Para o seu bem e o do próximo, use máscaras em ambientes fechados e vacine-se 

Em casa, no trabalho ou no grupo de amigos, muito possivelmente você conhece alguém que neste momento ou de maio para cá contraiu o coronavírus. Acredite, não é algo restrito ao seu círculo de relacionamentos: os casos de COVID-19 estão em alta. 

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Conforme dados do consórcio de veículos de imprensa, na segunda-feira, 20, a média móvel de novos casos da doença estava em 37,2 mil registros por dia, alta de 6% em relação aos 14 dias anteriores. Já a quantidade de óbitos cresceu 47% nesse período, e no dia 20 a média móvel estava em 141 mortos/dia pela doença. 

Também no estado de São Paulo, há indicativos sobre o avanço da doença. No dia 6 de junho, por exemplo, foram internados com a COVID-19 em leitos de UTI e enfermaria um total de 503 pessoas, mais que o dobro que as 247 pessoas que receberam esse encaminhamento em 24 de maio. 

No fim do mês passado, o governo paulista voltou a recomendar o uso de máscaras em ambientes fechados, e o mesmo fez a Prefeitura de São Paulo no começo de junho. Continua obrigatório o uso do item para entrada e permanência em ambientes hospitalares e nos transportes públicos. 

Na cidade de São Paulo, um comparativo nos números da pandemia no primeiro dia deste mês e no dia 20 comprova o avanço da COVID-19: enquanto em 1º de junho a taxa de ocupação dos leitos de UTI COVID-19 estava em 53% (120 internados) e os de enfermaria em 39% (98 pessoas), no dia 20, os registros eram de 70% de ocupação de leitos de terapia intensiva (138 internados) e de 61% de enfermaria (216 pacientes). 

MÁSCARA NO ROSTO, VACINA NO BRAÇO 

O Boletim InfoGripe Fiocruz, divulgado no dia 9, apontou para a tendência de aumento dos casos de COVID-19 entre as ocorrências de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), que corresponderam a 69% dos casos positivos para vírus respiratórios no acumulado de quatro semanas. “Em nível nacional, observa-se um cenário claro de crescimento no número de casos semanais de SRAG associados à COVID-19 em todas as faixas etárias da população adulta”, consta no boletim. 

Diante deste cenário, o pesquisador Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe, voltou a reforçar que a vacinação e o uso de máscaras são indispensáveis neste momento: “É fundamental que a população retome certas medidas simples e eficazes como o uso de máscaras, especialmente no transporte público, seja ele coletivo, seja individual – tais como ônibus, trem, metrô, barcas, táxis e transporte por aplicativos. E, quem ainda não tomou a dose de reforço da vacina, é preciso tomar”. 

Na última segunda-feira, o Ministério da Saúde anunciou que está liberada a aplicação da 2º dose de reforço contra o coronavírus (também conhecida como 4a dose geral) para pessoas a partir dos 40 anos. Na capital paulista, essa dose começa a ser aplicada na quarta-feira, 22, para aqueles entre 45 e 49 anos que tenham tomado a 1º dose de reforço há pelo menos quatro meses. Embora aqueles acima dos 50 anos já possam tomar esta 2º dose adicional, mais de 500 mil pessoas elegíveis a essa vacinação estão com a dose em atraso. 

MAIS EMPATIA E MENOS DESCUIDO 

Capelão da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e médico de formação, o Padre Tiago Gurgel do Vale afirma também ter percebido a alta de casos de COVID-19 em toda a cidade, com a maioria das pessoas apresentando sintomas leves por já estarem vacinadas contra o coronavírus. “Isso, porém, faz com que muitas transitem entre outras com sintomas gripais, espalhando o vírus por todos os locais por onde passam. Um outro ponto é o fato de que muitas pessoas estão comprando o teste de COVID-19 nas farmácias e fazendo o autoexame em casa. Muitas testam positivo e, mesmo assim, continuam indo trabalhar para não sofrerem consequências trabalhistas. Por isso, é muito importante que mantenhamos o uso de máscaras para obter uma proteção pessoal, tendo em vista que o vírus pode ser letal em pessoas com comorbidades, tais como a idade avançada, diabetes, câncer e outros”, analisou ao O SÃO PAULO

Padre Tiago ressaltou, ainda, que boa parte das pessoas, por considerar que o uso da máscara incomoda, apressaram-se em deixar de usá-la quando houve o anúncio de flexibilizações por parte das autoridades públicas: “Nas celebrações de casamentos, por exemplo, as pessoas não querem usar máscaras para não estragarem a maquiagem e para saírem bem nas fotos. O fato é que são muitos os argumentos utilizados por aqueles que não querem mais usar máscaras. E tudo isso se reflete, com certeza, no aumento do número de casos”, disse. 

Em todos os ambientes da Arquidiocese de São Paulo, o uso de máscaras continua a ser recomendado. Diante de eventuais resistências das pessoas em utilizar o item, Padre Tiago aconselha o caminho do diálogo. “Deve-se apelar para a empatia, ou seja, a capacidade que uma pessoa tem de vivenciar a dor e a alegria de outra, mesmo que a ligação entre elas não seja algo extraordinário, surreal ou familiar. Basta apenas que se tenha o coração aberto para entender que cada ser humano é único e passa por situações distintas, que acabam por moldá-lo. Nesse sentido, ao olharmos o ambiente de Igreja, vemos tantas pessoas idosas, outras enfermas, frágeis e que estão vulneráveis nos ambientes fechados dos nossos templos. A abordagem, portanto, consiste em conscientizar as pessoas sobre o risco que elas impõem às que são mais vulneráveis. É tentar falar ao coração”, comentou. 

BOM SENSO, PRUDÊNCIA E CARIDADE 

Durante a Solenidade de Corpus Christi, na Praça da Sé, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, lembrou aos fiéis que uma das lições aprendidas na pandemia é a do cuidado com a saúde: “Que não nos fixemos em fantasias conspiratórias, anticientíficas, até contrárias à boa razão. Cuidemos da saúde uns dos outros, isso é também questão moral e ética”. 

Ao cristão, de modo especial, o uso das máscaras diante do aumento de casos de COVID-19 é também um exercício da virtude de prudência. “O homem prudente decide e ordena sua conduta seguindo este juízo. Graças a esta virtude, aplicamos sem erro os princípios morais aos casos particulares e superamos as dúvidas sobre o bem a praticar e o mal a evitar” (Catecismo da Igreja Católica, §1806). 

Além disso, o uso de máscaras em ambientes fechados neste momento é também um gesto de caridade: “A ética cristã é inspirada no amor, ou seja, vai além dos princípios, das normas e das obrigações. Isso implica mais do que cumprir deveres ou seguir protocolos em resposta a um argumento fundamentado sobre o que deve ser feito, mas, muitas vezes, como um sacrifício heroico e dedicação total de suas vidas para fazer o bem ao outro. Esse grau de sacrifício de si mesmo se aproxima do grau de perfeição que a perfeita caridade exige e que o próprio Jesus demonstrou. 

Usar máscaras, por mais que seja incômodo ou desagradável, é uma forma de proteger o outro. Quem sabe se está infectado ou não? Diante dos sintomas de gripe, enquanto não se faz o exame, quem garante que você não está espalhando o vírus? Assim, usar máscaras nesse momento é uma prova de amor”. 

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