A sinodalidade da Assembleia Eclesial no caminho para o Sínodo universal

Assunto esteve em destaque nas atividades do evento continental que está sendo realizado na Cidade do México, até o domingo, 28

Participantes da Assembleia Eclesial, realizada na Cidade do México (fotos: Conferência Episcopal Mexicana)

Um momento muito aguardado da 1a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe ocorreu na quinta-feira, 25. Com falas dos Cardeais Marc Ouellet e Mario Grech; da presidente da Vida Religiosa no continente, Liliana Franco; e de Mauricio López, leigo mexicano e coordenador do Centro de Redes e Ação Pastoral do Celam aconteceu o painel “Da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe ao Sínodo da sinodalidade”.

Do Sínodo sobre a Amazônia ao da Sinodalidade

O Cardeal Grech, Secretário Geral do Sínodo, definiu a Assembleia Eclesial como “uma expressão da visão pastoral do Papa Francisco” e uma ponte entre o Sínodo da Amazônia, realizado em 2019, e o Sínodo da sinodalidade, que será concluído em 2023, e que já está em curso em todo o mundo com a etapa diocesana.

Ele refletiu sobre a estreita relação entre sinodalidade e missão, que está presente na Evangelii gaudium – documento sobre a dimensão missionária da Igreja. Partindo disso, falou sobre a “comunidade sinodal”, que “tem um desejo inesgotável de oferecer misericórdia”, que “sabe dar frutos”, que “sabe celebrar”. Cardeal Grech apontou que “a Igreja cresce em sinodalidade, assume uma forma cada vez mais sinodal quanto mais vive e pratica um estilo sinodal”.

O Secretário Geral do Sínodo disse ainda que “um projeto missionário só pode emergir do processo sinodal de escuta-discernimento, que é também um exercício de discipulado”. Nesse sentido, ele lembrou o conceito de “sinodalidade missionária”, que aparece no Documento Final do Sínodo da Amazônia. A partir daí, lançou um desafio a todos: “o aprofundamento do vínculo entre essas duas dimensões da Igreja pode ser uma das contribuições mais significativas desta Assembleia e do caminho sinodal das Igrejas da América Latina e do Caribe”.

Ele também destacou a contribuição da Igreja da América Latina e do Caribe no método de escuta, esperando “uma contribuição que abra perspectivas sobre como tornar operativas as instâncias intermediárias de sinodalidade”. Junto com isso, saber “entender a Igreja como Povo de Deus”, alertar sobre as divisões que exigem uma conversão sinodal. Diante disso, “a resposta mais credível é a da comunhão”, numa Igreja em que “a tradição não é um canto em uníssono”, mas “uma sinfonia, onde cada voz, cada registro, cada timbre vocal enriquece o Evangelho, cantado em infinita possibilidade de variações”.

Crer no Espírito Santo e ouvir sem preconceitos

O Cardeal Marc Ouellet, Prefeito da Congregação para os Bispos e Presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, lembrou que o sonho do Papa Francisco de uma Igreja sinodal envolve que todos os cristãos creiam no Espírito Santo e que possam ouvi-Lo melhor nos diferentes níveis da Igreja, o que significa, “ouvir a todos com atenção, sem pressa, sem ideias pré-concebidas ou preconceitos”.

De acordo com o cardeal canadense, a preocupação do Papa é com a fé dos batizados e dos que serão batizados, de modo que a Igreja sinodal caminha na fé e no caso da América Latina e do Caribe foi também forjada pelo sangue dos mártires. Outro aspecto da Igreja continental, segundo o purpurado,  é ser mariana.

Diante do próximo Sínodo, o Cardeal Ouellet destacou a importância da participação, da comunhão, da missão. Ele também enalteceu o Celam pela realização do evento e disse que o que tem ocorrido irá animar o processo do Sínodo universal.

Muitos dons, carismas e estilos

Em nome da Vida Religiosa do Continente, a Irmã Liliana Franco lembrou que a atual Assembleia é “um itinerário de encontro e conversão”, no qual é necessário “colocar-nos em postura de humildade, reconhecer o nosso pecado ” e mudar os modos de relacionamento. Estamos diante de “um novo olhar contemplativo, mais teológico e encarnado”, que deve nos levar a “aguçar o olhar para contemplar a realidade e aguçar os ouvidos para ouvir o Espírito que não para de gemer”.

Irmã Liliana disse que o caminho, portanto, é “o discernimento, a atenção à realidade, a capacidade de ouvir o clamor de Deus”, algo possibilitado pelo Espírito, “que nos encoraja a tecer o vínculo, o relacionamento, a amizade, o carinho no nosso cotidiano e nos encoraja a amar, acreditar e cuidar de nós mesmos, a nos dar um lugar, não para nos excluirmos”.

Toda essa dinâmica eclesial, lembrou a Religiosa, está concretizada na diversidade de dons, carismas e estilos. A presidente da CLAR ressaltou, ainda, que a vida religiosa consagrada no continente sente que precisa de alguma reforma. De modo geral, comentou, a Igreja no continente deve descobrir que está “comprometida com um novo modelo relacional, mais contextualizado, encarnado na realidade, capaz de ouvir e de ressoar”.

A religiosa colombiana lembrou, também, que todo o povo de Deis é chamado a percorrer novos caminhos, o que só é possível “com os olhos postos em Jesus”, convencidos de que “esta é a hora para a escuta e o discernimento”. Por fim, ela disse: “como mulher, crente em Deus e consagrada, lhes proponho que optemos de novo pelo caminho para sair de todas as nossas inércias, que passemos por isso juntos, que façamos tecidos novos, que não tenhamos medo e não tenhamos medo das sombras da história”.

A sinodalidade é inerente ao ser da Igreja

Com base nas intervenções anteriores e em todo o processo vivido na Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe nos últimos meses, Mauricio López começou lembrando que “a sinodalidade é inerente ao ser da Igreja ”, citando um dos documentos fundamentais para compreender o que é uma Igreja sinodal, a Episcopalis Communio, que tanto insiste em ouvir Deus para ouvir o povo e ouvir o povo para compreender a que Deus nos chama.

“A sinodalidade não depende de nós, é uma experiência de graça ”, que se baseia na escuta de Deus, que precisa da colaboração humana para abraçar o grito do povo, e na escuta do povo para compreender o vontade de Deus. Ele lembrou que o povo revela no sensus fidei o pensamento de Deus.

Mauricio López se referiu à Statio Orbis do Papa Francisco em 27 de março de 2020 – a oração que o Pontífice realizou sozinho na Praça de São Pedro vazia – pela qual mostrou que todos estão no mesmo barco e denunciou, de acordo com o leigo, uma esclerose farisaica, que nos endurece, e a misofobia sinodal, o medo da contaminação, ambas impeditivas para um efetivo caminhar juntos.

Fonte: Celam

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