‘A Igreja é a casa comum dos povos latino-americanos’

Afirmou o Cardeal Scherer, ao falar aos estudantes de teologia sobre a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe

Fotos: Luciney Martins /O SÃO PAULO

A Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe foi o tema da aula inaugural do primeiro semestre de 2022 na Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), no Ipiranga, na segunda-feira, 21.

Para abordar o tema, o evento acadêmico contou com conferências do Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo e 1º Vice-Presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam); e da professora Célia Soares de Sousa, doutoranda em Teologia pela PUC-SP e membro do Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB) do Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Dom Odilo iniciou sua conferência explicando o contexto da realização da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, ocorrida em novembro de 2021, no México, com a participação virtual de cerca de mil pessoas de diferentes países do continente.

O Arcebispo destacou que, passados quase 15 anos da realização da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, em 2007, na cidade de Aparecida (SP), era esperada a realização de um novo evento do episcopado continental.

No início de 2020, o Papa Francisco decidiu, no entanto, que não iria convocar uma nova conferência do episcopado, sublinhando que aquela ocorrida em Aparecida ainda tinha muito a contribuir para a Igreja no continente, sobretudo pelo apelo à conversão e renovação pastoral e missionária.

O Pontífice propôs, então, que fosse pensada uma assembleia eclesial, com a participação não apenas de bispos e seus delegados, mas representantes de todo o povo de Deus, clérigos, religiosos e leigos. “A Assembleia Eclesial é algo novo para a nossa Igreja, na qual esteja representado todo o povo de Deus”, salientou Dom Odilo.

DISCÍPULOS E MISSIONÁRIOS

O tema definido para a Assembleia Eclesial é “Todos somos discípulos missionários em saída”, conjugando a temática da Conferência de Aparecida e o apelo constante do pontificado do Papa Francisco para uma Igreja “em saída”. O Arcebispo afirmou, ainda, que a

proposta dessa assembleia correspondeu a outro aspecto bastante frisado pelo Papa: a sinodalidade. “Uma Igreja com características sinodais deve envolver cada vez mais a participação de todo o povo de Deus nas responsabilidades da vida e da missão da Igreja”, frisou Dom Odilo.

NA MESMA FÉ

O Cardeal Scherer enfatizou que não foi uma tarefa fácil realizar uma assembleia com tamanha magnitude. Além dos desafios operacionais, como os da conexão simultânea entre tantas pessoas, havia, sobretudo para os brasileiros, a barreira da língua, visto que grande maioria dos latino-americanos fala espanhol, além do desafio de reunir pessoas de diferentes culturas, realidades sociais e eclesiais.

No entanto, o Arcebispo de São Paulo sublinhou que essas diferenças não foram um impedimento para o bom êxito da assembleia, pois o evento evidenciou que “os elos fortes que unem os povos da América Latina são a fé católica, a devoção a Nossa Senhora e as diretrizes das conferências gerais do episcopado latino-americano”, aliadas ao “desejo comum de buscar caminhos para que os nossos povos tenham vida plena… A assembleia mostrou que, de fato, a Igreja é a casa comum dos povos latino-americanos”, afirmou Dom Odilo.

Uma das leigas que participaram da assembleia, a professora Célia Soares, ressaltou o processo intenso de preparação do evento, por meio da realização de encontros, debates e orientação para os grupos pelo Brasil afora que participaram da escuta às igrejas locais.

Luciney Martins/O SÃO PAULO

ESPIRITUALIDADE E PARTILHA

Ao se referir aos trabalhos da assembleia, a teóloga reconheceu que, por se tratar da primeira experiência desse formato na história da Igreja, há muitos desafios a serem superados. Por outro lado, foi uma oportunidade de realizar uma assembleia que enfatizas- se a caminhada da Igreja como povo de Deus que compartilha do mesmo Batismo.

Outros aspectos destacados pela professora foram a profundidade dos momentos de espiritualidade da assembleia e a rica experiência de partilha das realidades, culturas e desafios.

URGÊNCIAS PASTORAIS

Tanto Dom Odilo quanto a professora Célia destacaram os 41 desafios pastorais indicados pela assembleia, dos quais 12 foram destacados como urgências:

  1. Reconhecer e valorizar o papel dos jovens na comunidade eclesial e na sociedade como agentes de transformação.
  2. Acompanhar as vítimas de injustiças sociais e eclesiais com processos de reconhecimento e reparação.
  3. Promover a participação ativa das mulheres em ministérios, órgãos governamentais, discernimento e tomada de decisões eclesiais.
  4. Promover e defender a dignidade da vida e da pessoa humana desde a sua concepção até o seu fim natural.
  5. Aumentar a formação da sinodalidade para erradicar o clericalismo.
  6. Promover a participação dos leigos em espaços de transformação cultural, política, social e eclesial.
  7. Ouvir o grito dos pobres, excluídos e descartados.
  8. Reformar os itinerários formativos dos seminários, incluindo temas como ecologia integral, povos nativos, inculturação e interculturalidade e pensamento social da Igreja.
  9. Renovar, à luz da Palavra de Deus e do Vaticano II, nosso conceito e experiência da Igreja do povo de Deus, em comunhão com a riqueza de sua ministerialidade, que evita o clericalismo e favorece a conversão pastoral.
  10. Reafirmar e dar prioridade a uma ecologia integral em nossas comunidades a partir dos quatro sonhos da Querida Amazonia.
  11. Promover um encontro pessoal com Jesus Cristo encarnado na realidade do continente.
  12. Acompanhar os povos nativos e afrodescendentes na defesa da vida, da terra e das culturas.
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