Em Roma, Cardeal destaca a atenção do Papa para com a Igreja na América Latina

Vatian Media

Em entrevista ao O SÃO PAULO, diretamente de Roma, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, fala sobre os principais compromissos da viagem iniciada na quinta-feira, 17. O principal destaque do programa foi a visita da presidência do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam) a diversos organismos da Santa Sé, concluída com uma audiência do Papa Francisco no sábado, 19.

Primeiro Vice-presidente do Celam, Dom Odilo relatou que a longa conversa com o Pontífice se concentrou na par- tilha das experiências da 1a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, e na reestruturação do conselho episcopal e sua participação no caminho sinodal proposto pelo Papa. Confira.

O SÃO PAULO – Qual foi o propósito dessa viagem a Roma?

Cardeal Odilo Pedro Scherer – Desde o dia 16 de fevereiro passado, os membros da presidência do Conselho Episcopal Latino-Americano estiveram em visita à Santa Sé para uma visita regular ao Papa e seus colaboradores, com o objetivo de relatar sobre a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, realizada em novembro de 2021, para tratar das reformas do Celam e da preparação do Sínodo universal, com o tema “Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”.

Quais foram os principais encontros realizados na Cúria Romana?

Foi um programa repleto de contatos e reuniões com o Papa Francisco, a Secretaria de Estado, a Congregação para os Bispos, a Comissão para a América Latina (CAL), o Sínodo dos Bispos e outros dicastérios. Fiz também diversos contatos pessoais, mais diretamente ligados a questões de interesse da Arquidiocese de São Paulo, como as congregações para os Bispos, o Clero, a Educação Católica e os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. A consulta e o diálogo com os colaboradores imediatos do Papa para as diversas questões relativas à vida e missão da Igreja são sempre úteis e necessários.

O que o senhor destaca das reuniões do Celam com a Congregação para os Bispos e a Comissão para a América Latina?

A reunião teve como ponto de interesse principal a reforma do Celam, sua nova estrutura organizacional e funcional. Foram discutidos seus programas a serviço das conferências episcopais e em função da vida e da missão da Igreja em todo o subcontinente latino-americano e caribenho. Foi destacado o serviço à colegialidade episcopal, nos princípios da solidariedade e da subsidiariedade, especialmente em relação àquelas conferências episcopais que necessitam de mais do apoio do Celam. Tratou-se também das iniciativas conjuntas entre o Celam e as conferências dos Estados Unidos e do Canadá, bem como a colaboração do Celam com a CAL e com a Congregação para os Bispos. A presidência do Celam também pediu a homologação dos novos Estatutos, já aprovados por sua assembleia em meados de 2021.

E em relação ao encontro com o Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos?

A reunião com o Cardeal Mario Grech, Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos, foi interessante e esteve focada, sobretudo, na participação do Celam como organismo episcopal continental, na preparação do Sínodo de 2023, sobre a “Igreja sinodal”. O Sínodo dos Bispos está profundamente empenhado em suscitar o máximo de participação na atual fase de preparação do Sínodo, em todos os níveis da vida eclesial. O Cardeal Grech destacou que não se trata simplesmente de uma “preparação”, mas de uma efetiva experiência de participação no Sínodo, cuja fase final será a assembleia episcopal do Sínodo, em outubro de 2023. Mas o “Sínodo sobre a sinodalidade” já está em andamento. Prevê-se uma fase continental desse “caminho sinodal”, antes de outubro de 2023; a proposta, ainda não bem definida, é uma assembleia eclesial sinodal da América Latina e do Caribe antes de março de 2023. Haverá, também, uma etapa nacional, no âmbito de cada conferência episcopal do continente. O que se prevê são vários “momentos sinodais” antes da assembleia do Sínodo dos Bispos, em outubro de 2023.

Como foi a audiência com o Papa Francisco?

No dia 19 de fevereiro [sábado], o Papa Francisco nos recebeu para uma longa audiência, durante a qual lhe expusemos, em síntese, como foi a Assembleia Eclesial de novembro passado e sobre a nova organização do Celam. Francisco conhece bem o Celam e tem muito interesse no seu bom funcionamento e serviço à Igreja do continente. Destacou que não se trata de uma “superconferência episcopal”, mas de um “Conselho Episcopal”, que está a serviço das conferências episcopais e do cumprimento da missão destas. Insistiu novamente na formação dos leigos para a vida pública e na inserção da Igreja nas diversas realidades culturais e sociais do continente. Falou novamente da importância da Conferência de Aparecida, que ainda tem muito a oferecer à Igreja no continente. Em maio deste ano, comemoram-se os 15 anos da realização da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, que resultou no Documento de Aparecida. Essa pode ser mais uma boa ocasião para retomar o Documento de Aparecida, recordando as suas linhas mestras e diretrizes mais incisivas.

Além do Celam, o senhor tem compromissos com o Conselho para a Economia?

No dia 23 de fevereiro [quarta-feira], antes de retornar a São Paulo, ainda devo participar, na Secretaria para a Economia da Santa Sé, da reunião do Conselho para a Economia, do qual também sou membro. O Conselho é formado por especialistas em economia, administração e finanças, entre os quais estão sete mulheres de diversas nacionalidades, e por alguns bispos e cardeais nomeados pelo Papa Francisco. Não é um organismo executivo, mas de supervisão, vigilância e proposição de diretrizes para as questões econômicas e financeiras do conjunto da Santa Sé.

Entre os dias 17 e 19, aconteceu no Vaticano o Simpósio Internacional sobre o sacerdócio. O senhor participou de algum momento desse evento?

Na tarde de sexta-feira, 18 de fevereiro, consegui participar um pouco do simpósio sobre o sacerdócio e as demais vocações de vida consagrada na Igreja, que acontecia na Sala de Audiências “Paulo VI”, promovido pelo Cardeal Marc Ouellet e uma fundação voltada a pesquisas sobre questões de Antropologia. Havia mais de mil participantes de todo o mundo, clérigos, religiosos e leigos. O programa foi denso de temas, com teólogos e especialistas de vários países. O temário do simpósio será em breve publicado na forma de um livro e estará acessível a todos os interessados.

Também houve uma visita ao Pontifício Colégio Pio Brasileiro e aos padres estudantes?

No meu programa de encontros em Roma também esteve a visita ao Colégio Pio Brasileiro, para contatos com a direção e com os padres estudantes que estão em Roma. Fiquei hospedado por alguns dias no Colégio, um lugar que me é familiar, pois também fui estudante residente no Colégio durante meus cinco anos de estudos em Roma.

Com todos esses compromissos, ainda sobra tempo para visitar algo mais da ‘Cidade Eterna’?

Sim, sobra sempre algum tempo para ver algo de Roma, o que não é difícil e é bem agradável, pois basta colocar o pé para fora da porta, e logo se está diante de coisas interessantes para visitar e desfrutar. Quando estou em Roma, faço minhas caminhadas pelo centro histórico no final do expediente de trabalhos e das reuniões. Roma é uma cidade riquíssima em patrimônio histórico, artístico e cultural, e seria uma pena não aproveitar para apreciar algo disso.

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