Em Malta, o Papa Francisco promove a vida e reza pelos que buscam um ‘porto seguro’

Vatican Media

“Salvos do naufrágio, São Paulo e seus companheiros de viagem encontraram aqui, a acolhê-los, gente pagã de bom coração, que os tratou com rara humanidade, percebendo que precisavam de refúgio, de segurança e de assistência.” Com essas palavras, o Papa Francisco rezou na gruta onde, conforme a tradição, o apóstolo São Paulo habitou por meses, na ilha de Malta.

Em viagem de dois dias, em 2 e 3 de abril, o Pontífice retornou à gruta onde também estiveram os Papas Bento XVI e São João Paulo II. Em sua oração, recordando a experiência do apóstolo Paulo, Francisco fez referência à atual situação de tantos homens e mulheres que buscam refúgio. “Ninguém conhecia seus nomes, a proveniência ou a condição social. Sabiam somente uma coisa: que precisavam de ajuda”, recordou.

Francisco pediu que a humanidade possa receber “a graça de um bom coração, que bate por amor dos irmãos”, que “reconhece de longe os necessitados”. Esse tom marcou a passagem do Santo Padre pela pequena ilha europeia, inspirada pela passagem bíblica dos Atos dos Apóstolos (28,2), que diz: “Trataram-nos com rara humanidade”.

LUGAR ACOLHEDOR

Muitas foram as referências a Malta como ponto de parada, lugar de passagem para tantas pessoas ao longo da história, já que está loca- lizada no meio do Mar Mediterrâneo. Em discurso às autoridades civis e ao corpo diplomático presente no país, Francisco recordou que, ao longo dos séculos, Malta ficou reconhecida como um lugar acolhedor e humano.

“Conheço o empenho dos mal- teses em abraçar e proteger a vida. Já nos Atos dos Apóstolos, vocês se distinguiam por salvar tanta gente. Eu os encorajo a continuar a defender a vida, do seu início até o seu fim natural, mas também a protegê-la em todo momento, do descarte e da falta de cuidado”, alertou o Pontífice, destacando a situação dos trabalhadores, dos idosos, dos jovens e dos doentes.

NAUFRÁGIO DA CIVILIDADE

Para muitos migrantes e refugiados, Malta ainda é lugar de acolhimento e es- perança. Em encontro com pessoas nes- sas condições, no domingo, ele afirmou que, infelizmente, o naufrágio ainda é experiência muito comum para tantas pessoas que viajam no Mediterrâneo, tentando encontrar o seu “porto seguro”. Em vez disso, muitíssimos encontraram a morte.

“Rezamos para sermos salvos de um outro naufrágio, que se consome enquanto acontecem esses fatos: o naufrágio da civilidade”, apontou Francisco. A única salvação para isso é “comportar-se com civilidade, olhando as pessoas não como números, mas pelo que elas são”, disse. Cada viajante leva consigo uma história e um “sonho no coração”.

POBREZA INTERIOR

Refletindo sobre o Evangelho do domingo (cf. Jo 8,1-11), em que Jesus não condena a mulher considerada adúltera e que estava para ser apedrejada pelos homens, o Papa falou do risco de que a religião se torne simplesmente “o vício de apontar o dedo” para os outros. Em vez disso, devemos “olhar o próximo como olhamos para nós mesmos”, repetindo o gesto de misericórdia de Jesus.

Os acusadores da mulher, disse o Papa Francisco, são o retrato dos que se dizem fiéis, “mas fazem da fé um elemento de fachada, na qual o que aparece é a exterioridade solene, mas falta a pobreza interior, que é o tesouro mais precioso do homem”.

‘APAIXONADOS PELA GUERRA’

No voo de retorno de Malta para Roma, o Papa Francisco voltou a criticar a guerra na Ucrânia e disse que a humanidade parece não ser capaz de aprender com os próprios erros. “Não aprendemos! Que o Senhor tenha piedade de nós, de todos nós, somos todos culpados”, lamentou no domingo, 3. “Toda guerra nasce de uma injustiça”, disse.

“Estamos apaixonados pela guerra. É o espírito de Caim, o espírito ‘cainista’”, disse, referindo-se ao relato bíblico em que Caim mata seu irmão Abel. O Papa afirmou que a Santa Sé está fazendo “tudo o que é possível” no âmbito diplomático para conter a invasão da Ucrânia pela Rússia, que já dura mais de seis semanas.

Francisco sinalizou que tem vontade de ir a Kiev, capital da Ucrânia, atendendo o convite do presidente Volodymyr Zelensky. Caso não seja possível, outra hipótese é que vá até a Polônia, país que está recebendo muitos refugiados. O Papa afirmou, ainda, que não falou recente- mente com o presidente da Rússia, Vladimir Putin. Por fim, cogita também reencontrar o Patriarca de Moscou, Cirilo, em um país do Oriente Médio.

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