Integração de teoria e prática e aspecto ‘multicêntrico’ definiram X Encontro Mundial das Famílias 

O balanço final da 10º edição do Encontro Mundial das Famílias é positivo, mas o que realmente marcou o evento deste ano foi a “integração entre teoria e prática” e o aspecto “multicêntrico”, ou seja, a ideia de que o encontro central em Roma foi circulado por diversos outros encontros locais pelo mundo. Essa observação é do Padre Alexandre Awi Mello, I.Sch., Secretário do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida e um dos responsáveis pela organização. 

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“Houve algumas palestras principais, que seriam o aspecto teórico do encontro, mas não do ponto de vista teológico, e sim pastoral. E, depois, testemunhos em diferentes áreas”, recordou, falando ao O SÃO PAULO. Entre os delegados de pastoral familiar e famílias de mais de 120 países, foi possível ouvir relatos sobre os temas mais diversos ligados à vida familiar atual. 

Os participantes em Roma puderam também visitar paróquias locais, notou Padre Awi Mello, o que fortaleceu esse aspecto prático. Por fim, o “envio missionário” do Papa Francisco ao final do encontro fortaleceu a dimensão universal da Igreja. 

À reportagem, o casal coordenador da Pastoral Familiar no Brasil, Luiz e Katia Stolf, destacaram que nas palestras e testemunhos do congresso teológico pastoral foi possível perceber que as famílias têm se esforçado para viver a santidade no dia a dia: “Não existe família perfeita. O Papa, na missa de encerramento, nos exortou a buscar essa perfeição, essa santidade no dia a dia, não desanimar perante as dificuldades, e lembrou que o Matrimônio não é uma missão impossível, e com as graças que Deus nos dá todos os dias é possível ser feliz em família. Também pediu que lutemos pela família e que nosso testemunho possa transformar outras famílias”. 

Segundo o Padre Awi Mello, há relatos muito positivos sobre a celebração do encontro em nível local, nas dioceses de todo o mundo. “Temos notícias boas sobre essa forma multicêntrica que o Papa promoveu neste 10º encontro, providencialmente por causa da pandemia. Os bispos foram convidados a organizar um encontro paralelo nas suas dioceses, para que as famílias estivessem no centro da atenção de toda a Igreja”, disse. 

“Acredito que essa fórmula do encontro com centro em Roma e muitos centros em todas as dioceses pelo mundo veio para ficar. Espero que seja possível pensar em novas edições dessa forma”, acrescentou o Sacerdote. Ele notou, ainda, que o encontro foi realizado na conclusão do Ano Família “Amoris Laetitia”, ou seja, um ano dedicado para aprofundar os ensinamentos da exortação apostólica pós-sinodal publicada pelo Papa Francisco em 2016. “É uma alegria poder ter concluído e sermos enviados em missão pelo mundo inteiro”, completou.

‘A família é o primeiro lugar onde se aprende a amar’ 

Em vez de viver sozinhos, como ilhas, os membros de uma família usam sua liberdade para “amar as pessoas que Deus colocou ao seu lado”. Com essa visão, o Papa Francisco concluiu o X Encontro Mundial das Famílias, no sábado, 25. 

Os casais que formam família “não são satélites que viajam cada um com sua própria órbita”, disse o Pontífice. “A família é um lugar de encontro, de compartilhamento, de sair de si mesmos para acolher o outro e lhe estar próximo. É o primeiro lugar onde se aprende a amar. Isso não podemos esquecer jamais: a família é o primeiro lugar onde se aprende a amar”, enfatizou. 

Embora ele não tenha presidido a missa de encerramento, delegando essa função ao Cardeal Joseph Farrell, Prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, o Papa proferiu a homilia sentado, na Praça São Pedro. Por causa das dores no joelho, ele tem reduzido atividades que exigem muito movimento. 

REALIDADE QUE DESAFIA 

Porque a realidade nem sempre per- mite que a família seja esse ambiente saudável e cheio de amor, é preciso continuar defendendo seu valor, disse o Papa. “Não deixemos que ela seja poluída pelos venenos do egoísmo, do individualismo, da cultura da indiferença e da cultura do descarte, e perca, assim, o seu DNA, que é o acolhimento e o espírito de serviço”, declarou. “O traço próprio da família é o acolhimento e o espírito de serviço dentro da família”, lembrou. 

Por meio do diálogo entre pessoas de diferentes gerações, é possível ajudar os mais jovens a encontrar sua vocação, evitando posturas “superprotetivas”, que impedem os jovens de se arriscar e de tomar conta da sua própria vida, tomar suas próprias decisões. 

Nesse sentido, o Papa fez o alerta aos pais superprotetores. “Vemos tantos jovens que não têm coragem de se casar”, notou o Papa, brincando que diz aos pais: “Pare de passar as suas camisas, comece a mandar o filho para fora do ninho”. O amor familiar ensina os filhos “a voar”, afirmou o Santo Padre: “Não é possessivo. É de liberdade, sempre.” 

A íntegra da homilia do Pontífice pode ser lida clicando aqui

Famílias serão celebradas novamente em 2025 e 2028 

Junto com o Ano Jubilar de 2025, haverá uma nova celebração de famílias de todo o mundo em Roma, o chamado “Jubileu das Famílias”. A ideia é aproveitar o grande fluxo de fiéis previsto em Roma para já realizar um novo encontro voltado ao tema da família. Em 2028, seriam retomadas as edições globais, com o 11º Encontro Mundial das Famílias, em sede ainda a ser definida. 

“Rezemos para que esses encontros também sejam grandes eventos e envolvam milhares de famílias”, disse o Cardeal Joseph Farrell, Prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, ao final da missa de encerramento e envio das famílias no sábado, 25. 

Em suas palavras de agradecimento no início do encontro, no Festival das Famílias no dia 22, o Cardeal lembrou que depois de quase dois anos e “tantas incertezas organizativas” foi finalmente possível realizar o evento em Roma. Passaram-se quatro anos desde o encontro de Dublin, na Irlanda. 

Referindo-se às atividades daquele dia, o Cardeal declarou: “As famílias que apresentamos aqui não são perfeitas porque – como diz sempre o Santo Padre – as famílias perfeitas não existem. São famílias normais, como tantas outras, em todo país e latitude, atravessam dificuldades e sofrimentos típicos do nosso tempo: o medo de se casar em uma sociedade que desencoraja e se empenhar ‘para sempre’, a dificuldade de se perdoar em um mundo que incentiva o individualismo e a pensar só em si mesmo, a guerra e a perda repentina de uma pessoa cara”, notou, citando alguns exemplos de famílias que deram testemunhos no encontro.

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