revela a nós mesmos de um modo que não seríamos capazes de imaginar.
Em 2002, Steve Soderbergh fez uma versão mais leve e menos reflexiva do filme, com George Clooney.
SOLARIS (СОЛЯРИС)
Direção: Andrei Tarkovsky
Roteiro: Andrei Tarkovsky e Friedrich Gorenstein
Elenco: Donatas Banionis e Natalya Bondarchuk
Duração: 167 minutos
Disponível: Mubi e Youtube
