5G no Brasil: saiba o que pode estar por vir com a chegada dessa tecnologia

Especialista esclarece os principais pontos envolvendo a tecnologia que marca o início de uma nova era de conectividade no País e está prevista para chegar a partir de 2022

Admc/Pixabay

O leilão do 5G, promovido no início de novembro pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), foi o primeiro passo para a instalação da nova tecnologia de conexão à internet no território brasileiro, prevista para chegar às 26 capitais do País e ao Distrito Federal até julho de 2022.

A quinta geração da telefonia móvel (5G) é uma evolução da atual conexão 4G. Ela promete revolucionar a conectividade por oferecer uma velocidade ultrarrápida para baixar e enviar arquivos e reduzir o tempo de resposta entre diferentes dispositivos, o que resultará em uma conexão mais estável e sem delay (atraso).

O 5G vai permitir, ainda, conectar a rede a muitos objetos ao mesmo tempo, sem comprometer a recepção do sinal.

No que corresponde à velocidade, a mais alta que o 4G pode chegar é próxima a 100 Mbps (megabits por segundo), enquanto o 5G pode alcançar entre 1 e 10 Gbps (gigabits por segundo), velocidade 100 vezes maior.

NA PRÁTICA

Na análise de Gustavo Henrique Bolognesi Donato, professor e reitor do Centro Universitário FEI, engenheiro mecânico pela mesma instituição, pós- -graduado em Administração de Empresas pela Fundação Getulio Vargas e doutor em Engenharia pela Poli-USP, o 5G trará impacto ao usuário em muitos aspectos na vida pessoal e profissional.

“O 5G é estruturante para habilitar a transformação digital como um todo, nos negócios, no trabalho, na educação pelos ambientes colaborativos globais, entre outros aspectos”, avalia.

Donato destaca que os efeitos dessa tecnologia vão além daquilo que o usuário perceberá de forma direta, como a alta taxa de transmissão de dados e baixa latência, que é o tempo de resposta da rede.

“O 5G habilitará muitas novas soluções no cotidiano das pessoas. Por exemplo, os conceitos de cidades inteligentes, Internet das Coisas (IoT) e Internet de Tudo (IoE) só são possíveis com o 5G e sua capacidade de acomodar uma grande densidade de dispositivos conectados”, explica.

O professor comenta que “robôs autônomos colaborativos e os veículos autônomos, que precisam se conectar entre si e com a infraestrutura das cidades, só serão realidade com o 5G, uma vez que precisam de conectividade com ampla cobertura e muita velocidade para tomada de decisão rápida e segurança do tráfego e das pessoas”.

INTERNET DAS COISAS (IOT)

IoT – referente ao termo em inglês Internet of Things – é a tecnologia que permite a interconexão entre os mais variados objetos, ou seja, possibilitando que a televisão, o computador, o relógio, a geladeira, o micro-ondas, o celular e o carro, por exemplo, se conectem à internet e interajam com ela.

Para Donato, embora nos últimos anos tenha ocorrido o crescimento de uso de tecnologias digitais, de conectividade e de interação em rede, “ainda há muito por vir em termos das cidades inteligentes, internet de tudo, veículos autônomos, agronegócio, indústria 4.0, medicina de precisão, ambientes imersivos e conectividade”.

Avaliando o impacto dessa interconexão digital de objetos no comportamento e relações do usuário, Donato indica que é preciso avançar no equilíbrio do uso diário, pessoal e profissional, das tecnologias e redes.

“Temos visto uma escalada de ocorrências de ansiedade, perda de produtividade e foco, entre outros fenômenos resultantes da hiperestimulação, hiperconectividade e alta velocidade de transformações, características desse novo mundo conectado e veloz”, pondera.

O especialista frisa que o importante é compreender que as tecnologias “são motores e recursos habilitadores de soluções para a sociedade e serão o que fizermos e quisermos fazer delas”.

“O centro e a razão de tudo tem que ser o ser humano, o seu bem-estar e a construção de uma sociedade mais desenvolvida, humana, sustentável e justa”, salienta Donato.

MAIS VELOCIDADE, MENOS SEGURANÇA?

A grande conectividade e digitalização trazem muitos benefícios e conveniências para o cotidiano das pessoas, mas também exigem cuidado, pois crescem a exposição, os riscos e as chances de fraude.

No entanto, o professor Donato lembra que “a segurança dos dados não é um aspecto impactado diretamente pela velocidade das novas conexões 5G, mas, sim, pelo movimento sistêmico”.

O especialista comenta, ainda, que “os sistemas de segurança da informação em nível global e também no País se desenvolvem rápida e intensamente, tanto do ponto de vista tecnológico quanto de regulação”.

Como exemplos de regramentos, Donato cita o Marco Civil da Internet e a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que são regramentos, entre outros, “que devem continuar sendo desenvolvidos continuamente, dada a grande velocidade de transformações da economia digital atual”.

MERCADO DE TRABALHO

Donato destaca dois aspectos quanto ao impacto do 5G no mercado de trabalho.

No primeiro, ele afirma que os profissionais sentirão os benefícios em seu trabalho cotidiano, envolvendo não apenas a velocidade de conexão, mas novas possibilidades de trabalho colaborativo em alta velocidade e globalmente, em que serão empregadas tecnologias imersivas de realidades virtual, aumentada e mista, favorecendo ambientes imersivos.

“Os impactos vão do lazer e do entretenimento ao trabalho nas áreas de projetos de engenharia, cirurgias realizadas remotamente com alta precisão e respostas em tempo real, eventos ao vivo incluindo holografia, agricultura de precisão, até os avanços na logística digital e conectada, otimizada, manufatura digital e indústria 4.0, entre outros.

Como segundo aspecto, ele aponta que a tecnologia 5G abrirá novas oportunidades de trabalho, com demanda para profissionais qualificados para além da área de telecomunicações e suas tecnologias específicas, destacando “a capacidade de trabalho em equipes multidisciplinares de forma colaborativa, a capacidade de resolução de problemas complexos, raciocínio computacional e analítico, a criatividade e, principalmente, a capacidade de se adaptar às circunstâncias e de aprender a aprender”.

Para Donato, cada vez mais as oportunidades estão nas interfaces e sobreposições entre as áreas do saber e empregam tecnologias emergentes e novas soluções, incluindo o 5G. “O profissional tem de desenvolver sua autonomia e estar habituado a zelar por seu lifelong learning (formação continuada).”

O professor acredita que “as políticas públicas da educação devem valorizar fortemente o letramento digital da população e a capacitação em todos os aspectos técnicos e profissionais que permitirão que as pessoas desenvolvam a tecnologia e a utilizem em soluções que tragam qualidade de vida e benefícios”.

O mesmo apoio deve vir das políticas públicas voltadas à ciência, tecnologia e inovação. “Devem garantir condições para formação de pessoal de alto nível de qualificação e apoio à indústria nacional no desenvolvimento e manufatura de tecnologia de elevado valor agregado, favorecendo o emprego, a economia e a balança comercial, levando a ser menos concentrada em commodities”, discorre o professor.

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