Nossa Senhora do Carmo: mãe e protetora dos cristãos

nossa senhora do carmo

Nesta quinta-feira, 16, a Igreja celebra a Festa de Nossa Senhora do Carmo, um dos títulos marianos mais populares do mundo. A origem dessa devoção remonta ao século XII, a partir da experiência de um grupo de eremitas cristãos que passaram a viver no Monte Carmelo, em Israel.

Foi nesse lugar que o profeta Elias, logo após o confronto com os 450 “profetas” de Baal, subiu para orar. O texto bíblico narra que por sete vezes o profeta mandou seu servo olhar para a direção do mar, para verificar se havia sinal de chuva. “Na sétima vez, o servo respondeu: ‘Eis que sobe do mar uma pequena nuvem, do tamanho da palma da mão’. (…) Num instante, o céu se cobriu de nuvens negras, soprou o vento e a chuva caiu torrencialmente” (1Rs 18,44-45).

Segundo uma antiga tradição, aquela nuvem prefigurava a Mãe do Salvador, que, no Novo Testamento, faria “chover sobre a humanidade” o Redentor, e, depois, as graças obtidas por sua intercessão. Por essa razão, aqueles primeiros eremitas construíram um oratório dedicado a Nossa Senhora, nascendo, assim, a Ordem dos Filhos da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo. Posteriormente, no século XV, surgiu o ramo feminino da ordem.

ESCAPULÁRIO

Pintura retrata Nossa Senhora entregando o escapulário a São Simão Stock

No século XIII, expulsos do Monte Carmelo pelos muçulmanos, os carmelitas migraram para a Europa, deixando de ser eremitas e passando a adotar a vida fraterna, em comunidades. Nessa época, eles passaram por grandes dificuldades e perseguições, sendo até hostilizados por sua maneira de se vestir.

No dia 16 de julho de 1251, durante o momento de oração em um convento na Inglaterra, o então Superior-Geral da ordem, São Simão Stock, pediu a Nossa Senhora um sinal de sua proteção que fosse visível também para aqueles que os perseguiam. Foi então que ele teve uma visão na qual a Virgem Maria lhe entregou o escapulário, uma espécie de avental usado pelos monges durante o trabalho, para não sujar o hábito, e lhe disse:

 “Recebe, filho amado, este escapulário. Todo o que com ele morrer não padecerá a perdição no fogo eterno. Ele é sinal de salvação, defesa nos perigos, aliança de paz e pacto sempiterno”.

DEVOÇÃO

Este sinal de devoção se popularizou e se estendeu também a todos os fiéis que desejavam invocar a proteção de Nossa Senhora do Carmo, com um formato simplificado, geralmente contendo dois pedaços de tecido marrom presos por cordões para serem colocados sobre os ombros, recordando a peça do hábito carmelita.

Foram vários os papas que confirmaram e recomendaram o uso do escapulário. O Papa João XXII afirma que aqueles que usarem o escapulário serão libertados das penas do purgatório no sábado que se seguir à sua morte. São João Paulo II, que o vestiu desde a infância, descreveu o escapulário como “sinal de aliança entre Maria e os fiéis”.

FESTA DA PADROEIRA

Este ano, a festa da padroeira acontece no contexto da pandemia. A Basílica Nossa Senhora do Carmo, na Bela Vista, adaptou sua programação, e não haverá a tradicional quermesse. A novena preparatória, contudo, foi mantida, sendo transmitida pelas mídias digitais e com a possibilidade de participação presencial de um número reduzido de fiéis, respeitando-se os protocolos preventivos.

Frei Thiago Borges, Pároco há dois anos, ressaltou ao O SÃO PAULO que, na capital paulista, há uma grande devoção a Nossa Senhora do Carmo, especialmente ao escapulário. “São muitos os relatos de pessoas que invocam a proteção da Virgem do Carmo nos momentos de dificuldades e alcançaram graças. É uma espiritualidade que conduz a este encontro sincero e profundo com Deus”, ressaltou.

Basílica de Nossa Senhora do Carmo, na Bela Vista, em São Paulo
(Foto: Patrimônio Espiritual)

300 ANOS DE PROVÍNCIA

Neste ano, a Festa do Carmo tem um sentido mais especial para os carmelitas do Brasil, pois se comemoram os 300 anos da instituição da Província Carmelitana de Santo Elias, que abrange o território nacional.

No entanto, a história dos carmelitas em terras brasileiras quase se confunde com a história da colonização do País, quando seus primeiros quatro frades vieram de Portugal, em 1580, desembarcando em Olinda (PE), onde fundaram o primeiro convento e expandiram a missão para outras cidades.

MISSÃO

Superior Provincial há seis meses e carmelita há 21 anos, Frei Adailson Quintino dos Santos destacou que os carmelitas sempre atuaram em diversas áreas e frentes de missão no País.

“Geralmente, as pessoas nos perguntam o que fazemos especificamente. Nós sempre respondemos que não temos uma missão única, pois estamos para responder a uma necessidade da Igreja”, ressaltou o Provincial, enumerando que, hoje, os frades atuam à frente de paróquias, na área da Educação, no serviço da caridade, nas universidades. Atualmente, a província brasileira está presente em seis estados: Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo e Tocantins, além do Distrito Federal.

Papa Francisco, em audiência com frades da Ordem do Carmo (Vatican Media)

CARISMA

Ao explicar a espiritualidade carmelitana, Frei Adailson destacou três dimensões. A primeira delas é a oração. “Os carmelitas são chamados a ser mestres da oração e a levar todos aqueles que participam das suas diversas comunidades a viver esta vida de oração”, detalhou o Provincial.

Outra dimensão é a vida fraterna. “Não dá para sermos carmelitas sem viver a fraternidade, da vida comum, do amor, do perdão e da reconciliação”, sublinhou o Frade.

Por fim, a terceira dimensão é o serviço apostólico. “Nós, carmelitas, somos ativos na contemplação. Isso significa que o fruto da nossa vida de oração é a missão que vai ao encontro de todas as realidades nas quais estamos inseridos, onde a Igreja precisar”, afirmou o Provincial.

DESDE A INFÂNCIA

Frei Thiago, 31, é carmelita há nove anos. Para ele, o que o faz pertencer à ordem é a vida de oração que vai além da vida litúrgica. “Se olharmos para os nossos santos místicos, perceberemos que essa vida de oração consiste em estar em relação íntima com Deus”, acrescentou o Frade. “Quantos homens e mulheres beberam e bebem dessa espiritualidade e, no ordinário de suas vidas, se santificam por meio do exemplo de uma Teresa de Jesus, Teresinha do Menino Jesus, João da Cruz, Madalena de Pazzi”, completou o Religioso.

A espiritualidade carmelita gerou muitos santos e doutores da Igreja

A espiritualidade carmelitana também gerou outras dezenas de santos e beatos. Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein), Santa Teresa dos Andes e Elisabete da Trindade constam entre eles.

Nestes 800 anos, a Ordem do Carmo floresceu e deu origem a novas ramificações que bebem da mesma espiritualidade e origem. Uma delas é fruto da reforma do carisma carmelitano realizado por Santa Teresa d’Ávila e São João da Cruz, que deu origem à Ordem dos Carmelitas Descalços, também conhecidos como “teresianos”. No entanto, Frei Adailson ressaltou que as ordens e congregações de carisma carmelitano têm todas, em sua origem, a experiência daqueles primeiros filhos de Nossa Senhora no Monte Carmelo.

INFORMAÇÕES

No dia 16, serão celebradas cinco missas na Basílica do Carmo: às 7h, 10h, 12h, 16h e 19h30. Para outras informações, acesse: www.basilicadocarmo.org.br.

LEIA TAMBÉM:

A Espiritualidade carmelita a partir de seus doutores

Deixe um comentário