Um percurso de redescoberta da fé na cultura de hoje

Capas das primeiras edições brasileiras do Percurso, de Luigi Giussani.

A trajetória sacerdotal de Dom Luigi Giussani está intimamente ligada ao movimento por ele criado, Comunhão e Libertação, mas também pode ser entendida como resposta à pergunta: como apresentar a fé de forma persuasiva, particularmente aos jovens, em nosso tempo?

Sua primeira intuição, que se mostrou plenamente válida a partir da segunda metade do século XX, foi a de que uma fé transmitida apenas por tradição e mantida à custa de normas e valores morais hegemônicos em nossas sociedades não se sustentaria no coração dos jovens. Por isso, dedicou-se ao ensino religioso e ao acompanhamento da juventude. Seus livros, na maior parte das vezes, nascem de suas lições e de seus diálogos com os jovens.

Sua obra principal são os três volumes do PerCorso (Percurso), um jogo de palavras em italiano: “para um curso” (no sentido de atividade escolar) e percurso (trajetória que se percorre rumo a um destino). Nasceram de seu trabalho como professor de religião tanto no Ensino Médio quanto na universidade.

O primeiro volume, O senso religioso (Jundiai: Paco Editorial, 2018), inicia-se justamente com uma discussão metodológica sobre as premissas necessárias para se reconhecer a experiência religiosa e o Cristianismo: realismo, racionalidade e moralidade. Continua descrevendo as características do ímpeto religioso presente em todo ser humano e apresenta as situações que dificultam o reconhecimento dessa natureza religiosa em nossa sociedade atual.

O segundo volume, Na origem da pretensão cristã (São Paulo: Companhia Ilimitada, 2012), mostra como Jesus Cristo é a resposta mais completa ao anseio religioso do ser humano. O título traz uma sugestiva provocação: o Cristianismo tem a pretensão de ser a resposta definitiva a uma busca universal do ser humano, tem a pretensão de apresentar um homem de carne e osso, sujeito às limitações da matéria, à derrota e à morte, como sendo o próprio Deus onipotente. Sem a percepção dessa desproporção, desse abismo que separa a pretensão cristã das demais realidades humanas, não somos capazes de entender o seu significado e podemos nos perder em leituras moralizantes ou numa tentativa intelectualista de apreendê-lo como mais uma “filosofia de vida”. Novamente, a questão metodológica se apresenta na reflexão sobre as características da encarnação: Cristo não se apresenta à humanidade na forma de um soberano todo-poderoso, como a maioria das religiões esperaria, mas, sim, na forma de um ser humano igual a cada um de nós. Esse dado, surpreendente para a lógica estritamente humana, se constitui, na reflexão de Giussani, num fio condutor que permite compreender melhor o amor de Deus por nós.

Por fim, o terceiro volume do Percurso, Por que a Igreja (São Paulo: Companhia Ilimitada, 2015) se dedicará ao fato mais escandaloso de todos: Cristo quer chegar a cada ser humano, ao longo da história, por meio de uma instituição humana, sujeita aos tantos pecados praticados por seus responsáveis. Nesse volume, Giussani enfrentará as grandes objeções tanto sociais quanto individuais ao ser a Igreja. Mostra as suas características fundamentais segundo a formulação presente no Credo (única, santa, católica e apostólica) como critérios com que cada ser humano pode se defrontar para “verificar” a pertinência da proposta católica.

Giussani, no Percurso, mostra um caminho de dupla via, do ser humano que busca, por meio de suas experiências e da sua razão, e de Deus que vai ao seu encontro, se revelando em Jesus Cristo.

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