Mulheres católicas refletem sobre a concepção antropológica cristã da sexualidade humana

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A Rede Internacional de Mulheres da Academia Latino-Americana de Líderes Católicos promoveu na quinta-feira, 27 de janeiro, o 1º Diálogo Internacional entre Mulheres Católicas.

O evento, realizado na modalidade on-line, discutiu sobre “Teorias de gênero e identidade católica”, com a assessoria de Marta Rodríguez, bioeticista, filósofa e doutora em Antropologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana, de Roma. Ela, que também foi chefe da seção feminina do Dicastério para Leigos, a Família e a Vida, da Santa Sé, acaba de publicar sua tese de doutorado sobre as raízes filosóficas da teoria de gênero.

Na apresentação do tema, a antropóloga aprofundou a reflexão sobre a diferença entre teoria e ideologia de gênero, analisou o quanto o conceito de gênero é compatível com uma visão antropológica cristã, desde que compreendido corretamente, bem como o quanto sexo e gênero podem ser conceitos distintos, porém inseparáveis.

CONCEITOS

“Sexo é entendido como o conjunto de características biológicas (nível cromossômico, genital e morfológico, hormonal) que definem o corpo de uma pessoa. Já gênero designa o papel sociocultural do sexo, isto é, o modo em que as distintas culturas interpretam o dado do sexo”, explicou Marta, destacando que são muitas as teorias baseadas nessa distinção, mas nem todas correspondem à concepção antropológica cristã.

“A questão de gênero obrigou a Antropologia Cristã a aprofundar e amadurecer mais a reflexão sobre elementos que ainda não haviam sido aprofundados, dando-nos, assim, uma Antropologia mais rica”, acrescentou a especialista, reforçando que a identidade de gênero é resultado da integração de distintos elementos dos quais “nenhum é prescindível ou suficiente” em si mesmo, de modo que não é possível tomá-los separadamente.

EXPERIÊNCIAS

Na concepção antológica cristã, portanto, o corpo humano se relaciona diretamente com a identidade psíquica da pessoa, que se desenvolve a partir de experiências que são sempre corpóreas. “Não podemos ter uma experiência que seja estranha ou desenraizada do nosso corpo”, frisou Marta, completando: “Nossa identidade não pode pôr entre parênteses o dado a partir do qual se desenvolveu e que foi vínculo necessário de todas as experiências”.

Marta acrescentou, ainda, que o corpo é sexuado, e, portanto, possui características e fenômenos próprios que exigem uma elaboração psíquica, tais como a menstruação, a lactação e a ejaculação. “Essas experiências fortemente sexuadas têm um impacto fundamental na formação da identidade”, reforçou.

Outro elemento importante é o cultural, que afeta a percepção e interpretação da pessoa sobre as suas experiências corporais e psíquicas próprias da sua identidade sexual. “Necessariamente, há uma influência cultural em toda experiência. Minha percepção nunca é absoluta”, afirmou Marta, salientando que, embora a verdade não possa ser relativa, sua abordagem pode ser.

Por fim, ela enfatizou que a sexualidade humana deve ser vista como um “dom” e uma “tarefa”, como definia São João Paulo II, ou seja, algo que a pessoa não cria, mas recebe, que faz parte de sua natureza e que, por isso, deve ser assumida, desenvolvida e cuidada. “A cada um de nós nos toca a complexa tarefa de compreender o significado do nosso corpo sexuado, acolhê-lo livremente e integrá-lo”, enfatizou, recordando que cada ser humano é “único e irrepetível”.

RISCOS DA IDEOLOGIA 

A partir desses pressupostos, Marta Rodríguez sublinhou que a ideologia consiste em uma visão redutiva da realidade, que coloca acento apenas em um dos elementos que ajudam a formar a identidade da pessoa, ignorando os demais. A concepção antropológica cristã, por sua vez, não absolutiza um elemento, mas considera todos essenciais para o desenvolvimento da pessoa.

Nesse sentido, a antropóloga ressalvou que a concepção antropológica cristã não consiste em um “determinismo biológico”, como confirma uma declaração da Santa Sé sobre a interpretação do termo gênero, publicada em 1995, na qual se destaca que esse conceito não pode estar separado da identidade sexual de homem e mulher, mas deve levar em conta a integralidade da pessoa.

Na exortação apostólica Amoris laetitia, o Papa Francisco critica a ideologia genericamente chamada gender, que “nega a diferença e a reciprocidade natural de homem e mulher”. “É preciso não esquecer que ‘sexo biológico’ e função sociocultural do sexo (gender) podem-se distinguir, mas não separar”, frisou o Pontífice.

A REDE

A Academia Latino-Americana de Líderes Católicos é um centro de formação e pensamento internacional presidido pelo Cardeal Carlos Aguiar Retes, Arcebispo da Cidade do México. Tem como um de seus objetivos ser “lugar de convocação e casa comum de reflexões compartilhadas, diálogos abertos e iniciativas comuns, para todos os católicos que manifestam a exigência e necessidade de crescer na fé”.

Criada em 19 de novembro de 2020, a Rede Internacional de Mulheres Católicas tem a missão de promover, elaborar e implementar ações concretas sobre o papel da mulher no contexto atual a partir do ensinamento social da Igreja Católica, destinado a todos os homens e mulheres de boa vontade.

A brasileira Ada Ferreira, membro da Secretaria Executiva da Rede Internacional de Mulheres, afirmou ao O SÃO PAULO que o evento teve um saldo positivo, com a participação de cerca de 500 pessoas, a maioria mulheres que puderam aprofundar um tema pertinente na atualidade e que gera muitas dúvidas.

“Desde sua constituição em novembro de 2020, a Rede Internacional de Mulheres teve diversas conquistas, destacando como mais importante e fundamental a formação de vínculos afetivos e humanos entre as coordenadoras, buscando cumprir sua vocação de ser uma autêntica comunidade cristã, tendo como base a confiança e a amizade”, destacou Ada.

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