Ato inter-religioso em São Paulo marca dia de jejum e oração pelo Líbano

(Reprodução da internet)

A Catedral Católica Maronita Nossa Senhora do Líbano, em São Paulo, acolheu um ato inter-religioso realizado na manhã desta sexta-feira, 4, dia de jejum e oração pelo Líbano, convocado pelo Papa Francisco. Nesta dada, recorda-se um mês das explosões que atingiram a zona portuária da capital libanesa, Beirute, em 4 de agosto, deixando 220 mortos, 6,5 mil feridos e cerca de 300 mil desabrigados.

A convite do Eparca Maronita No Brasil, Dom Edgard Madi, o ato na capital paulista reuniu representantes cristãos e muçulmanos que fizeram, cada um segundo sua tradição religiosa, orações e preces pelo povo libanês que, além da recente tragédia, sofre com uma crise política e econômica sem precedentes da história desse país do Oriente Médio.

POVO QUERIDO

Dentre os participantes, estava o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, que, em sua prece, invocou a misericórdia e a clemência de Deus em favor do “querido povo do Líbano”, ao qual os brasileiros estão unidos com laços fraternais históricos. “Atende aos gemidos e súplicas de seus filhos e de todos aqueles que te invocam a partir da sua fé e da confiança na tua providência e misericórdia”, rezou.

Dom Odilo pediu, ainda, que a população desse país tenha a sua dignidade respeitada, acolhida e reconhecida e, assim, sejam superados todos os motivos de tensão e divisão. “Desperte em todos um renovado senso de solidariedade porque só estando unidos, dando o melhor de si, é que podem resolver as situações difíceis pelas quais passam nessa terra onde também Jesus Cristo, Nosso Senhor e Salvador, visitou e fez prodígios”, ressaltou.

O Arcebispo continuou sua oração pedindo que todas as nações se unam na busca de soluções adequadas e justas para levar a paz aos libaneses e a todos os povos ao seu redor.

“Concede aos líderes políticos bom discernimento, prudência, paciência, senso de justiça e solidariedade. Concede a todos os líderes culturais e sociais, a mesma boa vontade na busca de uma boa solução para seu povo. Que os líderes religiosos que, em teu nome, anunciam tua Palavra e teu louvor, possam ajudar a construir uma sociedade fraterna, na diversidade, no respeito às convicções mútuas, porém, na convicção de que tu és o Pai de todos e, portanto, todos somos irmãos aos quais queres bem”, completou o Cardeal.

VENCER O MAL  

Dom Damaskinos Mansour, Arcebispo da Igreja Ortodoxa Antioquina no Brasil, afirmou que os acontecimentos que assolam o povo libanês são, de certa forma, “fruto do mal e da corrupção plantados pelo diabo nos corações de algumas pessoas”.

Recordando o trecho do Evangelho no qual Jesus afirmou que existem demônios que só podem ser expulsos com muito jejum e oração, Dom Damaskinos ressaltou: que os males que atingem o Líbano só podem ser eliminados pela força da oração e do sacrifício.

“Senhor, tu que disseste em tua santa Palavra que ‘o justo crescerá como a palmeira e florirá como o cedro que há Líbano’[cf. Sl 91], a ti, suplicamos, contemple com bondade a abençoada terra dos cedros acometida por tantos males”, pediu o Arcebispo ortodoxo.

CLAMOR DE UM POVO

(Foto: Agência SIR)

Dom George Khoury, Eparca da Igreja Católica Greco-Melquita no Brasil, também recordou o versículo de um salmo – “Este infeliz gritou a Deus e foi ouvido” (Sl 33,7) – para afirmar: “Hoje, o grito dos pobres sofredores do Líbano chegou a Deus”.

“Estamos aqui reunidos, mas no Oriente, infelizmente, não há união”, enfatizou o Eparca Melquita. No entanto, ele também destacou que os libaneses já passaram por muitas situações difíceis e também serão fortes para se reerguer após este momento tão delicado.

A ORAÇÃO NÃO TEM FRONTEIRAS

O Sheikh Mohamad Bukai, da Mesquita Sunita do Brasil salientou que, embora sejam muitas as fronteiras terrestres que dividem os povos, “o caminho para o Senhor não tem fronteiras”.

Sempre encontraremos o criador a escutar a nossa voz. A oração é uma ferramenta muito poderosa que podemos usar sempre. Basta elevarmos nossas mãos para Deus e ele nos acolhe. Rogamos ao nosso Criador para que, a partir de hoje, seja um dia da paz, tranquilidade e misericórdia para o Líbano”, manifestou o líder muçulmano.

PAÍS ACOLHEDOR

Dom Nareg Berberian, Primaz da Igreja Apostólica Armênia no Brasil, definiu o Líbano como uma “joia do Oriente” e ressaltou que, para os armênios, é como uma segunda pátria que sempre os acolheu coo filhos. “Nações do mundo todo, hoje temos o dever, que vem da responsabilidade e o desejo do amor ao próximo, de ajudar esse lindo país tão agredido por guerras, massacres e desastres”, disse.  

O Arcebispo armênio enfatizou, ainda, que além das orações, os libaneses precisam de ajuda financeira de todos os povos e nações, pois essas pessoas “são um verdadeiro patrimônio da humanidade”.

“Podemos tornar isso uma realidade. Os libaneses estão determinados a reconstruir a cidade de Beirute e torná-la ainda mais bonita do que era antes”, concluiu Dom Nareg.

 A CRISE

A crise libanesa começou quando o sistema bancário do país começou a apresentar escassez de dólares e variações cambiais repentinas. Com isso, vieram à tona denúncias de corrupção contra os governantes, que forçaram a renúncia do então primeiro-ministro Saad Hariri. O novo governo, instaurado em janeiro, não conseguiu dar continuidade à negociação de um empréstimo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), em uma tentativa de quitar a dívida pública de 86 bilhões – equivalente a 150% do PIB do país que já foi conhecido como a “Suíça do Oriente Médio” por sua prosperidade social e econômica.

Antes mesmo do início da pandemia de COVID-19, o Banco Mundial estimava que metade da população libanesa seria empurrada abaixo da linha da pobreza em 2020. Um em cada quatro cidadãos do país não tem emprego e os que possuem viram os salários perderam 90% do poder de compra desde o início do ano. Segundo dados do próprio governo, 75% das pessoas precisavam de ajuda humanitária para alimentar.

Além da alta inflação, os serviços básicos foram afetados, como abastecimento de água, eletricidade, internet, remédios e os preços dos alimentos, em grande parte importados, dispararam.

APÓS AS EXPLOSÕES

Em reação às explosões, aconteceram vários protestos pelas ruas de Beirute, pedindo a destituição do atual governo, acusado como principal responsável pela crise. A pressão das manifestações levou o primeiro-ministro, Hassan Diab, a renunciar ao cargo em 10 de agosto.

A população também acusa as autoridades de negligência, pelo fato de explosões terem sido provocadas por incêndio que atingiu um depósito onde estava armazenada, de forma irregular, uma grande quantidade de nitrato de amônio, substância de alta capacidade explosiva quando exposta a temperaturas elevadas.

ESPERANÇA

“O povo libanês já estava crucificado por tantos sofrimentos e essa explosão foi como uma lança que o perfurou”, afirmou Dom Edgard Madi, em entrevista ao O SÃO PAULO, concedida no dia seguinte às explosões. Ele fez referência à cena do Evangelho de João em que Jesus crucificado teve o seu lado perfurado pela lança. 

“Humanamente, é muito difícil compreender tudo isso. Nós já estávamos buscando ajudar os nossos irmãos, como podíamos, a enfrentar essa terrível crise e, de repente, acontece uma catástrofe devastadora como essa”, lamentou.

O Eparca, contudo, convidou todos os libaneses a terem um olhar sobrenatural sobre a tragédia e, da mesma forma que associou o sofrimento à cruz, o bispo enfatizou que a fé dos cristãos libaneses se apoia na ressurreição de Cristo. “Nossa fé é maior, a morte não tem a última palavra. Jesus Cristo, morto na cruz, ressuscitou e nosso povo também ressuscitará”, completou.

(Com informações de Veja e Uerj)

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