Sé, República e Cidade Dutra são os bairros onde vivem a maior parte dos refugiados atendidos pela Caritas

Dados estão no mais recente Mapa de Georreferenciamento de Pessoas em Situação de Refúgio lançado pela Caritas e o Acnur

Fotos: Caritas Arquidiocesana de São Paulo

A população de pessoas refugiadas atendidas pela Caritas Arquidiocesana de São Paulo (CASP) está majoritariamente concentrada na capital paulista, com predominância na região central da cidade.

Esta é uma das principais constatações do mais recente Mapa de Georreferenciamento de Pessoas em Situação de Refúgio, lançado pela CASP e o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), no dia 5, no Museu da Imigração, durante o evento “Políticas públicas a partir da territorialidade migrante”. 

A série trienal de mapas envolve o período de 2018 e 2020 e revela que a presença dessa população se estende do centro para a zona Leste, seguindo para zona Sul e seus extremos.

Esse fato fez os pesquisadores presumirem que estas comunidades de refugiados se estabeleceram na rota de importantes corredores de transporte público como metrô e trens –

sobretudo nas linhas 3 Vermelha e a Rubi; bem como próximo a equipamentos de abrigos, como o Centro Temporário de Acolhimento (CTA) São Mateus; e junto a comunidades de imigrantes já anteriormente estabelecidas, como a de sírios.

COMPREENSÃO DA REALIDADE E POLÍTICAS PÚBLICAS

Para a Coordenadora do Serviço de Acolhida e Orientação Refugiados da CASP, Talitha Iamamoto, o mapeamento mostra muito além das pessoas que vão para os abrigos, e permite questionar sobre o porquê em algumas regiões os “pontinhos” não aparecem: “Há pessoas nessas áreas que podem não conhecer os seus direitos e não saber que existem organizações, como a Caritas, que podem ajudá-los, por isso a importância de ir às comunidades e levar o nosso atendimento”.

De acordo com o Padre Marcelo Maróstica, Diretor da CASP, “o mapeamento é um meio fundamental para se entender a realidade das pessoas refugiadas. A partir desse território, É possível pensar políticas públicas nas mais variadas esferas como moradia, saúde, educação e inserção laboral, de forma que possam ir além da acolhida e se revertam em integração social”. 

Ao O SÃO PAULO, o Sacerdote enfatizou que “a política pública tem que ser vista a partir da territorialidade”, uma vez que, historicamente, todos os serviços públicos que atendem a população migrante e refugiada está localizada no centro da cidade. Entretanto, o mapa de georreferenciamento ressalta que a população também está presente em bairros do extremo das zonas Leste e Sul. 

Padre Marcelo recordou que municípios que antes não se deparavam com a chegada de migrantes e refugiados agora estão tendo de recebê-los e, assim, são despertados a pensar em uma política municipal para essa população, além de um comitê local e formas de acolhida e interiorização.  

Por fim, o Diretor da Caritas ressaltou que o mapa é um instrumental para ser trabalho junto com as subprefeituras, para que estas possam preparar os equipamentos e serviços de atendimento direto a essa população. 

DADOS

No georreferenciamento mais recente, o de 2020, os bairros com maior presença de pessoas refugiadas eram Sé, com 281; República, com 261; Cidade Dutra, com 251; Sapopemba, com 174; e Brás, com 167. 

Além disso, verifica-se também uma tendência a ocupação da porção Leste da capital, nos bairros do Sacomã, Ipiranga, Vila Prudente, São Mateus, Cidade Tiradentes, Guaianases, Itaquera, Penha e outros. 

Naquele ano, das 81 nacionalidades atendidas, venezuelanos, congoleses, colombianos e angolanos foram os com maior quantidade de registros. 

Dos 2.492 venezuelanos atendidos, 1.233 foram do sexo masculino e 1.244 do sexo feminino, que habitam a Cidade Dutra, São Mateus e Sapopemba, instalando-se nas bordas sul e leste do município. 

Já a nacionalidade síria, a segunda mais atendida pela CASP no ano de 2020, somou 378 atendimentos na cidade de São Paulo, sendo que mais de 50% foram do sexo masculino, habitando nos bairros do Brás, Belém e Ipiranga, na zona leste da capital. 

No mapa de atendimentos a congoleses, a terceira nacionalidade mais atendida, com 355 atendimentos, observa-se uma presença marcante na zona Leste. 

Já as nacionalidades colombiana e angolana se encontram mais dispersas pelo município, marcando presença nos bairros da Sé, República, Vila Maria, Itaquera e Santana. 

Victor Ayres, geógrafo e agente do Serviço de Acolhida e Orientação para Refugiados da CASP, conclui que a distribuição espacial das comunidades atendidas tem variado mais de acordo com as nacionalidades. Ele considerou ser fundamental que haja a descentralização da rede de serviços para melhor atender esta população, bem como envolver cada vez mais estas comunidades para bem saber de suas necessidades, bem como promover e apoiar políticas públicas.

NO ESTADO DE SÃO PAULO 

Em 2020, o registro de 4.621 endereços na cidade aponta que 67% da população analisada de uma mostra total de 6.865 beneficiários morava na capital paulista. Já em 2018, o percentual dos que habitavam a cidade de São Paulo era maior: 78%, de uma mostra total de 6.503 pessoas atendidas.

Embora a presença desta população na cidade de São Paulo e na Região Metropolitana ainda seja predominante, percebe-se uma descentralização. 

No mapa mais recente, observa-se que o registro da população atendida chegou a 66 municípios do Estado, com municípios do oeste paulista, Baixada Santista, Vale do Paraíba, Região Metropolitana de Campinas, Região Metropolitana de Sorocaba e Litoral Norte.

Em entrevista à rádio Jovem Pan, Victor Ayres ressaltou que o alto custo de vida impacta na decisão dos chegam em busca de uma vida nova. “Muitos ao chegar em São Paulo procuram ir para cidades médias ou pequenas para encontrar um ambiente mais tranquilo e barato”, destacou. 

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