Por que existem quatro missas diferentes para celebrar o Natal do Senhor?

Vatican Media

No Natal, os cristãos celebram um dos mistérios centrais da sua vida, a encarnação da Filho de Deus, que assumiu a humanidade para salvar o seu povo. Após a Páscoa da Ressurreição, esta é a maior solenidade do ano litúrgico, período por meio do qual a Igreja celebra os acontecimentos marcantes da história da salvação, enquanto espera a vinda gloriosa do Senhor, no fim dos tempos.

A Igreja se utiliza da realidade temporal como orientação e marco para celebrar os santos mistérios. Esse tempo medido pelo relógio, pela contagem dos dias, anos e séculos, é chamado de cronológico, que vem da palavra grega chronos. No entanto, a liturgia está para além da cronologia do tempo, pois consiste na celebração de uma realidade eterna, da graça divina. Os gregos designam essa modalidade de tempo de kairós.

É nesse sentido que, em cada missa, os cristãos rompem os limites do tempo e do espaço ao atualizarem no presente o mistério da paixão, morte e ressurreição do Senhor. De igual modo, ao celebrar a solenidade do Natal, as diferentes fases do tempo cronológico ajudam os fiéis a vivenciarem em profundidade a graça do nascimento do Senhor na história. Por essa razão, existem quatro textos de missas distintas para os diferentes horários do solene dia do Natal do Senhor, 25 de dezembro.

MISSA DA VIGÍLIA

Seguindo a tradição judaica, os dias solenes na liturgia já começam com o pôr do sol do dia anterior (primeiras vésperas). Por isso, ao cair da tarde do dia 24, celebra-se a Missa da Vigília, cujos textos ressaltam a espera e a preparação do nascimento do Senhor, como destaca a antífona de entrada: “Hoje sabereis que o Senhor vem e nos salva; amanhã vereis a sua glória”.

Nessa celebração, o Evangelho segundo São Mateus (1,1-25) narra o mistério da encarnação a partir da figura de São José. O Evangelista apresenta a genealogia de Jesus, como José recebeu a notícia de que Maria estava grávida e, pela intervenção do anjo, ele se dispõe a obedecer aos planos de Deus, mesmo sem compreendê-lo.

MISSA DA NOITE

A celebração mais solene do Natal é a missa da Noite, que deve começar depois que o sol se pôs. Antigamente, essa celebração era popularmente conhecida como “Missa do Galo”, em referência ao canto da ave que teria anunciado o nascimento do Salvador. Em muitos lugares, mantém-se a tradição de celebrá-la à meia-noite. Porém, para facilitar a participação dos fiéis, atualmente, é celebrada mais cedo. Essa missa pode se estender noite adentro, porém, deve ser encerrada antes do nascer do sol.

Já a primeira leitura (Is 9,1-6) destaca: “O povo que andava na escuridão viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu”. O Evangelho segundo São Lucas (2,1-14), por sua vez, narra os eventos que ocorreram no nascimento de Jesus e os anjos que anunciam aos pastores: “Nasceu para vós um salvador, que é o Cristo Senhor”.

MISSA DA AURORA

Esta celebração deve acontecer ao nascer do sol, pois Jesus é o “sol nascente que nos veio visitar” e, assim como a luz que ilumina todos os espaços, a notícia do nascimento do Salvador se espalha. “Dizei à cidade de Sião: Eis que está chegando o teu salvador, com a recompensa já em suas mãos e o prêmio à sua disposição. O povo será chamado Povo santo, os Resgatados do Senhor; e tu terás por nome Desejada, Cidade não abandonada”, diz a primeira leitura (Is 62,11-12).

A continuação do Evangelho segundo São Lucas (2,15-20) agora faz o grande convite deste dia: “Vamos a Belém ver esse acontecimento que o Senhor nos revelou” e ainda relata que “os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, conforme lhes tinha sido dito”.  

MISSA DO DIA

Para concluir este dia solene, há a Missa do Dia de Natal, que é realizada depois que o sol nasceu até o final do dia. Nessa celebração, aprofunda-se o sentido teológico do nascimento de Jesus, expresso no prólogo do Evangelho segundo São João (1,1-18), que, ao invés de narrar a cronologia dos fatos da natividade, medita sobre o mistério da encarnação:

“No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus; e a Palavra era Deus […]. A Palavra estava no mundo — e o mundo foi feito por meio dela —, mas o mundo não quis conhecê-la. Veio para o que era seu, e os seus não a acolheram […]. E a Palavra se fez carne e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória, glória que recebe do Pai como Filho unigênito, cheio de graça e de verdade”.

ALEGRIA RENOVADA

Considerando as diversas circunstâncias pastorais, a participação em uma dessas quatro missas possibilita aos fiéis o cumprimento do preceito da Solenidade do Natal. No entanto, dada a importância e riqueza dessas liturgias, a Igreja recomenda vivamente que os fiéis participem de mais de uma celebração.

Vale recordar, ainda, que, assim como na Páscoa, a solenidade do Natal se estende por oito dias, na chamada Oitava do Natal, que se conclui com a Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus, em 1º de janeiro. Em cada um desses dias, o cristão renova e anuncia ao mundo a alegria do nascimento de Deus Salvador.  

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