Assembleia Eclesial: reviver Aparecida 2007 diante dos clamores da América Latina e do Caribe

Evento que mobiliza a Igreja no continente americano prossegue até domingo, dia 28

Assessoria Assembleia Eclesial/Celam

Pouco a pouco, a 1a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe vai centrando seu enfoque para desafios da Igreja no continente americano, à luz do discernimento comunitário, tema que tem animou as reflexões da terça-feira, 23, iluminada pela seguinte citação bíblica: “O tempo se cumpriu e o Reino de Deus está próximo: converta-se e creia na Boa Nova”.

Desde a etapa de convocação, a Assembleia Eclesial tem alicerçado suas raízes na V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho, realizada em Aparecida 2007. Na terça-feira, o Cardeal Odilo Scherer, 1o Vice-Presidente do Conselho Episciopal Latino-Americano (Celam) lembrou o convite do Papa Francisco para retomar o Documento de Aparecida, “porque este contém uma riqueza muito grande, que talvez não tenha sido suficientemente assumida”, sendo, portanto, oportuno fazer um balanço, tendo em conta as novidades dos últimos 14 anos, para viver “um processo de conversão pastoral, de conversão missionária”.

O teólogo brasileiro Agnor Brighenti recordou aos participantes que a Assembleia Eclesial não é só mais um evento da Igreja, mas, sim “uma nova etapa de um rico processo sinodal na América Latina e no Caribe, que deu à nossa Igreja uma palavra e um rosto próprios”, razão pela qual na atividade tem se insistido em “reviver Aparecida”, para se trilhar um caminho que leve a uma segunda acolhida à renovação proposta pelo Concílio Vaticano II. Trata-se de entrar em um processo de conversão pastoral integral, como pedido no Sínodo para a Amazônia, a fim de ver a relação entre os quatro sonhos do Papa Francisco em Querida Amazônia e o que está sendo vivido na atual Assembleia.

Escutar os clamores do continente

Na coletiva de imprensa do dia, houve espaço para ouvir a fala dos afrodescentes da Amazônia, dos jovens e as dificuldades que têm havido para a formação de novos sacerdotes. Falaram com os jornalistas na ocasião a Irmã María Suyapa, o Cardeal Pedro Barreto, o jovem María José Bolaños López e o Padre Cristino Bonhert Bauer.

Eles ressoaram os gritos referentes à marginalização das mulheres negras, dos povos amazônicos ameaçados pela pandemia e a falta de políticas públicas; o desejo dos jovens de caminhar como membros ativos da Igreja, em sinodalidade, e pediram que a formação dos seminaristas incida nas comunidades da Igreja e se faça por meio de itinerários transversais. 

Múltiplos testemunhos

Também têm repercutido na Assembleia os testemunhos de diferentes partes do continente, com os católicos imersos em variadas realidades de vida e atuação na Igreja:  leigos, missionários, bispos, jovens, guias espirituais, pessoas que trabalham com os migrantes e religiosos consagrados. 

As raízes culturais da América Latina e do Caribe foram abordadas pelo Cardeal Felipe Arizmendi, pelo Padre Venanzio Mwangi IMC, e pelas irmãs Laura Vicuña e María Suyapa Cacho Álvarez. 

O Purpurado mexicano destacou que o Celam põe em primeiro lugar os excluídos, representados nos povos indígenas e afro, para os quais a terra e a vida comunitária são fundamentais. Ele pediu que a Igreja esteja aberta para eles e lhes compreenda. Outro pedido, este feito pela Irmã Maria, é que os saberes ancestrais das pessoas sejam valorizados e integrados. 

Irmã Laura Vicuña pediu que a Igreja seja parceira dos povos originários, esteja sempre disposta a defender a vida, a terra e os direitos, a acompanhar e tecer redes de defesa e promoção dos direitos humanos. 

O Padre Venâncio questionou-se sobre as aspirações do catolicismo para os afrodescendentes e destes para com o catolicismo. Nesse sentido, ele pediu que se passe do mito à realidade sobre a diversidade étnica e cultural, a fim de que possa ser celebrada a partir da fé.

Tudo passa, tudo muda, menos o Evangelho

Assessoria Assembleia Eclesial/Celam

As atividades do dia foram encerradas com a missa e a recitação do Rosário, com pedidos pelo bom zelo da Casa Comum. Na homilia da missa, o Cardeal Scherer falou sobre o sentido do tempo atual na vida de cada pessoa, na história da Igreja e no contexto social. Recordando o Evangelho, destacou a necessidade de que os cristãos estejam atentos aos sinais dos tempos, de como tudo passa, de como o tempo tudo destrói, tudo muda. A única coisa que não muda é o Evangelho.

“Jesus chamou a não se deixar enganar pelos atrativos deste mundo, que podem se transformar em ídolos”, alertou o 1o vice-presidente do Celam. 

Dom Odilo também disse que Jesus alertou sobre os pregadores de uma verdade, dizendo-nos para não sermos enganados pelos ‘Salvadores da Pátria’ ou pregadores religiosos autorreferenciais. Uma terceira advertência de Jesus, destacou o Cardeal Scherer, é sobre os sinais em tempos de crise, que oferecem a oportunidade de anunciar o que está para acontecer, em face do qual é necessário um caminho de conversão. Nesse sentido, o Arcebispo de São Paulo comentou que a Assembleia Eclesial é um exercício para ler os sinais dos tempos .

Fonte: Celam

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