Francisco visita a família no Piemonte e recorda: ‘Na Cruz, Cristo abre os braços para todos’

Vatican Media

Cristo, Rei do Universo, inverte a lógica humana da realeza porque morre na cruz, e retorna à vida. Nas palavras do Papa Francisco, “nosso Rei se manifesta assim, de braços abertos” e “sem apontar o dedo para ninguém”. 

Em missa celebrada no domingo, 20, na Catedral de Asti, região italiana do Piemonte, Noroeste da Itália, de onde provém sua família, Francisco refletiu sobre a Solenidade de Cristo Rei, que encerra o ano litúrgico. 

RAÍZES FAMILIARES 

O principal motivo da ida do Papa Francisco à cidade italiana de Asti – mais especificamente a Portacomaro, lugarejo de 2 mil habitantes – foi uma visita pessoal à sua prima de segundo grau, Carla Rabezzana (foto), que recentemente completou 90 anos. A mãe de Carla era prima de Mario Bergoglio, pai de Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco. Ou seja, seus avós eram irmãos. A viagem estava prevista para 2020, mas teve de ser adiada por causa da pandemia. 

Os avós de Francisco, Giovanni e Rosa, se conheceram e se casaram naquela região, cuja cidade mais conhecida é Turim. Dali partiram para a Argentina, em Buenos Aires, logo após a 1ª Guerra Mundial, em 1918. O primeiro filho, Mario Bergoglio, nascido ainda na Itália, migrou com 10 anos de idade, e, na vida adulta, se tornaria o pai de Jorge Mario. É principalmente à Rosa, sua avó paterna, que o Papa Francisco atribui a transmissão da fé dentro de sua família. 

Pela manhã, o Papa participou de uma cerimônia privada com os familiares. Teve a oportunidade de rezar diante de uma imagem de Maria, na qual também seus avós rezavam. E recebeu a cidadania honorária de Asti. Cumprimentou dezenas de pessoas no caminho entre a casa episcopal, onde foi recebido, e a catedral. Estima-se que mais de mil pessoas tenham se mobilizado para vê-lo e saudá-lo. Diferentemente das outras viagens recentes, em que usou cadeira de rodas, o Papa Francisco apareceu em pé na maior parte do tempo, apoiando-se com uma bengala. 

RAÍZES DA FÉ 

Francisco disse que quis estar ali, no Piemonte, para sentir o “sabor das raízes”. E acrescentou que o Evangelho do domingo faz pensar nas “raízes da fé”, que, explicou, estão “no árido terreno do Calvário, onde a semente de Jesus, morrendo, fez brotar a esperança”, e gerou “frutos de salvação”. Em outras palavras, a cruz que definia Cristo como “Rei dos Judeus” (Lc 23,38) mostra um rei sem pedras preciosas, sem honrarias, mas com as mãos estendidas. 

“Olhando para Jesus, vemos que tudo é ao contrário”, declarou o Papa, em sua homilia. “Deus aparece esvaziado de tudo, mas rico de amor. Do trono da Cruz, não ensina mais as multidões com a palavra”, mas, em vez disso, “abre os braços”. E “somente entrando no seu abraço nós podemos entendê-lo”. Ali, na Cruz, disse o Pontífice, Cristo abraça “nossa morte, nossa dor, nossa pobreza, nossas fragilidades e nossas misérias”. 

REI DO UNIVERSO 

Quem crê em Cristo, disse o Santo Padre, deve compreender que o “Rei do universo” abraça toda realidade humana. “Ele entrou nos buracos do ódio, nos buracos negros do abandono, para iluminar cada vida e abraçar toda realidade. É esse o rei que nós festejamos!”, completou. Sendo assim, falando à comunidade diocesana de Asti, mas também a toda a Igreja, o Papa convidou a todos a ter esse rei como modelo de vida. 

Conforme o relato do Evangelho do domingo, continuou o Papa, algumas pessoas na multidão se envolveram com Jesus e sua trajetória, enquanto outras simplesmente foram “espectadoras”, “olhando de longe, curiosos e indiferentes, sem se interessar de verdade e sem se perguntar sobre o que fazer”. Essa mesma indiferença, afirmou, pode ser observada hoje naqueles que ignoram a realidade ao seu redor, evitando olhar para a dor do outro – dos pobres, dos miseráveis, dos doentes. 

O Papa Francisco convidou a todos a colocar em prática o hábito da “intercessão”, rezando pelos outros, pedindo a Cristo, como o Bom Ladrão crucificado ao lado dele, que se recorde de nós em seu Reino. “Quem pratica a confidência [com Cristo], como esse Bom Ladrão, aprende a intercessão, aprende a levar a Deus aquilo que vê, os sofrimentos do mundo, as pessoas que encontra”, disse. 

Durante a oração do Angelus, que ele rezou na Catedral de Asti, o Papa comentou, ainda, que hoje vivemos uma “carestia de paz” no mundo, com tantos lugares e povos abalados pela guerra. Em especial, ele voltou a mencionar a guerra na Ucrânia. “Vamos nos ocupar, continuemos a rezar pela paz”, declarou, mencionando também os conflitos na Faixa de Gaza, na Palestina. 

guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários