Tema central e análise de conjuntura são destaques no primeiro dia de Assembleia da CNBB

(Reprodução de CNBB)

“O povo de Deus sofre com a doença e a fome” é o título da análise da conjuntura social e política apresentada ao episcopado brasileiro no início da sessão da tarde da 58ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), iniciada nesta segunda-feira, 12, que, devido à pandemia, acontece de forma on-line até sexta-feira, 16.

A apresentação foi conduzida pelo Bispo de Carolina (MA), Dom Francisco de Lima Soares, coordenador do grupo de Análise de Conjuntura da entidade.

A análise apresentada priorizou três temas: pandemia, economia e política brasileira. Dom Francisco frisou que trata-se de um texto oferecido aos bispos como uma leitura de especialistas das Pontifícias Universidades Católicas do Brasil organizados no grupo de análise da CNBB para subsidiar os pastores na leitura e compreensão da realidade brasileira.

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Humanidade à prova

Dom Francisco ressaltou que o mundo passava por uma crise econômica e por tensões políticas antes da pandemia e que o coronavírus foi um catalizador que aprofundou as desigualdades. “A sobrevivência da humanidade está colocada à prova”, disse.

“Todas as luzes de alerta estão ligadas quanto à pandemia”, afirmou o Bispo ao iniciar a reflexão sobre o primeiro ponto da análise. Ele chamou a atenção para dados do Observatório da COVID-19, da Fiocruz, que evidenciam as altas taxas de ocupação dos leitos de unidade de terapia intensiva. Também chamou a atenção para a rapidez do agravamento do colapso do sistema de saúde e a falta de assistência que tem impacto em outras formas de morte.

O bispo ressaltou as formas apontadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para evitar o avanço da pandemia: uso de máscara e limpeza das mãos; distanciamento social com lokcdown em casos mais graves; e vacinação em massa da população.

Crise sanitária e crise econômica

A análise apontou que os países mais bem sucedidos no enfrentamento à pandemia superaram a dicotomia entre crise sanitária e crise econômica. “Sem resolver a crise sanitária não haverá superação da crise econômica”, disse. Segundo a análise, as experiências bem sucedidas apontam que é impossível controlar a pandemia sem a manutenção de investimentos públicos e fomento à economia, com renda para as famílias e pequenos negócios, essenciais para a adesão das pessoas às práticas de isolamento social.

O Brasil, segundo o bispo de Carolina (MA), vai na contramão das experiências mais bem sucedidas de combate à Covid-19. “Os indicadores econômicos e a conjuntura política apontam na direção de aprofundamento da crise econômica e sanitária. Fome, miséria e desesperança também matam. E podem matar tantos ou mais do que a Covid-19. A crise social salta aos olhos, em especial nas periferias das grandes cidades”, apontou a análise.

Dois indicadores confirmam a análise: a inflação no mês de fevereiro, medida pelo IPCA – índice que considera as cestas de consumo das famílias brasileiras – subiu a 5,2% em 12 meses e a taxa de desocupação por faixa etária no Brasil. O bispo chamou a atenção para o número que dá conta de que 35 milhões de pessoas, com idade entre 25 e 39 anos, estão sem emprego.

A análise apontou ainda que o Brasil, além de uma série de problemas sociais, tem tido muita dificuldade em temas como a preservação do meio ambiente. Que há, em curso, uma simplificação bilateral da política, o que gera prejuízo à análise; Que o neoliberalismo transforma o cidadão em consumidor; e que está em curso uma decadência da esfera pública e com uma crescente ausência de respeito.

Igreja

A análise de conjuntura eclesial buscou avaliar a caminhada da Igreja a partir do conceito de “sinodalidade”, buscado pelo Papa Francisco como o caminho que Deus espera da Igreja no terceiro milênio. Sobre o tema, a equipe de Análise Eclesial da CNBB, coordenada pelo arcebispo de Brasília (DF), dom Paulo Cézar Costa, enviou também previamente um texto de reflexão para servir como subsídio aos bispos.

O membro da Comissão Teológica Internacional da PUC-Rio, Monsenhor Antônio Catelan, que também integra a Comissão Episcopal Pastoral para Doutrina da Fé da CNBB, abordou o tema do ponto de vista da história da Igreja, da teologia e do magistério do Papa Francisco.

Pilar da Palavra

Durante a  primeira entrevista coletiva essa Assembleia Geral, o Arcebispo de Curitiba (PR) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética, dom José Antônio Peruzzo, falou aos jornalistas sobre o tema central da Assembleia, que diz respeito ao Pilar da Palavra proposto pelas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE 2019-2023).

Mesmo sem a possibilidade de votação de um documento, os bispos refletiram sobre o texto “Casas da Palavra – Animação bíblica da vida e da pastoral nas comunidades eclesiais missionárias”.

De acordo com Dom Peruzzo, o tema da Palavra sempre volta aos estudos da Igreja por que ele nunca se esgota. Como exemplo ele citou que em 2007 os bispos da América Latina aprofundaram o tema no Documento de Aparecida, em 2008 , e que o Papa Bento XVI convocou uma Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos sobre a temática e a própria CNBB, em 2012, lançou o Documento nº 97 – ‘Discípulos e Servidores da Palavra de Deus na Missão da Igreja’. “Para nós cristãos, a Palavra é a ternura de Deus que se tornou letra. Então queremos partilhá-la. É constitutivo da nossa fé compartilhar o que cremos e reconhecemos como fonte de vida”.

(Fonte: CNBB)

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