Arquidiocese de Natal passa a ter 100% das paróquias abastecidas com energia solar

Mudança no modelo de eletrificação, iniciado em 2020 e concluído recentemente, irá gerar economia permanente às igrejas

Arquidiocese de Natal

No estado em que na maior parte do ano os dias são de sol, o Rio Grande do Norte, a Igreja tem buscado fazer bom uso dessa fonte renovável de energia. A partir deste mês, as 114 paróquias da Arquidiocese de Natal, espalhadas por 88 municípios potiguares, além da Catedral Metropolitana de Nossa Senhora da Apresentação e a cúria, passam a ser abastecidas com 100% de energia solar. 

O projeto de eletrificar as paróquias com a energia captada por placas fotovoltaicas começou a ser pensado em 2019, e no começo de 2020 saiu do papel, com a inauguração de uma usina de energia solar com capacidade de 30 mil kWh, que passou a alimentar a Catedral Metropolitana, a cúria e outras cinco paróquias, por meio de uma parceria com a empresa Open Energy e financiamento da cooperativa de crédito Sicoob. 

“Em 2019, quando analisamos a proposta, o raciocínio foi muito simples: vamos trocar uma conta de despesa com energia elétrica que cada paróquia paga à concessionária, por uma conta de investimento, ou seja, a parcela do financiamento para comprarmos a usina. Fizemos os cálculos e vimos que valeria a pena”, detalhou, ao O SÃO PAULO, Ítalo Nogueira, secretário do economato da Arquidiocese de Natal e um dos responsáveis pelo projeto. 

ESTRUTURAÇÃO 

Em fevereiro deste ano, já tendo resultados da economia obtida nessas igrejas, o projeto de 100% das paróquias com energia solar foi apresentado ao clero. A construção das demais usinas começou em abril, hoje são 14 ao todo. A energia gerada em cada uma é distribuída a um grupo de paróquias, conforme a proximidade geográfica. 

“Se tivéssemos optado em fazer uma usina em cada paróquia, o custo ficaria um absurdo, pois seria preciso que cada uma tivesse um projeto e os equipamentos específicos”, detalhou Nogueira. “As placas foram instaladas apenas em algumas igrejas. São templos no estilo galpão, com o telhado praticamente reto, não tendo sombreamento nem de um lado, nem de outro, para que o sol bata e nada atrapalhe a geração da energia”, exemplificou, enfatizando que em quase todas as igrejas não foi preciso fazer mudanças estruturais para que recebam a energia obtida a partir do sol. 

REDUÇÃO DE CUSTOS 

O financiamento para a aquisição das usinas está sendo pago em 80 parcelas mensais. A estimava da Arquidiocese é que até que se termine de pagá-las já se economizará R$ 122,5 mil anuais. “Depois disso, a economia por ano para toda a Arquidiocese será de R$ 1,470 milhão”, apontou Nogueira. 

O secretário do economato recordou que, quando o projeto foi iniciado, havia receio dos padres se o investimento representaria uma economia efetiva ao longo dos anos e quais seriam as garantias legais para implementá-lo, haja vista que um marco regulatório sobre a geração distribuída de energia por fontes renováveis só foi sancionado em janeiro deste ano – a Lei 14.300/2022. Diante desse contexto, o projeto foi inicialmente implementado em um grupo restrito de igrejas. A Catedral Metropolitana foi uma delas. 

“Hoje, a paróquia da Catedral continua pagando aquilo que já pagava à concessionária de energia elétrica do Rio Grande do Norte (Cosern), pois o projeto foi autofinanciado pela empresa e estamos na parcela 21 de um total de 72. Ao passar esse período de financiamento, a economia mensal para a paróquia será de no mínimo R$ 5 mil”, explicou à reportagem o Padre Valdir Cândido de Morais, Cura da Catedral. 

Nogueira recordou que, na apresentação do projeto ao clero, se detalhou que a mudança não implicará aumento nos gastos com energia elétrica de cada paróquia, pois o parcelamento mensal da aquisição da usina se equipara aos custos médios pagos até então com o consumo de energia elétrica. O único valor que continua a ser pago à concessionária é o da tarifa mínima para a distribuição da energia. “Ao gerar a energia, ela precisa ser injetada na rede da distribuidora, e a concessionária a disponibiliza de volta para quem gerou, mas cobra um valor por isso”, explicou o secretário do economato. 

CUIDAR DA CASA COMUM 

Ainda de acordo com Nogueira, outro fator que levou os padres a aderir ao projeto foi o de colaborar com o cuidado da casa comum, e a perspectiva de que a Arquidiocese de Natal obtenha o certificado verde, pelo uso de energia renovável. 

Na encíclica Laudato si’, sobre o cuidado com a casa comum, publicada em 2015, o Papa Francisco faz um chamado para que se amplie a geração de energia por fontes limpas e renováveis (cf. LS, 26 e 164), mencionando que o “aproveitamento direto da energia solar, tão abundante, exige que se estabeleçam mecanismos e subsídios” (172). O Pontífice também aponta que em alguns lugares existem “cooperativas para a exploração de energias renováveis, que consentem o autoabastecimento local e até mesmo a venda da produção em excesso. Este exemplo simples indica que, enquanto a ordem mundial existente se revela impotente para assumir responsabilidades, a instância local pode fazer a diferença” (179). 

MAIS ‘ENERGIA’ PARA EVANGELIZAR 

De acordo com Nogueira, a Arquidiocese de Natal projeta que a economia financeira advinda com adoção do projeto impulsione investimentos nas ações e na infraestrutura das paróquias. “Com esses valores que estão sendo economizados, elas poderão investir na evangelização, em ações pastorais ou em melhorias, como equipamento de som e compra de ar-condicionado”, comentou, recordando que as paróquias têm autonomia para o uso do dinheiro, mas que a Arquidiocese mantém um fundo de reserva do projeto para eventuais manutenções nas placas fotovoltaicas e em outros equipamentos das usinas. 

Padre Valdir projeta que, quando forem quitadas as parcelas do financiamento da aquisição da primeira usina, a Catedral Metropolitana poderá fazer investimentos no âmbito pastoral, de comunicação e marketing católico, além de melhorias em infraestrutura. “Dentro desse tempo que ainda temos de parcelas a pagar, analisaremos quais as necessidades imediatas consideráveis para que possamos atingir uma satisfação ainda maior dos nossos paroquianos e de todos os que visitam a Catedral de Natal”, garantiu. 

E ONDE NÃO HÁ SOL O ANO TODO? 

E, mesmo nas cidades do Brasil que não tenham a maioria dos dias ensolarados – como é Natal, que não por acaso é conhecida como a “Cidade do Sol” –, a instalação de usinas de geração de energia solar é algo viável, desde que se faça um estudo detalhado sobre o local ideal para instalá-las. “As placas, mesmo que estejam em localidades nubladas, continuam a gerar energia, mas com eficiência menor, por isso o estudo técnico prévio é fundamental”, explicou Nogueira, recomendando, ainda, que dioceses e igrejas sempre negociem a instalação em conjunto. 

“Quanto maior o projeto, mais há a possibilidade de se negociar valores. Para o financiador, uma ampla adesão é interessante, pois envolverá um montante maior de recursos, e também a diocese e as paróquias acabarão pagando mais barato do que se cada paróquia negociasse sozinha”, concluiu. 

guest
1 Comentário
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários
Italo Nogueira
Italo Nogueira
1 ano atrás

Nós, da Arquidiocese de Natal, ficamos felizes pela matéria publicada, e nos colocamos a disposição para qualquer informação necessária, ou até mesmo, um bate papo sobre o projeto para quem desejar.
Um abraço para todos, e viva a Igreja que busca sempre o melhor para a construção da Casa Comum!