Vidas Passadas (Past Lives)

Uma história de amor impossível, daquelas que não se fazem mais em Hollywood, talvez porque, no limite, pouco se acredite ou se saiba sobre o que venha a ser o amor no mundo ocidental. Estamos diante de um clássico, como na sua época já foi “Casablanca”, só que em chave oriental e, concretamente, coreana.

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Vidas Passadas foi indicado ao Oscar de melhor filme e roteiro original, e conta a história de Nora (Greta Lee) e Hae Sung (Teo Yoo), dois amigos de infância com uma conexão profunda, mas que acabam se separando quando a família de Nora decide sair da Coréia do Sul e se mudar para a cidade de Toronto, no Canadá. Vinte anos depois, os dois amigos se reencontram em Nova York e vivenciam uma semana difícil de qualificar num único adjetivo.

Aliás, esse seria o desafio que gostaria de lançar a quem me estiver lendo: que nome daria a essa semana em que as duas personagens do filme passaram juntas em Nova York? Que qualificativo usaria para completar aqui: foi uma semana…dura? Difícil? Linda? Doce? Romântica? Talvez ajude a decidir se prestar atenção ao diálogo que Nora e o seu marido canadense têm na cama enquanto nenhum dos dois consegue dormir.

A diretora, Celine Song, disse numa entrevista que o filme “é uma coisa vivida em meu próprio corpo”. E não deixa de ser surprendente o fato de que, sendo o seu primeiro longa como diretora, seja candidata ao Oscar. É um filme de silêncios, de gestos simples e delicados, de olhares. Um filmeno qual o simples andar juntos ou um olhar carinhoso para quem se ama tem todo o peso da trascendência daquilo que, no fundo e de verdade, é realmente o amor.

Dá a impressão de que a diretora quis deixar para cada um dos que assistirem ao seu filme o peso das decisões. No começo, trata-se de duas crianças que se gostam e se querem bem, mas não têm como decidir por si próprios. Depois, quando voltam a se encontrar pela internet, são jovens com toda a vida pela frente e ainda não há necessidade de tomar nenhuma decisão mais defintiva, até porque sempre há um momento algo mais para a frente do presente. E quando, depois de 24 anos, finalmente voltam a se encontrar, então somos nós que queremos tomar as decisões por eles até porque parece que eles ainda não se decidem. E mesmo assim, as decisões são tomadas sim, mas com aquela delicadeza e aquele ritmo lento oriental aos quais parece que não estamos muito acostumados.

Pelo título do filme, tendemos a pensar que talvez haja um certo fatalismo de fundo, como se tudo já tivesse sido resolvido num momento bem anterior, antes mesmo de as pessoas existirem. Contudo, basta assistir ao desenrolar da história para perceber que cada uma das personagens foi se tornando adulta à medida precisamente em que foi tomando as suas decisões e, mais ainda, foi se tornando mais humana e confiável à medida em que suas decisões foram sendo confirmadas com suas próprias vidas e suas próprias dores e alegrias de cada momento presente.

O filme ainda não chegou ao streaming e ainda se falará muito dele quando o Oscar estiver mais próximo. Vale a pena conferir. É mesmo uma bela história de amor.

VIDAS PASSADAS (Past Lives)

Gêneros: Ação, Drama, Suspense
Direção: Celine Song
Roteiro:
Celine Song
Elenco: Greta Lee, Yoo Teo, John Magaro
Lançamento:
2024
Duração:
1h46min

10 comentários em “Vidas Passadas (Past Lives)”

  1. Já assistir e desculpe ter um olhar diferente. Me doeu mais uma vez ver a posição do marido como um incômodo, um peso, para duas pessoas mal resolvidas. Pra mim o recado que fica é: se resolva, antes de arrastar uma pessoa para estar com vc na sua vida. Me incomodou!

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  2. Um filme belo e profundo.
    Um amor que nasce em corações puros, que não se perdem. O crescimento de ambos como pessoa vai se desenvolvendo ao longo da caminhada de cada um, com um ponto forte em comum, eles se amam de verdade. Embora, as escolhas de ambos tragam à frente a individualidade de cada um deles. A maturidade de cada personagem é notável ao final do filme, com mais uma escolha difícil, permanecerem separados. Só que desta vez, não houve um adeus e sim um até breve. Amei o filme.

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  3. O filme é uma obra de arte. Precisamos dele, pois estamos endurecendo nas nossas emoções. Um filme para meditar, pois o silêncio com a presença é algo muito forte, intenso, mostrando um verdadeiro amor, ou não, O AMOR.
    Nos mostrou que o verdeiro amor, existe: respeito, compreensão, admiração, cumplicidade e a Liberdade de SER, apenas, sem o aprisionamento, que nós vemos nas relações antigas e ainda atuais.
    Amei…….
    Parabéns pela beleza, sutileza em mostrar o ser humano.

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  4. Filme maravilhoso e que me tocou muito! Só podia ser oriental, pela delicadeza dos gestos. A atuação do ator Yoo Teo é digna de todos os prêmios!

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  5. O filme me causou uma dor fininha pelo fato de abordar uma história de amor impossivel. Quem nunca?
    Fiquei impressionada com a postura do marido, calmo, elegante, econômico nas palavras. Sabe-se lá como ele estaria se sentindo internamente. Excelente filme!

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  6. Amei a fotografia da cidade americana sob a ótica coreana. Nunca vi igual em nenhum filme de Hollywood. A história é linda. Este filme me fez pensar TB em minhas vidas passadas. As decisões que tomei… Enfim… Poderia ter sido diferente.

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