15 anos da V Conferência: Discípulos-missionários enraizados em Cristo

Conferência de Aparecida foi um chamado à renovação missionária à luz do encontro com Cristo

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Há exatos 15 anos, entre os dias 13 e 31 de maio de 2007, aconteceu a V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. Aberto pelo Papa Bento XVI durante sua viagem apostólica iniciada em São Paulo, o evento continental teve como tema “Discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que Nele nossos povos tenham vida” e o lema “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14,6)”. 

Proposto pelo Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), o tema da conferência recebeu um acréscimo de Bento XVI na formulação – “para que Nele” –, reforçando o caráter cristológico. Esse aspecto foi ressaltado pelo hoje Papa Emérito, no discurso inaugural do evento, afirmando que para ser um verdadeiro discípulo-missionário de Cristo é preciso segui-lo, viver em intimidade com Ele, imitar o seu exemplo e dar testemunho. “Pois ser discípulo e missionário de Jesus Cristo e buscar a vida ‘Nele’ supõe estar profundamente enraizado Nele”, afirmou. 

Ao lançar um olhar sobre a realidade na qual a Igreja latino-americana estava inserida, o Pontífice enfatizou que essa não se resume aos bens materiais, problemas sociais, econômicos e políticos. “Somente quem reconhece Deus conhece a realidade e pode corresponder-lhe de modo adequado e realmente humano. A verdade dessa tese resulta evidentemente diante do fracasso de todos os sistemas que põem Deus entre parênteses”, disse. 

OPÇÃO EM CRISTO 

Referindo-se à“opção preferencial pelos pobres”, expressão bastante enfatizada nas conferências anteriores, Bento XVI afirmou que ela “está implícita na fé cristológica naquele Deus que se fez pobre por nós, para nos enriquecer com a sua pobreza (cf. 2Cor 8,9)”. Ao mesmo tempo, reforçou que, para conhecer Cristo, poder segui-lo e comunicá-lo ao próximo, é preciso conhecer sua vida e doutrina, sobretudo por meio de sua Palavra e dos sacramentos. 

Bento XVI salientou, ainda, que “os povos latino-americanos e caribenhos têm direito a uma vida plena, própria dos filhos de Deus, com condições mais humanas: livres das ameaças da fome e de todas as formas de violência”. 

Por fim, evocando o apelo dos discípulos de Emaús (cf. Lc 24,29), o Santo Padre fez uma prece na qual pediu: “Fica conosco, Senhor, acompanha-nos mesmo se nem sempre te soubemos reconhecer. Fica conosco, porque se vão tornando mais densas à nossa volta as sombras, e tu és a luz; em nossos corações insinua-se o desespero, e tu os faz arder com a esperança da Páscoa. Estamos cansados do caminho, mas tu nos confortas na fração do pão para anunciar a nossos irmãos que, na verdade, tu ressuscitaste e que nos deste a missão de ser testemunhas da tua ressurreição”. 

SAIBA MAIS SOBRE AS 5 CONFERÊNCIAS 

I CONFERÊNCIA
De 25 de julho a 4 de agosto de 1955,
no Rio de Janeiro (Brasil)
Os trabalhos foram orientados a partir de uma carta enviada pelo Papa Pio XII, Ad Ecclesiam Christi, na qual o Santo Padre afirmou sua confiança de que o continente latino-americano em pouco tempo se acharia em condições de responder, com vigoroso impulso, à vocação de comunicar também a outros povos, os ansiados dons da salvação e da paz. Na conclusão, os cerca de 100 bispos participantes enviaram ao Papa o pedido de criação de um organismo para congregar os episcopados da América Latina e do Caribe, o qual foi aprovado pelo Pontífice em 2 de novembro daquele ano, surgindo, assim, o Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam). 

II CONFERÊNCIA
De 24 de agosto a 6 de setembro de 1968,
em Medellín (Colômbia)
Foi aberta por São Paulo VI. As reflexões tiveram como horizonte a implementação do Concílio Vaticano II (1962-1965) e os clamores e esperanças dos povos do continente, analisadas a partir do método Ver-Julgar-Agir. O documento final apontou que a injustiça institucionalizada é a causa da pobreza no continente, ressaltou que a paz é fruto da justiça, e que é preciso romper com as estruturas que afetam a vida da população mais pobre. Participaram 137 bispos, além de sacerdotes, religiosos, leigos católicos e observadores não católicos. 

III CONFERÊNCIA
De 28 de janeiro a 13 de fevereiro de 1979,
em Puebla (México)
Aberta por São João Paulo II, as reflexões se centraram sobre os caminhos para a evangelização na América Latina, ressaltando-se, novamente, a opção preferencial pelos pobres e a comunhão e participação como fundamentais para a eclesialidade. A exortação Evangelii Nuntiandi, de São Paulo VI (1975), guiou as reflexões, indicando que o caminho da evangelização envolve a promoção da dignidade humana e a libertação dos pobres das estruturas de opressão. Participaram cerca de 190 bispos, além de sacerdotes e leigos. 

IV CONFERÊNCIA
De 12 a 28 de outubro de 1992,
em Santo Domingo (República Dominicana)
Aberta por São João Paulo II, teve como tema a “Nova evangelização, promoção humana, cultura cristã”. Foi realizada no contexto das comemorações dos 500 anos do início da evangelização na América. No discurso inaugural, o Pontífice destacou que o chamado à nova evangelização é, acima de tudo, um chamado à conversão; e, na mensagem final, os bispos apontaram que todos os fiéis estão convocados à nova evangelização, à promoção da dignidade humana e à valorização da cultura cristã. Dos cerca de 350 participantes, 234 eram bispos com direito a voto. 

V CONFERÊNCIA
De 13 a 31 de maio de 2007, em Aparecida (Brasil)

Com o tema “Discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que Nele nossos povos tenham vida”, a conferência foi aberta pelo Papa Bento XVI. No documento conclusivo, os bispos ressaltaram o compromisso da Igreja no continente de “conservar e alimentar a fé do povo de Deus e recordar também aos fiéis deste continente que, em virtude de seu Batismo, são chamados a ser discípulos e missionários de Jesus Cristo”. Participaram 160 bispos e outras cem pessoas, entre religiosos e leigos, e integrantes de outras religiões que foram convidados. 

(Pesquisa e edição: Daniel Gomes)

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