Celebrando o Mês da Bíblia, como é conhecido o mês de setembro na Igreja Católica, por causa da festa de São Jerônimo (no final do mês), patrono dos estudos bíblicos, a Pastoral Universitária e a Cátedra de Estudos Judaicos da PUC-SP, em colaboração com a Sociedade Bíblica do Brasil e o Centro Universitário Assunção (Unifai), organizaram uma exposição de fotos, bibliografias e palestras para apresentar os Manuscritos de Qumran, importantíssimos para a nossa visão contemporânea da Bíblia
Há 75 anos, três jovens beduínos procuravam uma cabra perdida nas colinas do deserto da Judeia, perto do Mar Morto, território então pertencente ao Reino da Jordânia. Nessa excursão, acabaram atingindo, sem se darem conta da importância da descoberta, muitos dos mais preciosos textos religiosos da Antiguidade: milhares de fragmentos de manuscritos, alguns em estado lamentável, outros bem extensos e em condições melhores de preservação. A sorte de tais materiais foi muito diversificada, desde a venda de pergaminhos (peles de animais) para a confecção de cordões de sandálias, até cortes das maiores peças em pedaços menores para serem vendidos no varejo a colecionadores e aventureiros.
Onze cavernas abrigavam todo o material. Identificado como preciosa fonte de pesquisa, foi logo procurado por diversas instituições: universidades, religiões, governos, arqueólogos, paleontólogos, mas também comerciantes de antiguidades etc. O governo da Jordânia confiou a direção da exploração científica dos materiais à École Biblique et d’Archéologie Française de Jérusalem, mantida pela Ordem dos Pregadores (Dominicanos), dirigida pelo Padre Roland Guérin De Vaux OP, já notável arqueólogo, historiador, linguista e exegeta. Constituída uma equipe com sábios de várias nações, deu-se início a um trabalho minucioso. Grande parte dos manuscritos, restaurados, já foram publicados e são objeto de estudos aprofundados, comentários e atualizações. Atualmente, a maior parte dos manuscritos está sob custódia do Museu ou Santuário do Livro, em Jerusalém, embora vários manuscritos estejam também em Amã, capital da Jordânia.
Os Manuscritos do Mar Morto e a Bíblia. Os manuscritos, que contêm tanto textos bíblicos quanto não-bíblicos, estavam enrolados dentro de grandes potes de cerâmica. A maior parte era constituída de pergaminhos (couro de cabras, ovelhas), mas havia também textos em papiros (material vegetal) e alguns em finas lâminas de cobre. A maioria foi escrita no idioma hebraico, mas também se encontraram textos em aramaico, nabateu e grego.
Os textos encontrados reúnem cópias de todos os livros do Cânon hebraico da Bíblia (que os cristãos chamam de Antigo ou Primeiro Testamento), com a única exceção do Livro de Ester. Entre os textos não bíblicos, destacam-se, sobretudo, documentos que dizem respeito à vida da comunidade que produziu tais manuscritos, seus hábitos, sua liturgia, sua hierarquia etc.
Estima-se que essa documentação tenha mais de dois mil anos. As análises dos melhores laboratórios atestam que os materiais encontrados remontam pelo menos ao segundo século antes de Cristo. Se não há dúvidas quanto à datação, pairam, porém, ainda algumas dúvidas sobre quem teria produzido tais manuscritos.
A teoria mais corrente entre os especialistas diz que tudo provém de uma seita judaica monástica, os Essênios, que vivia num assentamento vizinho ao deserto da Judeia, que em árabe se chama Khirbet Qumran (ruínas de Qumran). Teriam sido, portanto, os redatores dos documentos, os copistas dos textos. Essa seita é atestada pelo historiador judaico Flávio Josefo (37-100 dC), que escreveu sobre ela na obra Antiguidades Judaicas. Outro autor que a mencionou foi o filósofo judeu Filão de Alexandria (20 aC-50 dC), embora este aproxime os Essênios de um fenômeno mais urbano do que de uma comunidade eremítica. Há quem atribua os documentos a mais de um grupo, achando que tal quantidade de manuscritos não poderia pertencer somente a uma pequena comunidade. Talvez um grupo tenha feito as cópias, e outro as tenha ocultado nas cavernas, na iminência de uma invasão. São teorias ainda em discussão.
Muito interessante!