Dom Odilo: ‘Que o exemplo dos cristãos perseguidos nos ajude a sermos fortes na fé’

Pouco a pouco, os bancos da igreja foram sendo ocupados pelos que participariam da missa das 16h, do sábado, 6, na Paróquia Santo Inácio de Loyola e São Paulo Apóstolo, na Vila Mariana, Região Sé. Antes que a celebração começasse, porém, foi momento de lembrar que em muitas partes do mundo nem todos podem vivenciar livremente a fé cristã.

Fotos: Luciney Martins/ O SÃO PAULO

“Graças a Deus, a perseguição religiosa não é uma tema recorrente entre nós aqui no Brasil. Ninguém aqui tem medo de vir à missa, nem de trazer o filho pela mão à igreja ou de fazer o sinal da cruz, andar com um crucifixo pela rua, com um Terço na mão para rezar no metrô. Mas para tantos irmãos nossos pelo mundo, isso é um sonho”.

Assim lembrou Ana Cecília Giorgi Manente, presidente no Brasil da fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), no comentário inicial da missa, que foi uma das ações da 8a edição do Dia de Oração pelos Cristãos Perseguidos.

Na mesma data, bem como na véspera e no domingo, 7, a ACN também organizou celebrações em Recife (PE), Olinda (PE), Diadema (SP) e no Rio de Janeiro (RJ). Além disso, nas paróquias e comunidades em todo o Brasil, os cristãos foram convidados a rezar pelos mais de 400 milhões de cristãos que atualmente sofrem algum tipo de perseguição ou intolerância religiosa.

Perseguidos por professar a fé no Cristo

A missa do sábado foi presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer e concelebrada pelo Padre Mario Pizetta, Pároco.

Na homilia, o Arcebispo de São Paulo enalteceu a atuação da ACN em favor dos cristãos perseguidos, e recordou os locais onde as perseguições têm ocorrido de modo mais acentuado, como na África Ocidental e Subsaariana, especialmente por extremistas islâmicos; no Oriente Médio, onde os cristãos são minoria e não têm liberdade para a professar a fé; na Ásia, em países como o Paquistão e a China; na Europa, onde crescem as intolerâncias sutis ao Cristianismo, como a proibição de crucifixos em locais públicos; e na América Latina e Central, com a crescente perseguição a religiosos.

“A perseguição religiosa consiste em vários fatos, como ameaças, pressões para que os cristãos abandonem ou ocultem sua fé, bem como a limitação ou negação da prática religiosa em público. Também há casos de sequestros, abusos, assassinatos, torturas, massacres, discriminações sociais, políticas e econômicas”, recordou Dom Odilo. “Perseguição por causa da fé em Jesus Cristo ou por causa da ação da Igreja na sociedade. Quando a Igreja pede por justiça social, ela é perseguida ou a perseguição é contra o povo cristão”, complementou.

Dom Odilo lembrou que embora a perseguição aos cristãos pareça uma realidade distantes dos brasileiros, é preciso estar em alerta: “A liberdade de religião é um direito humano fundamental, garantido aqui no Brasil, mas nem sempre suficientemente respeitado. Se nós não estivermos atentos, também aqui pode haver restrição religiosa, como já houve tempos atrás. Não devemos tolerar a perseguição religiosa, intolerância em relação a nenhum grupo religioso”, enfatizou.

Oração, apoio material e busca por justiça

O Arcebispo  lembrou que a primeira ajuda a ser dada aos cristãos perseguidos é a oração, mas que também é indispensável o amparo material, como tem feito a ACN por meio das doações que obtém junto a benfeitores.

“Além da oração, do apoio material, certamente os cristãos perseguidos pedem por justiça”, comentou, ressaltando que não se pode aceitar a perseguição religiosa como algo normal, posto que ela “lesa a dignidade humana”.

Ao recordar que o próprio Cristo foi perseguido e que indicou a seus discípulos que eles também o seriam, o Cardeal Scherer lembrou que a Transfiguração do Senhor, celebrada em 6 de agosto, e a sua Ressurreição, mostram que a cruz, que a perseguição, nunca terão a palavra final: “Ao longo da história, quando se tentou calar a Palavra da Verdade, se calar o Evangelho matando os cristãos, encarcerando-os, o efeito foi sempre o contrário: surgiram mais cristãos, mais pessoas foram batizadas e muita gente aderiu à fé”.

“Que o exemplo dos cristãos perseguidos nos ajude a sermos fortes na fé, perseverantes, mesmo nos momentos em que encontramos dificuldades para vivê-la. Que o exemplo dos mártires e dos cristãos perseguidos nos ajudem para que façamos nossa parte em favor da liberdade religiosa”, concluiu.

Mãos estendidas a quem mais precisa

O Dia de Oração pelos Cristãos Perseguidos teve início em 2015 e, desde então, ocorre anualmente em agosto, em referência à noite de 6 de agosto de 2014, quando cerca de 100 mil cristãos tiveram de abandonar suas casas na Planície de Nínive, no Iraque, expulsos pelos extremistas do grupo Estado Islâmico. Assim que recebeu as primeiras informações no dia seguinte, a ACN mobilizou os benfeitores e iniciou campanhas e projetos para socorrer materialmente e espiritualmente os perseguidos e refugiados.

Ao O SÃO PAULO, Ana Cecília comentou que a cada ano é maior a adesão das paróquias ao Dia de Oração pelos Cristãos Perseguidos, que ocorre com o apoio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB): “Em 2021, na pandemia, os padres de diferentes lugares do Brasil nos procuraram pedindo cartazes digitais ou se teríamos um vídeo para divulgar a iniciativa. Assim, pouco a pouco, essa causa vai chegando a vários locais, mas ainda é muito desconhecida, muitas pessoas não a entendem como algo importante, por não sentir a perseguição na pele. Felizmente, porém, cada vez mais o clero está atento aos grandes números da perseguição e o povo de Deus tem se sensibilizado com as notícias”.

Os trabalhos de atenção aos cristãos perseguidos, bem como as demais ajudas que a ACN envia aos católicos de cerca de 140 países, somente são possíveis com as doações de benfeitores. Os interessados em colaborar podem fazê-lo pelo site: https://www.acn.org.br/doacao.

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