Terminado o Jubileu, a esperança continua

Estamos chegando ao final deste Jubileu da Esperança: entre 25 de dezembro e 6 de janeiro, serão fechadas todas as Portas Santas abertas para este evento. Há uma certa nostalgia neste momento. Francisco, que nos exortou a experimentar a misericórdia e a esperança, não está mais entre nós. Para o fitarmos, temos que voltar nossos olhos para a infinitude de Deus – é lá, do lugar que Ele guardou para aqueles que O amaram neste mundo, que o Papa argentino, com seus antecessores, nos observa, certamente desejoso de que nós também caminhemos ao encontro de Cristo em nossas vidas.

Vatican Media

Recentemente, falando aos libaneses, Leão XIV associou a esperança à resiliência diante dos dramas da vida. Os que lutam pela paz são animados pela esperança, disse ele. Passadas as comemorações do Jubileu, somos chamados a viver nossas vidas com esta resiliência, que pode ser cheia de letícia mesmo na provação. Francisco tinha razão quando escolheu o tema da esperança para este Jubileu de 2025. A humanidade toda, não apenas os libaneses ou as vítimas de guerras e catástrofes, precisa de esperança.

Contudo, mesmo depois de quase um ano de reflexão, ainda nos é difícil entender a esperança cristã. Frequentemente, a confundimos com uma ilusória “força do pensamento positivo”. Imaginamos que as coisas boas acontecerão se as desejarmos com intensidade ou que, se nos esforçarmos bastante, nossos méritos serão recompensados já nesta vida. Tais expectativas algumas vezes se realizam, outras vezes não…

A “esperança que não decepciona” é algo diverso das expectativas do pensamento positivo. Ela se realizará plenamente na vida eterna, mas – como lembrava Bento XVI na Spe salvi (SS 7), já nos dá algo nesta vida, um rebento que confirma a promessa. Subsiste mesmo na dor e na dificuldade – aliás, se revela, em toda a sua força e beleza, em meio às dores e sofrimentos. Vemos esta esperança presente justamente quando encontramos aqueles que vivem suas dificuldades com letícia, essa alegria serena e profunda, típica da fé.

Mas pode haver alegria mesmo na provação? Podemos acreditar no bem, mesmo quando o mal parece triunfar? Estas perguntas desafiam o testemunho cristão ao longo dos séculos. A esperança cristã não é aquela de que o mal, as dores e as provações desaparecerão, de que as coisas más não acontecerão. Elas estão aqui, nos cercam, acontecem com bons e com maus. É uma necessidade e um dever moral lutarmos contra elas. Isso não garante que as coisas irão terminar da forma como desejamos. Nossa esperança não é a de não sofrer, mas sim a de passar pelas dificuldades na companhia de Cristo.

Deus corresponde ao grande anseio de nosso ser, fomos feitos para Ele e nosso coração só Nele repousa, como bem notou Santo Agostinho. Nossa esperança é a certeza de que já O encontramos, que Ele nos acompanhará até o final desta vida e, ainda mais, na próxima – é a felicidade simples que nasce de não estarmos mais sozinhos, de podermos atravessar os momentos felizes e os desafiadores em companhia do grande Amor que nos realiza definitivamente. A esperança cristã, por isso, se fortalece na memória. Não é uma confiança cega em algo que vai acontecer, mas uma certeza que vai se consolidando por meio de uma infinidade de pequenos indícios que vão se avolumando ao longo de uma vida.

Assim, como diria o Papa Francisco, “na expectativa da vida eterna, caminhemos cantando; que as nossas lutas e a nossa preocupação não nos tirem a alegria da esperança” (cf. Laudato si’, LS 244).

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