No Japão, plano multimilionário para estimular casais a terem mais filhos pode não surtir efeito

Bebe

Reprodução da internet

Ao longo das últimas décadas, o Japão tem experimentado uma acentuada queda na fecundidade de sua população. Essa situação, porém, tem se agravado e causado apreensão nas autoridades, que temem que a sociedade do país asiático não consiga mais funcionar de forma adequada devido à baixa histórica na taxa de natalidade.

No ano passado, pela primeira vez em mais de um século, o número de bebês nascidos no Japão ficou abaixo de 800 mil, segundo estimativas oficiais. Na década de 1970, esse número passava de 2 milhões. Atualmente, a média de filhos de uma mulher japonesa é de 1,3, uma das taxas mais baixas do mundo (a Coreia do Sul tem a menor, 0,78).

Embora a queda na taxa de natalidade seja um fenômeno bastante difundido nos países desenvolvidos, o problema é mais grave no Japão, dada que a expectativa de vida aumentou nas últimas décadas, o que significa que há um número cada vez maior de idosos e aposentados e cada vez menos trabalhadores para sustentá-los, sobrecarregando os serviços de saúde e o sistema previdenciário.

Diante dessas circunstâncias, Fumio Kishida, primeiro-ministro japonês, anunciou que vai dobrar os gastos fiscais do governo destinados a programas que promovem a natalidade por meio do apoio à criação de filhos, iniciativa que deve alcançar cerca de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. No entanto, outros governos japoneses já tentaram promover estratégias semelhantes, sem obter os resultados esperados, como ocorreu também em Cingapura.

“No Japão existe uma cultura laboral punitiva que exige longas jornadas de trabalho, alto nível de comprometimento e alto desempenho dos funcionários, deixando pouco espaço para ter filhos”, afirmou Tomas Sobotka, vice-diretor do Instituto de Demografia de Viena, na Áustria.

“Está claro que o apoio monetário às famílias pode resolver apenas parcialmente as razões por trás da baixíssima fecundidade no país”, acrescentou.

Outros especialistas no assunto, como Poh Lin Tan, acadêmica da Escola de Políticas Públicas Lee Kuan Yew da Universidade Nacional de Cingapura, argumentam que é preciso melhorar as condições de vida das pessoas para incentivar as taxas de natalidade, ou seja, é preciso mudanças que não dependam de incentivos monetários.

“A razão pela qual as políticas para aumentar a fecundidade não têm funcionado é porque elas não abordam as razões fundamentais, como empregos instáveis, papéis de gênero desiguais dentro de casa, discriminação no ambiente de trabalho e alto custo de vida”, afirmou a acadêmica. Nesse sentido, “a baixa fecundidade é um sintoma de outros problemas”, concluiu ela.

Tomas Sobotka é da mesma opinião: “O que o Japão precisa é de uma transformação mais profunda, porque as normas e expectativas familiares e de gênero da sociedade permanecem arraigadas ao passado. Muitas vezes, as mães continuam a ser vistas como as únicas responsáveis por cuidar da família, pelos afazeres domésticos, pelo bem-estar, educação e sucesso escolar dos filhos”, afirmou.

Segundo Sobotka, poucos países da Europa conseguiram um aumento sustentado em suas taxas de natalidade, como é o caso da Alemanha, que adotou políticas familiares nos últimos 20 anos, melhorando as condições de trabalho e a assistência infantil para aqueles que decidem ter filhos.

 A Estônia também teve algum sucesso ao aplicar algumas medidas semelhantes, situação compartilhada pela França, que agora é um dos países com maior fecundidade da Europa.

Fonte: BBC

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