O Papa Francisco nos diz que estas palavras, “serei o amor”, são a opção radical de Teresinha por uma Igreja que não seja triunfalista, mas “amorosa, humilde e misericordiosa” C’est la confiance, (cf. CC 40). Oferece-nos a figura de Teresinha e o seu caminho de fé como “uma grande luz também para nós hoje, para não nos escandalizarmos pelos limites e fragilidades da instituição eclesiástica, marcada pelas trevas e pelos pecados” (CC 41). Cada um de nós precisa encontrar o seu lugar na Igreja, encontrá-lo todos os dias com as escolhas que fazemos e fazer frutificar aquela semente de bondade e de amor que Deus colocou nos nossos corações com o Batismo. Teresinha é “ar fresco para a Igreja”, um convite à ousadia e à liberdade, para nos deixarmos conduzir ao “centro, ao essencial, ao indispensável” (idem).
Para lançar sua exortação apostólica C’est la confiance (CC), que nos apresenta Santa Teresa do Menino Jesus e a sua mensagem, o Papa Francisco não escolheu nenhuma data ligada a Santa Teresinha, mas, sim, o dia em que se celebra a grande santa mística espanhola, Teresa de Ávila, 15 de outubro, porque Teresinha é o “fruto maduro” do caminho percorrido por ela (cf. CC 4). Santos geram santos… O bem gera o bem… A experiência de Santa Teresa D’Ávila e o ensinamento espiritual que transmitiu às suas filhas, o estilo de vida que fundou e o seu grande amor pela Igreja, permitiram a Santa Teresinha percorrer todo o seu caminho nessa mesma direção, na fé e na confiança em Deus.
O Papa deseja que essa exortação seja considerada “parte do tesouro espiritual da Igreja” (CC 4). Por que? Porque nos falta confiança…. Embora nos tornemos cada vez mais autoconfiantes, falta-nos confiança…. Confiança que leva ao Amor, a Deus que é Amor. Falta-nos esperança e confiança porque não acreditamos com fé viva que existe ALGUÉM que segura a nossa mão na vida, que nos segura na Sua mão.
Sentimos falta do amor. Para Teresinha, o momento decisivo foi quando, procurando desesperadamente a própria vocação (mesmo tendo sido feliz durante anos no seu mosteiro das carmelitas descalças), descobriu na carta de São Paulo aos Coríntios que existem muitos carismas, mas entre eles o maior é o amor. Assim o descreve:
“Como as minhas imensas aspirações eram para mim um martírio, recorri às cartas de São Paulo, para finalmente encontrar uma resposta. Meus olhos caíram por acaso nos capítulos 12 e 13 da primeira carta aos Coríntios, e li na primeira que todos não podem ser apóstolos, profetas e mestres ao mesmo tempo e que a Igreja é composta de vários membros e que o olho não pode ser a mão ao mesmo tempo. Uma resposta clara, certamente, mas não uma que satisfizesse os meus desejos e me desse paz. Continuei lendo e não desanimei. Até que encontrei uma frase que me deu alívio: ‘Aspire aos maiores carismas. E eu vos mostrarei um caminho melhor que todos’ (1Cor 12,31). Com efeito, o Apóstolo declara que mesmo os melhores carismas não são nada sem a caridade, e que esta mesma caridade é o caminho mais perfeito que conduz com segurança a Deus. Finalmente, encontrei a paz. Considerando o corpo místico da Igreja, não me encontrei em nenhum dos membros que São Paulo descreveu, ou melhor, quis me ver em todos eles. A caridade me ofereceu a pedra angular da minha vocação. Entendi que a Igreja tem um corpo composto de vários membros, mas que a este corpo não pode faltar o membro necessário e mais nobre. Entendi que a Igreja tem um coração, um coração queimado pelo amor. Compreendi que só o amor impulsiona os membros da Igreja à ação e que, uma vez extinto este amor, os apóstolos já não anunciariam o Evangelho, os mártires já não derramariam o seu sangue. Compreendi e soube que o amor abrange todas as vocações, que o amor é tudo, que se estende a todos os tempos e lugares, numa palavra, que o amor é eterno. Então, com grande alegria e êxtase de alma, gritei: ‘Ó Jesus, meu amor, finalmente encontrei minha vocação. Minha vocação é o amor. Sim, encontrei meu lugar na Igreja e você me deu esse lugar, oh, meu Deus. No coração da Igreja, minha mãe, serei o amor e assim serei tudo e meu desejo se traduzirá em re- alidade’” (SANTA TERESINHA, História de uma alma, São Paulo: Paulus).