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“O urgente desafio de proteger a nossa casa comum inclui a preocupação de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral”, escreve o Papa Francisco na encíclica Laudato si’ (LS), publicada em maio de 2015, na qual o Pontífice também convida toda a humanidade a “renovar o diálogo sobre a maneira como estamos construindo o futuro do planeta. Precisamos de um debate que nos una a todos, porque o desafio ambiental, que vivemos, e as suas raízes humanas dizem respeito e têm impacto sobre todos nós” (LS 13-14).
Nesses quase dez anos, as reflexões do Pontífice na encíclica reverberaram em todo o mundo, sendo inclusive mencionadas nas discussões internacionais sobre as razões e as consequências das mudanças climáticas; e consideradas em programas educativos referentes à temática ambiental, dos quais a escola, a família, os meios de comunicação e a própria Igreja são chamados a participar (cf. LS 213).
A IGREJA ORIENTA E FAZ A ‘LIÇÃO DE CASA’
Na encíclica, Francisco aponta que “compete à política e às várias associações um esforço de formação das consciências da população [sobre o cuidado com a casa comum]. Naturalmente, compete também à Igreja. Todas as comunidades cristãs têm um papel importante a desempenhar nessa educação… Tendo em conta o muito que está em jogo, do mesmo modo que são necessárias instituições dotadas de poder para punir os danos ambientais, também nós precisamos nos controlar e educar uns aos outros” (LS 214).
Nessa perspectiva, esta edição do Caderno Laudato si’ – por uma Ecologia Integral retrata ações de sustentabilidade realizadas de modo direto em paróquias: a instalação de placas fotovoltaicas em uma igreja na zona Leste da capital paulista, bem como em paróquias da Arquidiocese de Natal (RN) e da Diocese de Piracicaba (SP), e um projeto desenvolvido pela Pastoral da Ecologia Integral do Regional Sul 2 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com vistas a dar a destinação ambientalmente correta aos resíduos gerados nas festas paroquiais no estado do Paraná e promover a consciência ambiental sobre o uso excessivo de itens descartáveis.
Destaque-se que o próprio Vaticano tem empenhado esforços concretos para o cuidado com a casa comum. Até 2030, todos seus veículos serão complemente livres de emissões de gases de efeito estufa, o que inclui o papamóvel: em 4 de dezembro do ano passado, a montadora Mercedes-Benz entregou ao Papa um novo modelo, 100% elétrico, em substituição ao papamóvel anterior, movido a gasolina.
A CULTURA ECOLÓGICA NAS PARÓQUIAS
Pensar o cuidado com a casa comum a partir das paróquias é especialmente significativo no ano em que a Campanha da Fraternidade (CF 2025) aborda o tema da Ecologia Integral, trazendo entre seus objetivos específicos “propor a Ecologia Integral como perspectiva de conversão e elemento transversal às dimensões litúrgica, catequética e sociotransformadora do compromisso cristão” e incentivar as pastorais e os movimentos para a busca da “justiça socioambiental e da atuação socioeducativa”.
Nessa perspectiva, é oportuno revisitar a publicação “10 formas de a sua paróquia ser ecológica”, elaborada em 2020 pelo Movimento Laudato si’, que congrega católicos e pessoas de boa vontade em todo o mundo, dispostos a ajudar a humanidade a trilhar um caminho de conversão ecológica.
As dez dicas, já adotadas em igrejas de diferentes países, podem ser lidas em https://laudatosimovement.org/pt.
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Entre as ações estão a formação de uma equipe de cuidado com a criação, para identificar questões ambientais de preocupação na paróquia e planejar e realizar projetos e atividades de âmbito paroquial; o monitoramento do uso da energia, combatendo desperdícios – seja pelo simples hábito de somente acender as luzes dos ambientes quando for necessário, seja fazendo esse controle com termostatos programáveis e sensores de luz e movimento, bem como controlando o acionamento e a temperatura ideal do aparelho de ar-condicionado. No que se refere à gestão da água, algumas experiências exitosas são o controle permanente de vazamentos e o reaproveitamento da água das chuvas.
No site do Movimento é citado o caso da Paróquia Santa Teresa d’Ávila, na Califórnia, Estados Unidos, que com a substituição das lâmpadas convencionais por modelos mais eficientes e com a adição de isolamento em um convento alcançou as economias de 36% no consumo de gás natural, de 8% em eletricidade e de 18% no custo total de energia.
Na lista dos dez passos para “uma paróquia mais ecológica” também está a eliminação do uso de combustíveis fósseis, seja nos veículos, seja na compra priorizada de itens cujo processo de produção pouco utilize esses insumos; além da transição para a energia renovável, como fez a Paróquia São Pedro, em Maharashtra, na Índia, que instalou 165 painéis solares na igreja e no terraço, abastecendo o espaço celebrativo, a escola pertencente à Paróquia e outros edifícios vinculados, a partir de um investimento que em sete anos será recompensando com a economia de energia obtida nesse período.
Outras ações listadas no site do Movimento envolvem o favorecimento de reflexões sobre as questões ambientais e o próprio estudo da encíclica Laudato si’, com vistas a uma efetiva conversão ecológica coerente com a fé católica que é professada pelos fiéis.
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Conforme destaca o Papa Francisco na Laudato si’, o engajamento das pessoas no cuidado com a casa comum só será efetivo a partir de um processo de educação ambiental que leve à mudança de hábitos de vida e de consumo.
“A doação de si mesmo em um compromisso ecológico só é possível a partir do cultivo de virtudes sólidas… É muito nobre assumir o dever de cuidar da criação com pequenas ações diárias, e é maravilhoso que a educação seja capaz de motivar para elas até dar forma a um estilo de vida. A educação na responsabilidade ambiental pode incentivar vários comportamentos que têm incidência direta e importante no cuidado do meio ambiente, tais como evitar o uso de plástico e papel, reduzir o consumo de água, diferenciar o lixo, cozinhar apenas aquilo que razoavelmente se poderá comer, tratar com desvelo os outros seres vivos, servir-se dos transportes públicos ou partilhar o mesmo veículo com várias pessoas, plantar árvores, apagar as luzes desnecessárias” (LS 211).