A responsabilidade dos cristãos no cuidado da Casa Comum

Vatican Media

Já é suficiente para os nossos tempos que existam pessoas que se obstinem em negar aquilo que já se sabe sobre a degradação do meio ambiente e a responsabilidade do ser humano nesses novos fenômenos climáticos. Mas existe uma outra questão, talvez mais antiga do que essa e que, de maneira mais surpreendente ainda, ocupa lugar nas preocupações atuais sobre a proposta do saudoso Papa Francisco de cuidar da Casa Comum: Há muita gente que acredita piamente que, ainda que as implicações da ação humana causassem as mudanças climáticas que experimentamos atualmente, isso deveria ser cuidado no âmbito do profano e não do sagrado, que isso não seria assunto relevante ou conexo com a fé cristã.

Entretanto, já prenunciava o Concílio Vaticano II: “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração. Porque a sua comunidade é formada por homens, que, reunidos em Cristo, são guiados pelo Espírito Santo na sua peregrinação em demanda do reino do Pai, e receberam a mensagem da salvação para a comunicar a todos. Por esse motivo, a Igreja sente-se real e intimamente ligada ao gênero humano e à sua história” (constituição pastoral Gaudium et Spes 1). 

Além disso, a Encarnação do Filho de Deus, de certo modo, eliminou as fronteiras entre o sagrado e o profano. Assim dizia São João Paulo II: “Na realidade, só no mistério do Verbo Encarnado se esclarece verdadeiramente o mistério do homem. (…) Ele é o homem perfeito, que restitui aos filhos de Adão a semelhança divina, deformada desde o primeiro pecado. Já que Nele a natureza humana foi assumida, sem ter sido destruída, por isso mesmo também em nosso benefício ela foi elevada a uma dignidade sublime. Porque, pela sua Encarnação, Ele, o Filho de Deus, uniu-se de certo modo a cada homem. Trabalhou com mãos de homem, pensou com uma mente de homem, agiu com uma vontade de homem e amou com um coração de homem. Nascendo da Virgem Maria, Ele tornou-se verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, exceto no pecado. Ele, o Redentor do homem” (encíclica Redemptor Hominis 8). 

Portanto, não há realidade humana que seja estranha à Redenção trazida pela Encarnação do Verbo. Daí o ensinamento oportuno do Papa Francisco de que, se pelo simples fato de serem humanas, as pessoas se sentem movidas a cuidar do ambiente de que fazem parte, os cristãos, em particular, advertem que a sua tarefa no seio da criação e os seus deveres em relação à natureza e ao Criador fazem parte da sua fé. Por isso é bom, para a humanidade e para o mundo, que nós, crentes, conheçamos melhor os compromissos ecológicos que brotam das nossas convicções (cf. encíclica Laudato si’ 64; cf. também São João Paulo II, Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1990).

Além disso, ressoam também para nós as palavras de São Paulo: “De fato, toda a criação espera ansiosamente a revelação dos filhos de Deus; pois a criação foi sujeita à vaidade, não por seu querer, mas por dependência daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação seja libertada da escravidão da corrupção, em vista da liberdade da glória dos filhos de Deus. Com efeito, sabemos que toda criação, até o presente, está gemendo como que em dores de parto. E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, gememos em nosso íntimo, esperando a adoção filial, a redenção de nosso corpo” (Rm 8,19-23).

SOBRE O AUTOR
Dom Rogério Augusto das Neves é Bispo Auxiliar na Arquidiocese de São Paulo e vigário episcopal para a Região Sé. Também é o referencial arquidiocesano para a Campanha da Fraternidade.

Deixe um comentário