Papa pede a novos cardeais que testemunhem ‘amor a todo ser humano, sem limites’

Vatican Media

Coragem apostólica e zelo pela salvação de todo ser humano, “nenhum excluído”, são características de Cristo que o Papa Francisco espera encontrar nos 20 cardeais que criou no sábado, 27 de agosto. O consistório – reunião do Papa com os cardeais presentes em Roma – convocado pelo Pontífice há três meses foi o primeiro realizado desde o início da pandemia de COVID-19. 

O amor de Cristo é “sem limites, sem reservas, sem condições, porque no seu coração arde a misericórdia do Pai”, afirmou Francisco, na ocasião. Usando a metáfora do fogo para falar da “chama poderosa do Espírito Santo”, que transforma o mundo, o Papa Francisco acolheu os novos cardeais. Dos 20 escolhidos, 16 têm menos de 80 anos e, portanto, poderiam votar numa eventual eleição de um futuro Papa. (Veja abaixo como fica o colégio cardinalício com a chegada dos novos cardeais.)

PRESENÇA SUAVE, MAS CONSTANTE 

Neste consistório, Francisco refletiu sobre a passagem do Evangelho segundo São Lucas (12,49), que diz: “Eu vim para derramar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso!”. O Papa recordou que “Deus é amor que purifica, regenera, transfigura” e Cristo, “como coluna ardente, abre o caminho da vida por meio do mar tenebroso do pecado e da morte”. 

Mas também disse que o “fogo de brasa” é mais suave, porém dura muito tempo, e simboliza a presença simples e constante de Deus em nossas vidas – algo que, sinaliza o Pontífice, deve-se encontrar na missão dos cardeais.

“É como se Cristo nos entregasse uma chama acesa e dissesse ‘como o Pai me enviou, assim eu também vos envio’ (Jo 20,21)”, declarou. 

Portanto, se o “estilo de Deus é proximidade, compaixão e ternura”, disse o Papa, é preciso que os novos cardeais sejam instrumentos para que as outras pessoas possam experimentar “a presença do Deus vivo em meio a nós”. Francisco os convidou a rezar mais, a adorar a Deus cotidianamente, para alcançar essa meta, para que sejam “presença de Jesus vivo, na Palavra e na Eucaristia, e a sua própria presença fraterna, amigável e caridosa”. 

Inspirado pelas palavras de São Tomás de Aquino, o Papa Francisco disse aos novos cardeais que “um homem de zelo apostólico é animado pelo fogo do Espírito para cuidar corajosamente das coisas grandes e das coisas pequenas”. Como Cristo, devem apresentar uma “magnanimidade humilde”, afirmou. 

A SERVIÇO DO PAPA E DA IGREJA 

Como é tradição, o primeiro cardeal na lista dos novos nomeados se dirige ao Papa durante o consistório em nome de todo o grupo. Desta vez, foi o Cardeal Arthur Roche, Prefeito do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. “Não merecemos essa honra”, disse, “mas o senhor nos chamou para servir sua missão de Bispo de Roma, para o bem de todo o povo de Deus”, discursou. 

Ele afirmou que os novos cardeais estão dispostos a promover a comunhão com toda a Igreja e com o Sumo Pontífice. “Resistindo a qualquer tentação de restringir a mente e o coração, o que leva a se fechar no ‘próprio eu’.” O Cardeal Roche indicou que os cardeais existem para ajudar o Papa a governar a Igreja, em respeito, obediência e colaboração. 

“A nossa missão hoje é de ajudá-lo a carregar essa cruz, e não de aumentar o seu peso”, disse. “Com grande alegria, desejamos caminhar ao seu lado [Papa Francisco], sabendo que ao senhor são confiadas as chaves do Reino”, comentou o Cardeal britânico. 

Francisco já nomeou a maioria dos cardeais eleitores 

Entre os novos cardeais criados pelo Papa Francisco no sábado, 27 de agosto, estão dois brasileiros: Dom Leonardo Ulrich Steiner, Arcebispo de Manaus (AM), e Dom Paulo Cezar Costa, Arcebispo de Brasília (DF). Agora, o Brasil tem seis cardeais eleitores. Os outros são Dom Odilo Pedro Scherer (São Paulo), Dom Orani João Tempesta (Rio de Janeiro), Dom Sergio da Rocha (Salvador) e Dom João Braz de Aviz (Prefeito do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica). 

Este foi o oitavo consistório do Papa Francisco, que já nomeou a maioria dos cardeais eleitores. Atualmente, os cardeais são 226, dos quais 132 são eleitores, isto é, têm menos de 80 anos e poderiam votar num eventual conclave. Desse total, 83 foram nomeados no atual pontificado. Outros 38 foram escolhidos por Bento XVI e 11 por São João Paulo II. 

Alguns critérios são claros nas escolhas do Papa Francisco: primeiro, ele tem buscado diversificar o colégio cardinalício, trazendo representantes de países das “periferias existenciais”, onde o Cristianismo não é maioria, ou de lugares que nunca tiveram cardeais antes. É o caso de Timor Leste, Mongólia, Cingapura e Paraguai, por exemplo. Segundo, tem buscado trazer para o grupo dos cardeais homens com mais de 80 anos, que, embora não sejam eleitores, colaboraram de maneira significativa com a Igreja ao longo da vida – algo que dissocia o cardinalato a uma mera função instrumental, de eleitores em um conclave, fortalecendo a visão missionária e pastoral.

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