A Igreja, corpo de Cristo, professa a fé na presença real de Jesus na Eucaristia

Na quinta-feira, 16, os católicos celebram a Solenidade do Santíssimo Sacramento do Corpo e Sangue de Cristo, popularmente conhecida como Corpus Christi. Nessa ocasião, a Igreja Católica reafirma sua fé no sacramento da Eucaristia, fonte e ápice da vida cristã, e testemunha publicamente sua convicção da presença real de Jesus Cristo nas espécies do pão e do vinho consagrados na Santa Missa. 

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Após dois anos de maiores restrições impostas pela pandemia da COVID-19, o testemunho da fé eucarística volta a tomar as ruas de São Paulo, nas paróquias, comunidades e, especialmente, com a tradicional missa campal na Praça da Sé, seguida da procissão do Santíssimo Sacramento pelas ruas do centro da cidade. 

Este ano, a celebração arquidiocesana de Corpus Christi tem como tema “Sínodo arquidiocesano: Com Cristo, caminhemos em comunhão”, ressaltando a retomada das atividades do sínodo arquidiocesano de São Paulo, em sua última etapa, a assembleia sinodal. 

‘EPIFANIA DA IGREJA’ 

A dimensão eucarística da comunhão está na origem do caminho sinodal vivido pela Igreja em São Paulo. Tanto que foi na solenidade de Corpus Christi de 15 de junho de 2017 que o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, fez o anúncio e a convocação de um sínodo para a Arquidiocese, enfatizando justamente a Eucaristia como fonte e ápice da vida e da missão da Igreja. 

“Quando celebramos a missa, aparece bem clara a natureza da Igreja como povo reunido em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, convocado pela Palavra de Deus e animado pelo Espírito Santo. Em nenhuma outra circunstância a Igreja aparece melhor como a comunidade dos discípulos reunidos em torno do seu Mestre e Senhor, que os chama e instrui pela sua palavra, nutre-os com o pão da vida, os conduz pelos caminhos da fé, esperança e caridade, intercede com eles e por eles diante do Pai celeste, conforta-os e os irmana pela caridade, e os envia novamente em missão”, afirmou Dom Odilo, na ocasião, ressaltando que a Eucaristia é a “epifania da Igreja”. 

CORPO DE CRISTO 

Tal afirmação tem fundamento na Tradição apostólica da Igreja, reforçada no Concílio Vaticano II, quando, na constituição dogmática Lumen gentium, afirma: 

Ao participar realmente do corpo do Senhor, na fracção do pão eucarístico, somos elevados à comunhão com Ele e entre nós; “Porque há um só pão, nós, que somos mui- tos, formamos um só corpo, visto participarmos todos do único pão» (1 Cor. 10,17). E deste modo nos tornamos todos membros desse corpo (cfr. 1 Cor. 12,27), sendo individualmente membros uns dos outros”. 

Cathopic

FONTE E ÁPICE 

Na encíclica Ecclesia de Eucharistia, São João Paulo II recorda que a Eucaristia é o sacramento por excelência do mistério pascal do qual nasce a Igreja. “Isto é visível desde as primeiras imagens da Igreja que nos dão os Atos dos Apóstolos: ‘Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão, e às orações’ (2, 42) … Dois mil anos depois, continuamos a realizar aquela imagem primordial da Igreja”, enfatiza, completando: 

A missão da Igreja está em continuidade com a de Cristo: ‘Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós’(Jo 20, 21). Por isso, a Igreja tira a força espiritual de que necessita para levar a cabo a sua missão da perpetuação do sacrifício da cruz na Eucaristia e da comunhão do corpo e sangue de Cristo. Deste modo, a Eucaristia apresenta-se como fonte e simultaneamente vértice de toda a evangelização, porque o seu fim é a comunhão dos homens com Cristo e, n’Ele, com o Pai e com o Espírito Santo. 

O Papa Emérito Bento XVI, na encíclica Sacramentum Caritatis, reforçou que a Eucaristia é constitutiva do ser e do agir da Igreja, lembrando que, a antiguidade cristã designava com as mesmas palavras — Corpus Christi — o corpo nascido da Virgem Maria, o corpo eucarístico e o corpo eclesial de Cristo. 

É significativo o modo como a Oração Eucarística II, ao invocar o Paráclito, formula a prece pela unidade da Igreja: “… participando no corpo e sangue de Cristo, sejamos reunidos, pelo Espírito Santo, num só corpo”. Esta passagem ajuda a compreender como a eficácia do sacramento eucarístico seja a unidade dos fiéis na comunhão eclesial. Assim, a Eucaristia aparece na raiz da Igreja como mistério de comunhão. 

No mesmo texto, o Pontífice acrescenta: 

De fato, “a unicidade e indivisibilidade do corpo eucarístico do Senhor implicam a unicidade do seu corpo místico, que é a Igreja una e indivisível. Do centro eucarístico surge a necessária abertura de cada comunidade celebrante, de cada Igreja particular: ao deixar-se atrair pelos braços abertos do Senhor, consegue-se a inserção no seu corpo, único e indiviso”. Por este motivo, na celebração da Eucaristia, cada fiel encontra-se na sua Igreja, isto é, na Igreja de Cristo. Nesta perspectiva eucarística, adequadamente entendida, a comunhão eclesial revela-se realidade católica por sua natureza. 

ADORAR E CAMINHAR JUNTOS 

Na homilia da missa de Corpus Christi de 2021, o Papa Francisco convidou os fiéis a, diante da grandeza do mistério eucarístico, saírem “do pequeno quarto do nosso eu e entrar no grande espaço do deslumbramento e da adoração”: 

E há muita falta disso! Falta-nos isso em muitos passos que damos para nos encontrar, reunir, pensar em conjunto a pastoral… Mas se faltar isso, se faltar o deslumbramento e a adoração, não há caminho que nos leve ao Senhor. Nem haverá o Sínodo; não haverá nada. Este é o procedimento diante da Eucaristia, disto precisamos: a adoração. A própria Igreja deve ser uma sala grande. Não um círculo restrito e fechado, mas uma comunidade com os braços abertos, acolhedora para com todos. 

Anos antes, na homilia da mesma solenidade em 2015, o Santo Padre afirmou: 

Nós desagregamo-nos quando não somos dóceis à Palavra do Senhor, quando não vivemos a fraternidade entre nós, quando competimos para ocupar os primeiros lugares – os arrivistas – quando não encontramos a coragem de dar testemunho da caridade, quando não somos capazes de oferecer esperança. É assim que nos desagregamos. A Eucaristia impede que nos desagreguemos, porque é vínculo de comunhão, cumprimento da Aliança e sinal vivo do amor de Cristo, que se humilhou e se aniquilou para que nós permanecêssemos unidos. Participando na Eucaristia e alimentando-nos dela, somos inseridos num caminho que não admite divisões. 

Para saber mais sobre a Eucaristia e a origem da solenidade de Corpus Christi acesse: https://tinyurl.com/2y6ydavx

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