Beata Benigna: modelo de santidade para a juventude

Pintura de Joab Rocha/Diocese de Crato

Estudante dedicada, católica envolvida nas atividades de sua paróquia em Santana do Cariri (CE) e assídua leitora da Bíblia, Benigna Cardoso encontrou na fé, desde a mais tenra idade, a força para sobreviver. Não conheceu o pai, que morreu antes que ela nascesse, em 1928, e perdeu a mãe com apenas um ano de idade, tendo sido adotada, assim como seus três irmãos, pelas senhoras Rosa e Honorina Sisnando Leite. 

Aos 12 anos, começou a ser assediada por um rapaz. Diante das frequentes recusas de Benigna, ele armou uma emboscada para abusar sexualmente da menina. Ela resistiu, e, por defender a sua castidade, foi morta por ele a facadas quando se encaminhava para uma fonte de água. Era o dia 24 de outubro de 1941, e Benigna, já com 13 anos, foi martirizada. 

Passados exatos 81 anos, na tarde da segunda-feira, 24, cerca de 60 mil pessoas lotaram o Parque de Exposições da cidade de Crato (CE) para participar da solenidade em que Benigna foi beatificada, já sendo reconhecida como a “Heroína da Castidade”, uma virtude moral que, conforme o Catecismo da Igreja Católica (CIC), é concedida a todo batizado pelo Espírito Santo, para que leve uma vida casta conforme o seu estado de vida, sendo uma destas formas a virgindade (cf. CIC 2345, 2348 e 2349), que Benigna defendeu até a morte. 

“Na tarde da sexta-feira, 24 de outubro de 1941, Benigna foi à fonte, em busca de água. Conhecia o caminho para matar a sede, servir aos da casa, regar as plantas. Lugar da água, da vida, tornou-se lugar da agressão, da violência, torna-se lugar da morte. Lugar da morte, fonte de resistência, de transparência, de fortaleza, de dignidade. Junto à fonte, Benigna oferece a sua vida na fidelidade a Jesus”, disse o Cardeal Leonardo Steiner, Arcebispo de Manaus (AM), enviado pelo Papa Francisco para presidir a solene liturgia da menina Benigna Cardoso. 

Fotos: Diocese de Crato

‘PREFERIU A MORTE A ROMPER COM A SUA DIGNIDADE’ 

Após a leitura da biografia da jovem leiga mártir, Dom Leonardo leu a carta apostólica assinada pelo Papa Francisco na qual o Pontífice acolhe o pedido dos bispos para declarar a menina Benigna como Bem-Aventurada e estabelece o dia 24 de outubro como data de sua memória litúrgica. 

A promulgação pela qual o Papa autorizou a beatificação da “Heroína da Castidade” foi assinada em 2 de outubro de 2019. A cerimônia de beatificação estava prevista inicialmente para ocorrer em 2020, mas foi adiada devido à fase mais aguda da pandemia de COVID-19. 

Após a leitura da carta apostólica, a relíquia de Benigna foi levada ao altar por duas de suas irmãs de criação, as senhoras Iranir e Terezinha Cisnando, e por alguns jovens, enquanto se entoava o hino à nova Beata. 

“O seu amor, a sua misericórdia, a levou ao martírio”, destacou Dom Leonardo, ao recordar o assassinato de Benigna, vítima de uma tentativa de abuso sexual, mais especificamente de feminicídio, como tal crime é chamado atualmente. 

“Hoje louvamos a Deus pela vida e pelo testemunho daquela que pelo martírio foi bem-nascida para a Igreja como Bem-aventurada, indicadora e defensora da dignidade da mulher. Benigna, exemplo de não subjugação das mulheres, defensora da própria força e valor, da dignidade e da beleza, da sexualidade e da maternidade, do vigor e da ternura. Preferiu a morte à paixão, preferiu a morte a romper com a sua dignidade.” 

O Cardeal Steiner lembrou que naquele dia, na Comarca de Crato, estava sendo instalado o Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, com vistas a garantir os direitos fundamentais das mulheres nas relações domésticas e familiares. Em 24 de outubro, no Ceará, também se celebra o Dia Estadual da Luta contra o Feminicídio. 

“Benigna nos anima a criar um ambiente familiar e social de cuidado, respeito e dignidade entre nós. Heroína da Castidade! Que a sua santa alma converta esta paróquia e seja a proteção das crianças e das famílias. Estes são os votos que faço à nossa ‘santinha’. São os votos que fazemos todos nós!”, concluiu Dom Leonardo. 

UM EXEMPLO PARA TODOS OS CRISTÃOS 

Em entrevista ao Vatican News, Danilo Sobreira, coordenador de Pastoral da Paróquia Senhora Sant’Ana, de Santana do Cariri, recordou que a nova Beata era muito dedicada aos estudos, se distinguia pela caridade, era amante da natureza e dos animais, tinha uma vida de oração, ia à missa todos os domingos e tinha especial devoção por Nossa Senhora do Carmo. Além disso, transmitia aos amigos tudo que lia na Bíblia. 

Segundo Sobreira, por muitas décadas as pessoas iam até o local onde Benigna foi martirizada para rezar e pedir por sua intercessão. Em 2004, um grupo de leigos provenientes de Natal (RN) decidiu celebrar uma missa na data e no local do martírio em Santana do Cariri, mas, como fica em uma propriedade privada, houve uma mobilização para se construir uma capela próxima, no ano de 2005, o que impulsionou a realização de romarias. 

“É importante viver o exemplo de Benigna, onde quer que estejamos, afinal ela é um modelo da Igreja e para a Igreja, e assim podemos ser a exemplos dela discípulos-missionários de Jesus Cristo, como ela assim o foi”, afirmou Dom Magnus Henrique Lopes, OFMCap., Bispo de Crato (CE), em coletiva de imprensa antes da missa de beatificação. 

(Com informações de Vatican News, Diocese de Crato e do Dicastério para as Causas dos Santos) 

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