São José: patrono da Igreja, pai de família e modelo para testemunhar a fé

A Igreja Católica conclui na quarta-feira, 8, o “Ano de São José”, iniciado em 2020 nesta data pelo Papa Francisco, com a publicação da carta apostólica Patris corde, com a proposta de “aumentar o amor por este grande Santo, para nos sentirmos impelidos a implorar a sua intercessão e para imitarmos as suas virtudes e o seu desvelo”.

Foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO

Na Patris corde, Francisco apresenta São José como pai amado, pai na ternura, na obediência e no acolhimento, pai de coragem criativa, trabalhador e na penumbra, pois “soube se descentralizar e colocar Maria e Jesus no centro da sua vida”

Durante todo o “Ano de São José”, muitos católicos na Arquidiocese de São Paulo peregrinaram a paróquias, comunidades e oratórios dedicados ao Santo, onde também esteve para presidir missas o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano.

PATRONO UNIVERSAL DA IGREJA

A Patris corde também foi publicada por ocasião dos 150 anos da declaração de São José como Patrono Universal da Igreja, ocorrida em 8 de dezembro de 1870, por meio do decreto Quemadmodum Deus, do Beato Pio IX.

No documento, aponta-se que, diante da sublime dignidade que Deus conferiu a São José, “a Igreja teve sempre em alta honra e glória o Beatíssimo José, depois da Virgem Mãe de Deus, sua esposa, implorando a sua intercessão em momentos difíceis”, razão pela qual os bispos e os fiéis solicitaram ao Papa Pio IX que constituísse São José como Patrono da Igreja Católica, e assim o fez o Pontífice diante da “funesta situação das coisas, para confiar a si mesmo e os fiéis ao potentíssimo patrocínio do Santo Patriarca José”.

Dois sucessores de Pio IX atribuíram outros títulos a São José: Pio XII, em discurso às Associações Cristãs dos Trabalhadores Italianos, em 1º de maio de 1955, declarou São José como Padroeiro dos Operários – “porque o humilde artesão de Nazaré não só personifica junto a Deus e à Santa Igreja a dignidade do trabalhador, mas é também sempre providente guardião vosso e de vossas famílias” – e São João Paulo II, na exortação apostólica Redemptoris custos, em 15 de agosto de 1989, declarou São José como o Guardião do Redentor – “aquele a quem Deus ‘confiou a guarda dos seus tesouros mais preciosos’. É para mim uma alegria cumprir este dever pastoral, no intuito de que cresça em todos a devoção ao Patrono da Igreja universal e o amor ao Redentor”.

O PAI DE FAMÍLIA

O “Ano de São José” foi vivido em meio ao “Ano Família Amoris laetitia”, iniciado em 19 de março, com o propósito de comemorar o 5º ano da exortação apostólica pós-sinodal Amoris laetitia e para que se reflita sobre o papel indispensável da família na sociedade. O encerramento será em 26 de junho de 2022.

Ao anunciar o “Ano Família Amoris laetitia”, em 27 de dezembro de 2020, o Papa Francisco lembrou que o Filho de Deus, como todas as crianças, teve a necessidade do calor de uma família, composta de pai e mãe, a família de Nazaré. “À imitação da Sagrada Família, somos chamados a redescobrir o valor educativo do núcleo familiar: ele deve se fundar no amor que sempre regenera as relações e abre horizontes de esperança. A comunhão sincera pode ser experimentada na família quando é uma casa de oração, quando os afetos são sérios, profundos e puros, quando o perdão prevalece sobre a discórdia, quando a dureza diária da vida é suavizada pela ternura mútua e pela serena adesão à vontade de Deus”, disse Francisco.

Na coluna “Encontro com o Pastor” publicada no O SÃO PAULO em 17 de março deste ano, o Cardeal Scherer exortou que no “Ano de São José” se pudesse “valorizar mais a presença de São José em nossas famílias e nossos lares. Os homens e esposos podem aprender muito de São José e se dirigir muitas vezes a ele, pedindo ajuda; assim também os namorados e noivos, os trabalhadores, os enfermos e todos os que têm responsabilidades sobre outras pessoas na Igreja e na sociedade”.

São João Paulo II, na Redemptoris custos, lembrou que a paternidade de São José “expressou-se concretamente ‘em ter feito da sua vida um serviço, um sacrifício, ao mistério da Encarnação e à missão redentora com o mesmo inseparavelmente ligada; em ter usado da autoridade legal, que lhe competia em relação à Sagrada Família, para lhe fazer o dom total de si mesmo, da sua vida e do seu trabalho; e em ter convertido a sua vocação humana para o amor familiar na sobre-humana oblação de si, do seu coração e de todas as capacidades, no amor que empregou ao serviço do Messias germinado na sua casa” (RC, 8).

MODELO PARA A FORMAÇÃO HUMANA DE JESUS

Na Patris corde, Francisco indica que “José ensinou Jesus a ser submisso aos pais (cf. Lc 2,51), segundo o mandamento de Deus (cf. Ex 20,12). Ao longo da vida oculta em Nazaré, na escola de José, Ele aprendeu a fazer a vontade do Pai. Tal vontade se torna o seu alimento diário (cf. Jo 4,34). Mesmo no momento mais difícil da sua vida, vivido no Getsêmani, preferiu que se cumprisse a vontade do Pai, e não a sua, fazendo-Se ‘obediente até a morte de cruz’ (Fl 2,8)”.

Na mesma carta, o Papa recorda que São José garantia o sustento de sua família trabalhando honestamente como carpinteiro. “Com ele, Jesus aprendeu o valor, a dignidade e a alegria do que significa comer o pão fruto do próprio trabalho.”

Na dissertação de mestrado “José no mistério da encarnação: aspectos teológico-pastorais para a paternidade responsável”, depois publicada como livro pela Paulus Editora, Marcionei Miguel da Silva, mestre em Teologia pela PUC-RS, analisa o papel determinante de São José para a educação de Jesus.

“José exercitou os seus deveres, entre os quais um dos mais importantes foi aquele que se refere à educação religiosa de Jesus. Segundo os costumes da época, José ensinou a Jesus as tradições nacionais, as quais em grande parte eram de natureza religiosa, assim como as prescrições dadas aos antepassados (Ex 10,2)… A vida de Jesus foi impregnada pelos exemplos e ensinamentos de José, sem excluir a educação profissional,” escreveu Silva.

INSPIRAÇÃO DIÁRIA PARA TODOS OS CRISTÃOS

O testemunho de São José em seguir os desígnios de Deus também foi destacado pelo Papa Bento XVI no Angelus de 19 de março de 2006: “O exemplo de São José é para todos nós um forte convite a desempenhar com fidelidade, simplicidade e humildade a tarefa que a Providência nos destinou. Penso, antes de tudo, nos pais e nas mães de família, e rezo para que saibam sempre apreciar a beleza de uma vida simples e laboriosa, cultivando com solicitude o relacionamento conjugal e cumprindo com entusiasmo a grande e difícil missão educativa. Aos sacerdotes, que exercem a paternidade em relação às comunidades eclesiais, São José obtenha que amem a Igreja com afeto e dedicação total, e ampare as pessoas consagradas na sua jubilosa e fiel observância dos conselhos evangélicos de pobreza, castidade e obediência”.

Em uma missa de 19 de março de 2009, Bento XVI lembrou o quanto São José pode inspirar cada cristão nas ações cotidianas: “Se o desânimo vos invadir, pensai na fé de José; se a inquietação se apoderar de vós, pensai na esperança de José, descendente de Abraão que esperava contra toda a esperança; se a aversão ou o ódio vos penetrar, pensai no amor de José, que foi o primeiro homem a descobrir o rosto humano de Deus na pessoa do menino concebido pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria”.

CATEQUESES SOBRE SÃO JOSÉ

Desde 17 de novembro, nas audiências-gerais de quarta-feira, o Papa Francisco tem feito catequeses sobre São José. Acesse na íntegra.

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