Um olhar para a Igreja no caminho de comunhão, conversão e renovação missionária

Dom Pedro Cipollini, Bispo de Santo André (SP), assessora a 3º sessão da assembleia sinodal arquidiocesana, presidida pelo Cardeal Scherer
Luciney Martins/O SÃO PAULO

Na 3º sessão da assembleia sinodal arquidiocesana, realizada no sábado, 6, na Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação (Fapcom), na zona Sul, os participantes foram chamados a lançar um olhar conjuntural sobre a Igreja, de modo especial sobre a Igreja em São Paulo, à luz da Palavra de Deus e do Magistério, tendo atenção às circunstâncias atuais. 

Como nas sessões anteriores, a atividade começou com a celebração da Palavra, desta vez conduzida por Dom José Benedito Cardoso, Bispo Auxiliar da Arquidiocese. Ele destacou que a Igreja é missionária por natureza e que sempre precisa ouvir a voz do Espírito e discernir sobre os novos cenários e horizontes da missão. Na homilia, ao refletir sobre a leitura do livro do Apocalipse (Ap 3,14-22), em que o Senhor anuncia que está à porta e permanecerá com aqueles que abri-la, Dom José exortou: “Que abramos a porta para que o Senhor possa entrar, pois ele é o dono da casa, da Igreja e da cidade”. 

Ao saudar os participantes, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, convidou-lhes a pensar, a partir de tudo que já foi visto e ouvido na caminhada sinodal, em sugestões para que se concretize a comunhão, conversão e renovação missionária da Igreja em São Paulo. Na sequência, passou a palavra a Dom Pedro Carlos Cipollini, Bispo de Santo André (SP), diocese que realizou seu sínodo entre 2016 e 2017, e Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Doutrina da Fé da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Ele apresentou um olhar conjuntural sobre a Igreja no mundo e em São Paulo. 

IGREJA INSERIDA NA MUDANÇA DE ÉPOCA 

Inicialmente, Dom Pedro Cipollini enfatizou que é importante perceber os apelos de Deus à Igreja e os sinais dos tempos, para que se produzam respostas pastorais efetivas. 

Fazendo menções ao Documento de Aparecida e à encíclica Laudato si’, recordou que se vive uma mudança de época, marcada pelo aprofundamento da iniquidade social, pela busca do prazer físico, da catarse emocional e da estabilidade financeira; e pela relativização dos valores judaico-cristãos no Ocidente. 

Atenta a essas realidades, a Igreja tem feito reformas em suas estruturas, as quais estão sendo colocadas em prática no pontificado do Papa Francisco, em vista de uma nova missão evangelizadora, alicerçada em quatro fundamentos: a Teologia do mistério da encarnação como Cristologia essencial (a Igreja se encarna na realidade do tempo presente); consideração aos sinais do tempo (para que se possa evangelizar em uma cultura que não é mais predominantemente cristã), a alegria do Evangelho (que leva a Igreja a dialogar com todos, mas com atenção especial pelos mais fracos e necessitados) e um amplo chamado à conversão eclesial. “A proposta do Papa é uma Igreja de comunhão e participação, em vista da missão, mas não fechada em si mesma”, ressaltou o Bispo. 

EVANGELIZAÇÃO E SINODALIDADE 

Também há uma mudança de época na evangelização, com discussões sobre como viver a fé e anunciá-la. “O anúncio deve se concentrar no essencial e, também, no anúncio do Evangelho com testemunho de unidade”, comentou Dom Pedro. 

O Bispo de Santo André falou ainda que a Igreja sinodal é sempre mais parecida com Jesus quando testemunha o amor ágape. Destacou, também, que a sinodalidade “não é um plano a ser realizado ou uma decisão pastoral, mas, sobretudo, um estilo a ser encarnado”. 

Por fim, elencou três aspectos fundamentais para a evangelização: formar comunidades de amor-amizade e serviço (que testemunhem o amor cristão ao mundo); zelar pelo princípio da primazia de Jesus Cristo e da graça de Deus (uma Igreja que fale de Jesus, esteja Nele enraizada e seja a imagem do Deus vivo); e crer na força do Espírito Santo. 

O QUE NOS INTERPELA? 

Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, Bispo Auxiliar da Arquidiocese, listou – a partir das reflexões de Dom Pedro – alguns aspectos que devem interpelar a Igreja em São Paulo. 

Um deles é que, para renovar o serviço de evangelização e a vida pastoral, é preciso acolher e ouvir o clamor das pessoas, e escutar e discernir os apelos de Deus e da Igreja. 

Também deve ser considerado que o plano de amor de Deus continua vivo na missão da Igreja, “que é chamada a matar a fome e saciar a sede da humanidade”, sendo ela movida pela compaixão, misericórdia, defesa e promoção da vida, amor inclusivo e pela fraternidade e amizade social. 

Cabe ainda à Igreja revelar o rosto de Cristo, “pelo seu modo de ser e agir, na sua força espiritual, no caminhar juntos, no encontro e compromisso, nas opções pastorais concretas, na estrutura e organização que promova vocação e a missão de todos”. 

Também é fundamental que a Igreja não perca o essencial de sua missão, que é o cultivo da fé e a prática da caridade; e que se fortaleça a capilaridade eclesial existente na cidade, por meio das comunidades, famílias, pastorais e grupos de cristãos. 

CHEGAR AO CORAÇÃO DAS PESSOAS 

Na fala aberta em plenário, os participantes externaram a preocupação de que se chegue a um consenso sobre o agir evangelizador da Igreja na cidade, que considere novas práticas. Houve ainda indicativos para que se incentive cada católico a ser missionário nas realidades cotidianas em que está inserido. Também foi recordado o papel das pequenas comunidades eclesiais missionárias, para que trabalhem a comunhão, a missão e a iniciação à vida cristã; e que se estimule reflexões permanentes sobre o Magistério da Igreja e a prática de Jesus, que é centrada na misericórdia e na compaixão, e que se trabalhe para anunciá-lo a todos na cidade. 

“Nós tocaremos o coração das pessoas mostrando Jesus”, enfatizou Dom Pedro Cipollini, após as falas dos membros da assembleia. O Prelado ressaltou que o mais importante é que haja a conversão pessoal e pastoral, a fim de que todos na Igreja assumam a sinodalidade, sempre escutando uns aos outros e ao Espírito Santo. “O Espírito nos impele a nos questionar e nos dá o caminho a percorrer, basta que nos convertamos para aceitar o caminho que o Espírito indica”, concluiu. 

A HORA DAS PROPOSTAS CONCRETAS 

Na parte final da sessão, o Cardeal Scherer recordou que as propostas da assembleia sinodal devem ser pensadas para incidir na base da Igreja, as paróquias, onde estão os batizados, e a fé é concretamente vivida e assumida. 

“O que se põe agora diante de nós é: o que devemos fazer?”, enfatizou o Arcebispo Metropolitano, listando alguns pontos de atenção a serem considerados pelos membros da assembleia que nas duas próximas sessões – em 3 de setembro e 1º de outubro – realizarão os trabalhos nas 25 comissões temáticas: Como fazer para que melhor se acolha a Palavra de Deus? Para aprimorar a Catequese? Como realizar melhor a liturgia para que ela seja celebração do mistério da fé? Como ampliar a oferta aos sacramentos? Como fortalecer a Igreja na família? Como atrair a juventude? Como levar à maior incidência da Igreja na cultura e na comunicação? Como fortalecer as expressões do laicato e da vida consagrada? Como fazer para que as paróquias e comunidades vivam verdadeiramente a comunhão, conversão e renovação missionária? 

“Daqui em diante, que não se fale ‘a Igreja precisa’, mas, sim, como nós, que somos a Igreja, vamos fazer. Não bastam mais observações genéricas”, comentou. 

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