Jesuítas comemoram 400 anos das canonizações de Santo Inácio de Loyola e São Francisco Xavier

Cardeal Scherer ressaltou o papel desses santos na renovação da igreja em um período de crise cultural

Fotos: Luciney Martins /O SÃO PAULO

Uma missa solene celebrada na capela do Colégio São Francisco Xavier (foto), no Ipiranga, marcou as comemorações, no Brasil, dos 400 anos das canonizações de Santo Inácio de Loyola e São Francisco Xavier.

A Eucaristia foi presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, e concelebrada por sacerdotes da Companhia de Jesus (Jesuítas).

Em 12 de março de 1622, o Papa Gregório XV canonizou na mesma celebração Santo Inácio de Loyola, São Francisco Xavier, Santa Teresa de Jesus (de Ávila), São Filipe Néri e Santo Isidoro, lavrador.

Na homilia da missa em ação de graças, Dom Odilo se referiu a esses santos como “gigantes” da vida cristã. “Ao canonizá-los, a Igreja afirma que eles estão com Deus e que sua vida é uma interpretação autêntica do Evangelho”, disse.

SANTO INÁCIO

Luciney Martins /O SÃO PAULO

O fundador da Companhia de Jesus nasceu no Castelo de Loyola, no norte da Espanha, em 1491. Filho de família cristã da nobreza rural, o caçula de 13 irmãos foi batizado como Iñigo. Mais tarde, entretanto, mudaria seu nome, passando a assinar Inácio.

Sua inclinação para a carreira militar o tornou um exímio cavaleiro. Como descreveu em sua autobiografia, até os 26 anos de idade “tinha sido um homem entregue às vaidades do mundo”. Em 1521, ao tentar, sem sucesso, proteger Pamplona dos invasores franceses, Inácio foi ferido por uma bala de canhão, que, além de partir sua perna direita, deixou

CONVERSÃO

Durante o período de recuperação no Castelo de Loyola, como não havia livros de Cavalarias – seus preferidos –, Inácio dedicou-se à leitura de “Vida de Cristo” e uma coletânea “Vida dos Santos”. Foi após o contato com essas obras que ele percebeu, com atenção e paciência, que as ambições mundanas lhe causavam alegrias efêmeras, meros prazeres, ao passo que a entrega a Jesus Cristo lhe enchia o coração de alegria duradoura. Essa consolação foi, para Inácio, um sinal de Deus.

Recuperado, Inácio decidiu partir rumo a Jerusalém. Vivendo como ere- mita e mendigo, passou pelas mais duras necessidades. Seu objetivo, porém, era maior: queria ter tranquilidade para fazer anotações em um caderno que, mais tarde, iriam se transformar no livro dos Exercícios Espirituais (EE), considerado até hoje um de seus mais importantes legados. Após essa experiência, Inácio seguiu em sua peregrinação a Jerusalém, onde permaneceu por um tempo.

COMPANHIA DE JESUS

Luciney Martins /O SÃO PAULO

Em 15 de agosto de 1534, na capela de Montmartre, em Paris, Inácio e seis companheiros – Francisco Xavier, Pedro Fabro, Afonso Bobadilha, Diogo Laínez, Afonso Salmeirão e Simão Rodrigues – fizeram votos de se dedicarem ao bem dos homens, imitando Cristo.

A Companhia de Jesus foi aprovada oficialmente pelo Papa Paulo III, em 27 de setembro de 1540. Em 31 de julho de 1556, muito debilitado, Inácio morreu em Roma.

SÃO FRANCISCO XAVIER

Dom Francisco de Jaso e Javier nasceu em 7 de abril de 1506, em Navarra, na Espanha. Foi o sétimo filho da família dos senhores de Javier e viveu sua infância e adolescência entre os castelos e as cortes, a mudança de privilégios e territórios, a perda do pai e a partida dos irmãos para a guerra. Teve, portanto, um início de vida em um ambiente de tumulto e alguns conflitos. Estudou na Universidade de Paris e se destacou nas ciências, tornando-se professor e ocupando cátedras importantes. Conheceu grandes homens e mulheres, inteligentes e sábios, mestres e doutores. Porém, nenhum como aquele que transformaria sua vida por completo, Inácio de Loyola. Após a experiência de realizar os exercícios espirituais com ele, conseguiu enxergar o sentido profundo de sua existência.

Luciney Martins /O SÃO PAULO

NO ORIENTE

O seu ardor missionário nasce meio que por acidente, pois um jesuíta que partiria para a Índia adoeceu, levando Xavier a se aventurar nessa região. Após professar os votos na Companhia de Jesus, partiu para nunca mais retornar a Roma.

Dos 15 anos de sacerdócio, 11 foram vividos no Oriente. Passou por Portugal, antes de partir rumo à Índia, onde atuou em Goa, seguiu para a costa da Pescaria e Cabo de Comorim. Passou, ainda pelas Ilhas do Pacífico e nas atuais Malásia e Indonésia. Também realizou um amplo trabalho missionário no Japão, mais especificamente nas regiões de Kagoshima, Hirado, Yamaguchi e Kyoto. Morreu exausto, olhando para a China, na madrugada do dia 3 de dezembro de 1552, sem concretizar o sonho de anunciar o Evangelho nessa nação.

HERANÇA ESPIRITUAL

O Cardeal Scherer sublinhou que os dois santos jesuítas marcaram uma época da história da Igreja e continuam a marcar a vida eclesial e a comunidade humana. “O Santo não fica no passado. Continua a atuar por meio da sua herança espiritual, seus exemplos, escritos, as obras por ele fundadas que permanecem”, afirmou, mencionando a própria Companhia de Jesus, que continha a sua ação evangelizadora no mundo, e o exemplo missionário de São Francisco Xavier, cujos frutos são percebidos na autenticidade e fervor dos católicos no extremo Oriente.

Nesse sentido, Dom Odilo recordou que, após a expulsão dos jesuítas do Japão, o catolicismo continuou a ser transmitido por gerações pelos próprios fiéis leigos, que se organizavam na clandestinidade. Esse, apontou o Cardeal, é o maior fruto da pregação e do exemplo de São Francisco Xavier naquelas terras. O Purpurado recordou, ainda, que o século XVI, quando foi fundada a Companhia de Jesus, era uma época extremamente conturbada na vida da Igreja, especialmente na Europa, em “ebulição cultural” que retomava modelos de vida não cristãos que afetaram todos os âmbitos da sociedade, inclusive a Igreja. Daí surgiram os movimentos de reforma na Igreja, alguns dos quais romperam com a comunhão eclesial. Outros, porém, aconteceram a partir de dentro, por meio do empenho de homens e mulheres que, inspirados por Deus, instituíram grandes obras, como foi o caso de Santo Inácio.

Luciney Martins /O SÃO PAULO

CRISE DE SANTOS

“Vocês repararam que o século XVI foi um período de grandes santos? De grandes iniciativas que marcaram a vida da Igreja até hoje?”, indagou, mencionando, por exemplo, o Concílio de Trento, que promoveu uma grande reforma in- terna na Igreja e que se pautou em questões que também hoje merecem atenção: “Renovação da vida do clero; nova impostação da vida religiosa consagrada; renovação da pregação, da catequese, da liturgia; renovação missionária, da caridade organizada…”

“Vivemos um período de crises e muitos estão pessimistas. Eu estou mais otimista porque é nesses momentos que a ação do Espírito Santo se faz mais forte… e já está surgindo. Nem sempre vemos logo os frutos dessas iniciativas de vida nova na Igreja. Eles aparecem com o passar do tempo”, completou Dom Odilo, reforçando o convite para que o exemplo desses e dos muitos santos inspire os cristãos de hoje no caminho de renovação missionária da Igreja.

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