Papa Francisco vai ao encontro dos indígenas em viagem ao Canadá

Shaun Vicente /Vatican Media

“Se Deus quiser, parto para o Canadá”, disse o Papa Francisco no domingo, 17, depois da oração do Angelus. Após ter que cancelar a viagem para a República Democrática do Congo e o Sudão do Sul, por causa de dores no joelho, ele confirmou que pretende manter a viagem apostólica ao Canadá, programada para 24 a 30 de julho. 

Embora o Santo Padre vá encontrar “todos os habitantes daquele país”, ele destacou que o motivo principal de sua visita é a reunião com membros das comunidades indígenas canadenses. 

Em outras ocasiões, ele lembrou que é necessário realizar um caminho de “reconciliação e cura” na América do Norte, e afirmou que é preciso “nos afastarmos do modelo colonizador e caminhar lado a lado, no diálogo, no respeito recíproco e no reconhecimento dos direitos e dos valores culturais de todas as filhas e filhos do Canadá”. 

CONTEXTO DA VIAGEM 

Nos últimos anos, pesquisas arqueológicas e documentais mostraram que escolas financiadas pelo estado canadense – do século XIX aos anos 1970 – cometeram uma série de abusos contra crianças de origem indígena. Embora se tratasse de uma política pública, mais da metade dessas escolas eram de organizações católicas. 

Entre os abusos cometidos estão a separação das crianças de suas famílias e culturas originais e o sepultamento em valas comuns, sem identificação, de muitas das que morriam. Mais de 150 mil crianças indígenas do Canadá frequentaram as 130 escolas financiadas pelo Estado. Esses alunos eram afastados de suas comunidades originais e obrigados a assimilar os valores ocidentais. 

Em diferentes ocasiões, o próprio governo canadense admitiu que nessas escolas também houve abusos físicos e sexuais. A descoberta de restos mortais de centenas de crianças em valas não identificadas de antigos internatos, no ano passado, levou a uma grande comoção no país. Membros da sociedade civil questionam o papel da Igreja na época. 

Os bispos do Canadá publicaram documentos e pediram perdão pelos erros de seus antecessores. A convite dos bispos, o Papa Francisco resolveu ir ao Canadá para promover a reconciliação. Em diferentes momentos, desde o início deste ano, ele recebeu grupos de líderes indígenas do Canadá. 

“Infelizmente, no Canadá, muitos cristãos, inclusive alguns membros de institutos religiosos, contribuíram com as políticas de assimilação cultural que, no passado, danificaram gravemente, em diferentes formas, as comunidades nativas”, disse o Papa no último domingo. “Por isso, recentemente recebi no Vaticano alguns grupos, representantes dos povos indígenas, aos quais manifestei a minha dor e a minha solidariedade pelo mal que eles sofreram.” O Pontífice completou dizendo que, em sua visita apostólica, realizará uma “peregrinação penitencial”. Ele espera poder contribuir com o caminho de “cura e reconciliação” que já foi iniciado. 

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