Há 70 anos, Dom Paulo Evaristo Arns concluía tese doutoral sobre a técnica do livro

Por Cleide Barbosa e Daniel Gomes

Divulgação

Após cinco anos de estudos na principal universidade francesa e uma das mais reconhecidas mundialmente, a Sorbonne, o Frei Paulo Evaristo Arns concluía, em 3 de maio de 1952, a tese doutoral “La Technique du Livre d’après Saint Jérôme” (A técnica do livro segundo São Jerônimo), da qual resultou um livro com o mesmo título publicado em 1953 pela Editora de Boccard. Somente em 1993 a obra seria traduzida para o português e publicada pela Imago Editora, quando o frade franciscano já era Arcebispo Metropolitano de São Paulo. 

Nas comemorações do centenário de nascimento do Cardeal Arns (1921-2016), as religiosas da Congregação das Franciscanas da Ação Pastoral, cuja nova província no Brasil foi iniciada com o apoio de Dom Paulo, em 1972, têm se empenhado em colocar em evidência a vasta produção literária de Dom Paulo, composta por 57 obras, entre as quais “A técnica do livro segundo São Jerônimo”. 

“Um dos meios de tornar Dom Paulo mais conhecido é trazer presente o seu legado escrito, ou seja, o que ele próprio escreveu e traduziu, já que também era um grande tradutor”, destacou a Irmã Ivaldete Rodrigues, Superiora-geral da Congregação das Franciscanas da Ação Pastoral, em entrevista à rádio 9 de Julho

ESTUDO DETALHADO 

Em linhas gerais, em “A técnica do livro segundo São Jerônimo”, Dom Paulo detalha minuciosamente o processo de composição de uma obra literária, desde os instrumentos materiais necessários, as peculiaridades do texto, bem como os modos para difundi-la e conservá-la, com base nos escritos de São Jerônimo (340- 420), doutor da Igreja que foi o responsável pela tradução da Bíblia para o latim, corrigindo imperfeições de linguagem e as imprecisões sobre as diferentes traduções disponíveis até então. A tradução de São Jerônimo, também conhecida como “Vulgata”, foi a Bíblia oficial para a Igreja Católica durante 15 séculos. 

Dom Paulo, ao fazer um estudo detalhado sobre o técnica do livro a partir de São Jerônimo, acabou por reconstruir a história da produção das obras literárias nos séculos IV e V, e suas reverberações para as gerações futuras. 

“Toda pessoa que pensa em editar um livro ou mesmo fazer um trabalho científico deveria ler esta obra de Dom Paulo, que contém cinco capítulos bem distintos e práticos na execução”, comenta Irmã Ivaldete. 

No primeiro, “Papiro, pergaminho, tabuleta, estilete”, Dom Paulo trata sobre as características e origens da utilização de materiais com os quais os livros eram compostos até a época de São Jerônimo. 

“Ditado, transcrição e acabamento” é o título do segundo capítulo, que trata sobre a redação de conteúdo. Há detalhamentos sobre as características dos textos, bem como do ofício dos copistas, aqueles que faziam a transcrição das obras. Fala-se, ainda, das peculiaridades para o acabamento. 

O terceiro capítulo “Edição” discute sobre em que consiste uma publicação, apresentando algumas formas do livro, com suas subdivisões. O quarto capítulo trata da difusão da obra produzida. Nele, é recordado um princípio defendido por São Jerônimo: não existe atividade literária sem difusão, de modo que um livro escrito não deve ser escondido. 

No último capítulo, “Livro e os Arquivos”, Dom Paulo mostra a preocupação de São Jerônimo com os lugares onde devem ser conservadas as obras literárias. “Dom Paulo apresenta a autenticidade dos livros e alguns princípios para reconstituição de textos e o arquivamento do material”, afirma Irmã Ivaldete. 

PARTILHA DE SABERES 

“Neste primeiro livro, assim como em todos os seus escritos, Dom Paulo segue uma frase muito clássica de São Jerônimo: ‘Na oração, falamos com Deus. Na boa leitura, é Deus que nos fala’”, recorda Irmã Ivaldete. 

A Superiora-geral da Congregação das Franciscanas da Ação Pastoral lembra que Dom Paulo, em seus escritos, sempre se manteve alinhado aos princípios de comunhão, participação, comunicação e diálogo propostos pelo Concílio Vaticano II: “Dom Paulo foi o homem da cultura, do diálogo, da participação, do envolvimento, enfim, dessa partilha. Não guardava o saber apenas para si; procurava ajudar as pessoas que tinham o desejo de um aprofundamento em algum tema”, prossegue Irmã Ivaldete. 

Surgida na Alemanha, no século XIII, a Congregação das Franciscanas da Ação Pastoral enviou suas primeiras religiosas ao Brasil em 1921 e instituiu uma província no País em 1937, com sede em Pindamonhangaba (SP). Em 1968, a Província foi desmembrada da Alemanha, e Dom Paulo Evaristo Arns, então Bispo Auxiliar de São Paulo, foi designado como seu primeiro interventor-geral. Em 4 de outubro de 1972, a nova congregação obteve aprovação canônica na Santa Sé, tendo seu decreto de fundação promulgado por Dom Paulo, na época já Arcebispo Metropolitano. Hoje, realiza ações pastorais e evangelizadoras em São Paulo, Goiás, Maranhão e Pará.

“Dom Paulo nos acompanhou quando estávamos em formação para a nova  congregação. Assim, neste centenário de seu nascimento e neste jubileu de 50 anos da nossa congregação, estamos apresentando este material sobre ele que temos em nossa sede, no bairro do Tatuapé, e pretendemos fazer mais levantamentos sobre suas obras. Queremos fazer lives sobre os 57 livros, apresentando-os de uma forma bem sucinta, para motivar as pessoas a buscarem esse conhecimento, toda essa cultura que Dom Paulo deixou para nós, as irmãs da Ação Pastoral, bem como para o Brasil e o mundo, afinal, ele foi um homem internacional”, concluiu Irmã Ivaldete. 

Outros detalhes sobre a congregação podem ser vistos em https://congregacaofap.com.br

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