A descarbonização é uma das metas do setor industrial

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Ano a ano, tem crescido os esforços para que haja a descarbonização da indústria brasileira.

Entretanto, para alcançar o deseja­do equilíbrio entre a emissão dos GEE e sua completa absorção, serão ne­cessários investimentos da ordem de R$ 40 bilhões até 2050, conforme um estudo recente divulgado pela Confe­deração Nacional da Indústria (CNI).

“A indústria brasileira reúne con­dições únicas para ser uma das líderes mundiais da baixa emissão de carbo­no e da sustentabilidade”, assegurou Ricardo Alban, presidente da CNI, em um evento realizado em dezem­bro. Ele também destacou que com um setor industrial “mais inovador, dinâmico e competitivo, o Brasil po­derá crescer de forma vigorosa e sus­tentável e gerar renda e empregos”.

Por meio de estudos técnicos e de­bates, o Instituto E+ Transição Ener­gética (https://emaisenergia.org) tem ajudado a pensar políticas públicas de transição energética no Brasil, espe­cialmente para o setor industrial.

Edlayan Passos, especialista em energia do Instituto, comenta que uma das opções que mais tem se apresentado é a substituição de com­bustíveis fósseis pelo hidrogênio de baixa emissão de carbono. “Este é um insumo capaz de fazer a redução de hard-to-abate sectors, que são setores de difícil abatimento de emissões de carbono. Também se discute a utili­zação do biogás como insumo indus­trial; e se debate, ainda, sobre o maior uso da eletrificação nos transportes e na indústria”, detalhou ao O SÃO PAULO.

Maior rentabilidade

Passos destaca que embora o uso de combustíveis fósseis na indústria hoje resulte em um produto final com um custo mais vantajoso, este panora­ma tende a mudar.

“Com os novos padrões interna­cionais, quando se produz um produ­to com uma ‘pegada de carbono’ ele­vada, tem se tornado comum haver a taxação deste carbono, e é o que passa­rá a fazer a União Europeia em relação a produtos importados, por exemplo. Ou seja: dois produtos iguais, porém com ‘pegada de carbono’ diferente, te­rão preços diferenciados, e aquele que tiver mais carbono vai ter um custo maior. Assim, o empresário que hoje opte por produzir um produto com menor ‘pegada de carbono’ terá gan­hos de competitividade”, enfatiza.

Passos lembra, ainda, que muitas indústrias têm investido em equipa­mentos menos poluentes, também com o objetivo de reduzir custos: “Quando a empresa adquire um equi­pamento com eficiência maior, isso já levará a um menor gasto de insumos para gerar a mesma quantidade de energia. Temos aqui, portanto, um ga­nha-ganha, pois com mais eficiência se gastará menos insumo para produ­zir algo, e com menor poluição”.

O especialista do Instituto E+ Transição Energética destaca que o Brasil tem um imenso potencial de crescimento e cita como exemplo o mercado de placas fotovoltaicas.

“Atualmente, na cadeia da indús­tria fotovoltaica, o Brasil apenas fabri­ca o silício metálico. Este material tem de ir para fora do País para ser refina­do e virar célula fotovoltaica e painel. Hoje, esse processo de refinamento é feito na maioria das vezes na China e lá se gasta muita energia a carvão ou óleo combustível. Entretanto, diante desses novos padrões internacionais, haverá maior procura por lugares onde essa produção seja feita com energia limpa e a preço competitivo, e é neste aspecto que o Brasil pode ser atrativo. Até faço um paralelo: se no passado a China foi a grande vence­dora da globalização por produzir em grande escala e a custo muito barato, o Brasil pode ser o grande vencedor deste processo ambiental, pois tem a vantagem de energia limpa e a preço competitivo”, ressalta.

Edlayan Passos lembra, porém, que deve haver a conjunção de esfor­ços do poder público e do empresaria­do. “É muito importante que os esta­dos estejam prontos para fazer planos de descarbonização: inicialmente tra­çando um diagnóstico; depois, iden­tificando potencialidades regionais, sabendo em seu espaço quais são as cadeias produtivas que estão poluin­do mais, bem como as que estão mais vulneráveis às novas configurações de mercado”, conclui.

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