Um dia e meio

A Netflix oferece um thriller policial consistente e com capacidade de atrair a atenção do espectador – ficou entre os Top10 da plataforma na semana de seu lançamento – que, ao mesmo tempo, introduz reflexões que nesses tempos tão conturbados são muito necessárias.

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É um filme sueco, que procura refletir a diversidade étnica atual do país. Artan, albanês, divorciado recentemente de Louise, uma enfermeira sueca, e Lukas, um policial de origem provavelmente libanesa ou síria, protagonizam o filme, que acontece no intervalo de um dia e meio. O ex-marido invade o hospital onde trabalha Louise e ameaça-a com um revólver porque quer se encontrar com a filha pequena, que ficou sob a custódia da mãe. A polícia cerca o hospital e Lukas, um inspector de polícia, se oferece como “refém”, mas acaba sendo forçado a dirigir um carro, com o sequestrador no banco traseiro apontando permanentemente o revólver contra sua ex-mulher.

A partir desse momento, durante uma perseguição contínua, a tensão aumenta e o diálogo dentro do carro vai tentando explicar para os espectadores o motivo de toda essa violência. São temas que nos últimos anos não apareciam mais nos cinemas, a não ser em alguns poucos filmes e quase nunca nos de ação. A partir da perspectiva do policial, vamos torcendo para que a situação se resolva da melhor maneira, mais ainda a partir do momento em que a criança, no seu bercinho, também passa a ser passageira do carro.

Em diálogos curtos, tensos e pouco delicados, que vão aparecendo como espasmos, enquanto o carro vai percorrendo as estradas da Suécia, e tanto o inspetor quanto o espectador ficam preocupados porque o dedo não sai do gatilho e Artan vai ficando cansado, nervoso, tenso e com sono a ponto de poder disparar em qualquer momento, mesmo sem querer, o filme nos leva a pensar e refletir sobre o sentido da existência, a forma de encarar e de viver a própria vida, a maneira de cuidar ou não cuidar dos filhos e tudo quanto se pode dizer e pensar quando a nossa vida pende de um fio. Talvez o momento mais esclarecedor de todo o drama seja quando o carro e os seus três passageiros chegam a casa dos avós da criança, os pais da Louise. Os diálogos entre os pais, carregados de ódio e xenofobia contra o ex-genro, e de decepção e raiva contra a própria filha, dão um pouco de luz, não muita, para tentar entender os motivos de tudo aquilo a que estamos assistindo. Assim como talvez o momento mais emotivo do filme seja quando o sequestrador empresta o seu celular para que o policial ligue para o seu filho, que está decepcionado com o pai e que pouco se veem e falam, para que o cumprimente pelo seu aniversário.

De acordo com uma entrevista que o próprio diretor deu, parece que se inspirou numa curta notícia de jornal. Fares perguntou-se naquele momento o que poderia levar um ex-marido a ameaçar e colocar em risco a vida da sua ex-esposa apenas para poder ver a filha de ambos. Como ele mesmo disse, tinha pouca coisa ali no jornal, mas percebia que poderia ser uma história de amor. E com essas premissas, acabou realizando o seu longa-metragem.

É um filme que, dentro do que se propõe, não decepciona. Atrai e prende pela sua ação e intensidade típica de thriller e, ao mesmo tempo, desperta questões às quais importa muito refletir. Vale a pena.

UM DIA E MEIO
(En Dag och en Halv)
Gêneros:
Ação, Drama, Suspense
Direção: Fares Fares
Roteiristas:
Fares Fares, Peter Smirnakos
Elenco:
Fares Fares, Alma Pöysti e Alexej Manvelov
Produção:
Suécia, 2023
Duração: 1h34’
Disponível:
Netflix
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